Aí está a “Volta”, a grandíssima Volta a Portugal em
bicicleta, a percorrer estradas do país e a andar nas atenções dos adeptos do
desporto nacional. Já com os ciclistas a correr a maior prova do ciclismo
português, a corrida que passa a muitas
terras e perto das casas ou até mesmo à porta de tanta gente.
Chegando o tempo da Volta, retomam-se também recordações.
Não há como fugir, por mais fugas que haja no pelotão, com a Volta na estrada
logo vêm à ideia antigas lembranças, de quando até brincávamos com as populares
sameiras (tampas de garrafas de cerveja ou sumos) a fazer de corredores,
colando dentro as caras de nossos ídolos, que recortávamos dos jornais. Quer
com amigos, ao ar livre, riscando no chão de sítios de brincadeiras uns arremedos
de pistas de ciclismo; ou então, no caso mais pessoal, em casa fazendo das
tábuas do soalho estradas imaginárias formadas dentro das nesgas de junção das tábuas…
Correndo eu sempre com os ciclistas do Porto, deixando para o meu irmão mais
novo (falecido ainda recentemente) outros dos que eu queria que perdessem
sempre, a brincar ou a sério. Ou melhor dizendo, tendo sempre na cabeça como
queria que fossem os do FC Porto a vencer, Mário Silva, Sousa Cardoso, Carlos Carvalho, Joaquim
Leão, Ernesto Coelho, Azevedo Maia, Zé Azevedo, Cosme de Oliveira, Zé Luis Pacheco, etc. etc.
Conforme os anos em que, acompanhando o crescimento, continuava a paixão pelo
ciclismo em que o Porto ganhava mais que os outros, e segundo os corredores que
ao tempo andassem com a camisola do FC Porto.
Entusiasmo que se foi mantendo, mesmo depois de passada a
infância e já pela juventude (bons tempos…) fazia com que acompanhasse a Volta
a Portugal com outros olhos e sentidos. Obviamente que sempre, sempre, com
olhos e afetos para os corredores do Porto. Não só por clubismo mas por bom
gosto, por ser a camisola mais bonita aquela azul e branca que se salientava no
meio dos outros. Tanto a tradicional das duas listas azuis como a azul com uma
faixa horizontal branca, à maneira das equipas internacionais, que durante
algum tempo foi também usada. Sem se poder dissociar, nem ninguém poder levar a
mal, pois era quase como com as namoradas, a nossa parecia sempre mais bonita.
Tantas histórias ficaram então nas lembranças desses tempos
românticos…
Entre muitas lembranças (algumas das quais já entretanto afloradas
noutras crónicas anotadas neste blogue), vem à cabeça a vez em que o José
Azevedo vestiu a camisola amarela, na Volta. Ao tempo havia as excursões (de
camionetas, para passeios que desse modo possibilitavam viagens a outras terras
a muita gente sem carro) e (expondo na primeira pessoa, pois a lembrança é
minha), estando eu de férias, do ensino liceal,
tinha ido precisamente numa excursão da antigamente chamada Volta ao
Minho, dum itinerário por vilas e cidades minhotas. Em cujo percurso, durante a
viagem, se metiam conversas de prognósticos e apreciações sobre a Volta. Não
faltando palpites e desejos. Pois então, numa ocasião dessas, em momento de pausa, enquanto
comíamos o farnel, estando alguém de rádio transístor a deixar ouvir o relato
da chegada, da etapa desse dia, eis que é ouvido algo que alvoroçou os ouvintes. E com que alegria ouvimos ser um ciclista do Porto, no
caso José Azevedo, a conquistar a camisola amarela. De modo algo inesperado,
sendo como eram os mais favoritos uns Joaquim Agostinho, Mário Silva, Fernando
Mendes, Leonel Miranda e ainda havia pelo meio uns quantos mais, como Cosme
Oliveira, Hubert Niel, etc. etc. Advindo até que se dera o mesmo caso de quando,
uns anos antes, o mesmo Zé Azevedo conquistou o título de campeão nacional, enquanto os olhos da opinião pública estavam noutros.
Pois nessa Volta, em 1969, José Azevedo esteve mesmo na frente da
classificação e das atenções gerais. Depois naturalmente outros conseguiram
chegar a essa posição, e dentro da equipa portista, além de Mário Silva, a
fazer jus à tradição de chefe de fila, aparecera a correr de forma destacável
José Luís Pacheco, também, como ficou demonstrado na subida para a Estrela, sobretudo.
Para as gerações mais novas, convém explicar que esse antigo
José Azevedo, que se salientou inicialmente na equipa Cedemi de Viana do
Castelo e depois teve apogeu no FC Porto, não é o José Azevedo que correu por
equipas estrangeiras; o mais novo e de carreira ainda recente. Aquele que foi e
é bem conhecido no ciclismo internacional, estando atualmente como diretor de
equipa no estrangeiro, esse é filho de Gabriel Azevedo, outro ciclista
histórico do FC Porto. Contudo (o filho) sem nunca ter chegado a representar o
FC Porto, embora sendo portista. Enquanto este, o José Azevedo aqui em apreço, o
mais velho, foi camisola amarela da Volta a Portugal de 1969 e Campeão Nacional
de Estrada em 1966.
José Azevedo, o “Zé Azevedo do Porto”, foi sem dúvida um dos
nomes incontornáveis duma época de ouro do ciclismo do FC Porto, sendo o 1.º
Campeão Nacional de ciclismo de estrada para profissionais em 1966. Fez dez
voltas a Portugal, é recordista dos nacionais de rampa (8 títulos), campeão
nacional de fundo e ciclocrosse. Tem os melhores registos do FC Porto na Volta
à Suíça e Cantábria e representou o clube e o país em dois Campeonatos do Mundo, etc. etc. Tendo inclusive preenchido páginas de jornais da época, onde é
relatado todo esse percurso. Como ainda conseguimos ter guardados alguns
recortes, com gravuras alusivas.
Pois bem. José Azevedo, um ciclista de quem gostamos muito
mesmo, nesses tempos de romantismo, merece esta recordação, na roda das
lembranças que sempre que a Volta avança nos vêm à memória. Tanto que, como
ilustração, recordamos por algumas imagens dessa tal Volta, alguns flashes de
quando ele foi camisola amarela na Volta a Portugal.
Entretanto, deixa-se já ideia de voltar ainda ao mesmo, reservando
espaço na memória para em breve aqui se fazer um artigo sobre seu currículo,
com mais material documental.
Armando Pinto
((( Clicar sobre as imagens, para ampliar )))
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