Não há coisa mais bonita que ver as camisolas azuis e
brancas do FC Porto a fluírem em jogo, vendo-se essas lindas camisolas com
aquelas duas listas azuis apreciáveis, bem sintonizadas ao branco restante,
mexendo-se na linha da bola, a dar corpo ao que isso motiva e produz. Tal como,
já desde inícios dos anos sessentas, o encanto portista começou a tomar conta
dos pensamentos de alguém, quando em criança começou a despertar esse
sentimento único aqui no íntimo do autor destas linhas. E já nessa fase do
campeonato da vida começaram a tornar-se apreciáveis diversos jogadores do
Porto, aos olhos de quem foi memorizando tudo. Passando assim diante dos olhos
da recordação alguns futebolistas marcantes, quais Hernâni, Arcanjo, Carlos
Duarte, Virgílio, Perdigão, Américo, Azumir, Pinto, Jaime, etc, etc. e… Luís
Roberto.
Estava-se em tempo de ainda estar de fresco a conquista do Campeonato
Nacional de futebol em 1959, de modo épico, como ficou para a história. E os nomes
de Luís Roberto, Hernâni, Virgílio, Arcanjo, Acúrcio, Monteiro da Costa, Teixeira,
Noé, Carlos Duarte, Barbosa, Osvaldo Silva, Perdigão, Pedroto, Gastão, Américo, Morais, irmãos Sarmento, etc, ainda estavam bem nas recordações passadas em
conversas, que os mais pequenos ouviam aos amigos e familiares maiores.
Ora nos alvores da década de sessenta, por esses tempos de
princípio dos anos românticos da música lançada por artistas de cabelos compridos
e roupas largueironas, o futebol em Portugal era algo em expansão, mas à imagem
do regime político deveras restringido, ante o poder reinol dependente dos
clubes de Lisboa. Eram épocas atrás de épocas com o sistema BSB a dominar tudo,
na linha do regime mantido à lei da rolha. Havendo, tal como no tempo da
Romanização em que os historiadores romanos referiam que na Ibéria havia um povo que
não se deixava dominar, os Lusitanos, também nesse período do Estado Novo português se sabia
que, a Norte de Portugal, havia um clube, o Futebol Clube do Porto, que não se deixava ir na torrente do
obscurantismo e fazia das fraquezas forças para lutar contra a situação. Não
admirando que, então, os jogadores dos clubes lisboetas fossem propagandeados
por tudo quanto era sítio, quão já a televisão e jornais só promoviam nomes do
Benfica, Sporting e Belenenses. De modo que grandes astros que jogavam no FC
Porto eram mais conhecidos e reconhecidos entre os adeptos portistas. Mas mesmo
assim, em sinal de sua valia, passando sua imagem além fronteiras e, de modo
especial, pelos tempos além. Como ocorreu com um dos brasileiros que em finais
dos anos cinquentas, até princípios dos anos sessentas, ficou na memória
portista, sendo um dos paradigmas memoriais do século XX no seio da nação azul
e branca das Antas. Como foi e é o caso de Luís Roberto, que jogou no FC Porto
nessas eras, figurando nas memórias do mundo afeto ao clube Dragão.
Pois no princípio da década dos anos 60 começava eu a
sentir-me portista. E entre os jogadores que comecei a saber que eram do Porto
lá estava Luís Roberto – de porte firme e simpático, quão nos cromos que vinham
com rebuçados, que eu começava também a colecionar, aparecia diante dos meus
olhos com cara de artista de cinema, como eu ia vendo em filmes o artista a fazer olhos a quaisquer raparigas, irradiando atração.
Luís Roberto, vindo do Brasil, firmou-se assim como um
verdadeiro nome do FC Porto para sempre ser recordado.
De seu nome completo Luís Roberto Alves da Silva, nasceu no
dia 4 de Março de 1934 na cidade de Alegre, no Estado do Espírito Santo, no
Brasil.
Lá na sua região do Brasil foi juvenil do Botafogo (Belo Horizonte), como do “Sete
de Setembro” também de Belo Horizonte e ainda no América Mineiro. Depois também
nos Juvenis e Juniores do Flamengo, do Rio de Janeiro. Passando de seguida à
categoria de aspirantes, já com contrato. E por fim à categoria de Honra, no carioca
Clube de Regatas Flamengo. E do Flamengo, com a fama entretanto granjeada, como médio (centro campista) de grande valor, veio
para o FC Porto.
Representou o Futebol Clube do Porto durante três épocas,
entre 1958/59, 1959/60 até 1960/61. Tendo-se mantido ainda na cidade do Porto
mais tempo, de modo que teve uma homenagem, através de festa de despedida em
pleno estádio das Antas, em Março de 1962.
Da correspondente ficha identificativa sobre Luís Roberto,
anotamos, com a devida vénia, do blogue “Estrelas do FCP” de Paulo Moreira:
«A sua estreia com a camisola dos Dragões aconteceu no dia
21 de Setembro de 1959 no Campo Estrela onde os portistas venceram o Lusitano
Ginásio Clube de Évora por 2-1, numa partida a contar para a 2ª jornada do
Campeonato Nacional da época de 1958/59.
Logo na sua primeira temporada ao serviço dos portistas Luís
Roberto sagrou-se Campeão Nacional. Os Dragões venceram o último jogo do
campeonato em Torres Vedras contra o S.C. União Torreense por 3-0 mas tiveram
ainda que esperar mais 8 minutos para que o árbitro da partida entre o S.L.
Benfica e o G.D. Cuf, Inocêncio Calabote, terminasse o encontro para assim
poderem festejar a conquista do título. Um título que teve apenas um golo de
Luís Roberto, foi na 21ª jornada quando o F.C. Porto recebeu e venceu o S.C.
Covilhã por 5-2. Em 1959/60 e 1960/61 o médio portista conquistou a Taça
Associação de Futebol do Porto. Nas três épocas em que esteve ao serviço do
F.C. Porto, Luís Roberto disputou 56 partidas e marcou 3 golos.
Palmarés
1 Campeonato Nacional 1ª Divisão (Portugal)
3 Taças Associação de Futebol do Porto»
De seu livro biográfico, que lhe foi dedicado em Portugal pela
coleção “Ídolos do Desporto”, em Janeiro de 1961, retemos algumas passagens e imagens,
como ilustração a preceito.
Complementa-se esta evocação com imagens dos Campeões de
1958/59, respeitantes a duas equipas usadas durante a época – uma (a seguir, abaixo) publicada
numa revista estrangeira e a outra (mais acima) em poster publicado nesse tempo (de arquivo físico do próprio autor deste blogue, tal como o livro da coleção Ídolos do Desporto).
Luís Roberto, o “Roberto do Porto”, acabou a carreira
prematuramente devido a uma lesão grave, sofrida num jogo FC Porto-Académica em
pleno relvado das Antas, em Março de 1961. Da qual não recuperou de modo a
poder continuar a jogar.
Teve depois, por fim, em reconhecimento de quanto representou sua participação no FC Porto, uma festa de homenagem, como despedida, a 6 de Março de 1962. Incluindo programa festivo, que meteu provas de ciclismo (na pista então existente em volta do relvado do estádio das Antas), e como prato de cartaz um jogo entre o FC Porto e o Benfica, terminado com o resultado de 1-0 a favor do FC Porto.
Como curiosidade, esse festival de homenagem e despedida a
Luís Roberto realizou-se a uma terça-feira, que não foi dia de trabalho normal,
pois era Dia de Carnaval. Ocorrência a calhar devidamente, atendendo ao
homenageado ser natural da cidade brasileira de Alegre, e por o carnaval ser
deveras alegre no Brasil, até parecendo que a linha da vida se tornava
contagiante nos melhores sentidos.
Desse acontecimento, juntamos também alguns recortes
correspondentes (através de mediação do portista amigo Paulo Jorge Oliveira, graças
a seus contactos com um filho de Luís Roberto, por meio de boa partilha
informática).
= Bilhete da Festa de Homenagem a Luís Roberto. Com jogo de resultado: FC Porto, 1 - SLB, 0 =
= Na despedida, com as chuteiras na mão, saudando o público
presente nas Antas (rodeado por Cavém, do Benfica, e Perdigão, Virgílio e Hernãni, colegas do FC Porto).
Depois de acabar a carreira como futebolista e haver
regressado ao Brasil, tornou-se empresário no comércio.
Luís Roberto faleceu em fevereiro de 2003, aos 68 anos, em
Belo Horizonte.
ARMANDO PINTO
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