Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Luís Roberto – Um dos “Artistas” Campeões de 1959 pelo FC Porto


Não há coisa mais bonita que ver as camisolas azuis e brancas do FC Porto a fluírem em jogo, vendo-se essas lindas camisolas com aquelas duas listas azuis apreciáveis, bem sintonizadas ao branco restante, mexendo-se na linha da bola, a dar corpo ao que isso motiva e produz. Tal como, já desde inícios dos anos sessentas, o encanto portista começou a tomar conta dos pensamentos de alguém, quando em criança começou a despertar esse sentimento único aqui no íntimo do autor destas linhas. E já nessa fase do campeonato da vida começaram a tornar-se apreciáveis diversos jogadores do Porto, aos olhos de quem foi memorizando tudo. Passando assim diante dos olhos da recordação alguns futebolistas marcantes, quais Hernâni, Arcanjo, Carlos Duarte, Virgílio, Perdigão, Américo, Azumir, Pinto, Jaime, etc, etc. e… Luís Roberto.

Estava-se em tempo de ainda estar de fresco a conquista do Campeonato Nacional de futebol em 1959, de modo épico, como ficou para a história. E os nomes de Luís Roberto, Hernâni, Virgílio, Arcanjo, Acúrcio, Monteiro da Costa, Teixeira, Noé, Carlos Duarte, Barbosa, Osvaldo Silva, Perdigão, Pedroto, Gastão, Américo, Morais, irmãos Sarmento, etc, ainda estavam bem nas recordações passadas em conversas, que os mais pequenos ouviam aos amigos e familiares maiores.


Ora nos alvores da década de sessenta, por esses tempos de princípio dos anos românticos da música lançada por artistas de cabelos compridos e roupas largueironas, o futebol em Portugal era algo em expansão, mas à imagem do regime político deveras restringido, ante o poder reinol dependente dos clubes de Lisboa. Eram épocas atrás de épocas com o sistema BSB a dominar tudo, na linha do regime mantido à lei da rolha. Havendo, tal como no tempo da Romanização em que os historiadores romanos referiam que na Ibéria havia um povo que não se deixava dominar, os Lusitanos, também nesse período do Estado Novo português se sabia que, a Norte de Portugal, havia um clube, o Futebol Clube do Porto, que não se deixava ir na torrente do obscurantismo e fazia das fraquezas forças para lutar contra a situação. Não admirando que, então, os jogadores dos clubes lisboetas fossem propagandeados por tudo quanto era sítio, quão já a televisão e jornais só promoviam nomes do Benfica, Sporting e Belenenses. De modo que grandes astros que jogavam no FC Porto eram mais conhecidos e reconhecidos entre os adeptos portistas. Mas mesmo assim, em sinal de sua valia, passando sua imagem além fronteiras e, de modo especial, pelos tempos além. Como ocorreu com um dos brasileiros que em finais dos anos cinquentas, até princípios dos anos sessentas, ficou na memória portista, sendo um dos paradigmas memoriais do século XX no seio da nação azul e branca das Antas. Como foi e é o caso de Luís Roberto, que jogou no FC Porto nessas eras, figurando nas memórias do mundo afeto ao clube Dragão.


Pois no princípio da década dos anos 60 começava eu a sentir-me portista. E entre os jogadores que comecei a saber que eram do Porto lá estava Luís Roberto – de porte firme e simpático, quão nos cromos que vinham com rebuçados, que eu começava também a colecionar, aparecia diante dos meus olhos com cara de artista de cinema, como eu ia vendo em filmes o artista a fazer olhos a quaisquer raparigas, irradiando atração.


Luís Roberto, vindo do Brasil, firmou-se assim como um verdadeiro nome do FC Porto para sempre ser recordado.


De seu nome completo Luís Roberto Alves da Silva, nasceu no dia 4 de Março de 1934 na cidade de Alegre, no Estado do Espírito Santo, no Brasil.

Lá na sua região do Brasil foi juvenil do Botafogo (Belo Horizonte), como do “Sete de Setembro” também de Belo Horizonte e ainda no América Mineiro. Depois também nos Juvenis e Juniores do Flamengo, do Rio de Janeiro. Passando de seguida à categoria de aspirantes, já com contrato. E por fim à categoria de Honra, no carioca Clube de Regatas Flamengo. E do Flamengo, com a fama entretanto granjeada, como médio (centro campista) de grande valor, veio para o FC Porto.

Representou o Futebol Clube do Porto durante três épocas, entre 1958/59, 1959/60 até 1960/61. Tendo-se mantido ainda na cidade do Porto mais tempo, de modo que teve uma homenagem, através de festa de despedida em pleno estádio das Antas, em Março de 1962.


Da correspondente ficha identificativa sobre Luís Roberto, anotamos, com a devida vénia, do blogue “Estrelas do FCP” de Paulo Moreira:

«A sua estreia com a camisola dos Dragões aconteceu no dia 21 de Setembro de 1959 no Campo Estrela onde os portistas venceram o Lusitano Ginásio Clube de Évora por 2-1, numa partida a contar para a 2ª jornada do Campeonato Nacional da época de 1958/59.

Logo na sua primeira temporada ao serviço dos portistas Luís Roberto sagrou-se Campeão Nacional. Os Dragões venceram o último jogo do campeonato em Torres Vedras contra o S.C. União Torreense por 3-0 mas tiveram ainda que esperar mais 8 minutos para que o árbitro da partida entre o S.L. Benfica e o G.D. Cuf, Inocêncio Calabote, terminasse o encontro para assim poderem festejar a conquista do título. Um título que teve apenas um golo de Luís Roberto, foi na 21ª jornada quando o F.C. Porto recebeu e venceu o S.C. Covilhã por 5-2. Em 1959/60 e 1960/61 o médio portista conquistou a Taça Associação de Futebol do Porto. Nas três épocas em que esteve ao serviço do F.C. Porto, Luís Roberto disputou 56 partidas e marcou 3 golos.

Palmarés
1 Campeonato Nacional 1ª Divisão (Portugal)
3 Taças Associação de Futebol do Porto»

De seu livro biográfico, que lhe foi dedicado em Portugal pela coleção “Ídolos do Desporto”, em Janeiro de 1961, retemos algumas passagens e imagens, como ilustração a preceito.


Complementa-se esta evocação com imagens dos Campeões de 1958/59, respeitantes a duas equipas usadas durante a época – uma (a seguir, abaixo) publicada numa revista estrangeira e a outra (mais acima) em poster publicado nesse tempo (de arquivo físico do próprio autor deste blogue, tal como o livro da coleção Ídolos do Desporto).


Luís Roberto, o “Roberto do Porto”, acabou a carreira prematuramente devido a uma lesão grave, sofrida num jogo FC Porto-Académica em pleno relvado das Antas, em Março de 1961. Da qual não recuperou de modo a poder continuar a jogar. 


Teve depois, por fim, em reconhecimento de quanto representou sua participação no FC Porto, uma festa de homenagem, como despedida, a 6 de Março de 1962. Incluindo programa festivo, que meteu provas de ciclismo (na pista então existente em volta do relvado do estádio das Antas), e como prato de cartaz um jogo entre o FC Porto e o Benfica, terminado com o resultado de 1-0 a favor do FC Porto.


Como curiosidade, esse festival de homenagem e despedida a Luís Roberto realizou-se a uma terça-feira, que não foi dia de trabalho normal, pois era Dia de Carnaval. Ocorrência a calhar devidamente, atendendo ao homenageado ser natural da cidade brasileira de Alegre, e por o carnaval ser deveras alegre no Brasil, até parecendo que a linha da vida se tornava contagiante nos melhores sentidos.


Desse acontecimento, juntamos também alguns recortes correspondentes (através de mediação do portista amigo Paulo Jorge Oliveira, graças a seus contactos com um filho de Luís Roberto, por meio de boa partilha informática).

= Bilhete da Festa de Homenagem a Luís Roberto. Com jogo de resultado: FC Porto, 1 - SLB, 0 =

= Na despedida, com as chuteiras na mão, saudando o público presente nas Antas (rodeado por Cavém, do Benfica, e Perdigão, Virgílio e Hernãni, colegas do FC Porto).

Depois de acabar a carreira como futebolista e haver regressado ao Brasil, tornou-se empresário no comércio.

Luís Roberto faleceu em fevereiro de 2003, aos 68 anos, em Belo Horizonte.

ARMANDO PINTO
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