Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

AMÉRICO: O GUARDA-REDES ETERNO DO FC PORTO – Lembrado no início de mais uma época… e relembrando o guarda-redes mais jovem a jogar no Campeonato Nacional até aos anos 50…!

Estando-se já com mais uma nova época futebolística à vista, em cujo ambiente incidem novidades e curiosidades que são como os melões próprios da época, quão depois de abertos é que se sabe como serão… apraz recordar uma curiosidade de há algumas décadas, mais propriamente nos inícios dos idílicos anos 50. Quando um jovem guarda-redes do FC Porto, de nome Américo, subia à equipa principal passados poucos meses de ter entrado nos juniores do clube das Antas. E como tal havendo ascendido no mesmo ano dos juniores ao escalão principal do Futebol Clube do Porto, como foi referido no jornal O Porto, sob título “Américo – o mais jovem dos guarda-redes que tem disputado o Campeonato Nacional / tem um pormenor sensacional na sua carreira: subiu no mesmo ano dos juniores à equipa de Honra”!


Pois foi, com efeito. Américo entrou no FC Porto em 1951 pelas camadas jovens, que ao tempo eram apenas os juniores, tendo ajudado a equipa júnior do FC Porto a sagrar-se vencedora do Campeonato Regional, em 1951, por ter atuado pelo clube já em parte da época de 1951/52, e em 1952, em que foi junior do FC Porto toda a época seguinte. E de imediato, ainda em 1952, passou a enfileirar no plantel sénior do FC Porto, chegando na época de 1952/53 mesmo a jogar logo por 3 vezes na equipa de honra portista.

Era ali referido mesmo, no órgão informativo oficial do FCP, que o caso era pouco vulgar e apenas não seria efetivo de imediato porque na baliza do FC Porto estava Barrigana. O “Mãos de ferro” que afirmava que Américo seria o guarda-redes do futuro no clube. Sendo associado como filho da região feirense atravessada pelo rio Vouga, de onde haviam vindo para o FC Porto grandes jogadores, como “Alfredo, Romão, Monteiro da Costa e mais além Hernâni e Liberal”. Acrescentando: “Pois o Américo também é de lá – é de Lamas da Feira e foi no convívio com os portistas que frequentam o Café do Romão que começou muito cedo a abrigar no seu coração o amor pelo «Glorioso» e a esperança de vir um dia a fazer parte dele. Como o próprio Américo passou a contar (nessa primeira grande reportagem sobre o guardião no jornal do FC Porto) e consta também sobretudo no primeiro livro da célebre coleção “Ídolos do Desporto” que lhe foi dedicado em 1964 (pois também foi caso especial com um segundo livro da mesma coleção em 1968).


= Equipa do FC Porto em 1952 - com Américo (à esquerda) suplente de Barrigana !

Américo então entrara a jogar na equipa principal do FC Porto, embora esporadicamente nas poucas oportunidades que teve, em 1952/53, com 19 anos ainda. Estava ao tempo para ir à inspeção militar, do serviço obrigatório da tropa, tendo depois ido como “magala” e, com a tropa a interromper-lhe a carreira, esteve primeiro em Castelo Branco e depois no quartel de Abrantes dois anos sem jogar, mas continuando a pertencer aos quadros do FC Porto.

Noticia do jornal O Porto de 6 de julho de 1954 - no dia em que nasci...

Regressado depois à vida civil, passou a ser terceiro guarda-redes do plantel do FC Porto, enquanto jogava pelas Reservas (Equipa B), passando assim largo tempo à espera de vez em sucessivas temporadas, apenas com intervalo de uma época em que esteve emprestado ao Boavista, para de imediato regressar e finalmente ter começado a jogar mais.

= Época de 1959/60. Américo já na equipa principal, das vezes que foi tendo oportunidades: Em cima - Pedroto, Américo, Yanko Daucik, Miguel Arcanjo, Paula e Monteiro da Costa; em baixo - Rico, Montaño, António Teixeira, Perdigão e Humaitá.

Finalmente em 1961/62 Américo passou a guarda-redes n.º 1 do FC Porto e agarrou o lugar, graças à admiração popular e fama que foi ganhando com grandes exibições, ficando como titular.

Entretanto, depois que se estreara como sénior no FC Porto em 1952/53, volvidos anos teve direito à faixa de Campeão Nacional, pois jogou com a camisola n.º 1 já no campeonato ganho em 1959,  antes de ter alcançado a titularidade em 1961/62 e então ficado dono das balizas do FC Porto como titular indiscutível da equipa principal portista de 1961/62 a 1968/69 (quando teve de terminar a carreira devido a grave lesão). 

Disputou 256 jogos oficiais pela equipa A do FC Porto, que lhe valeram 🥇 1 Campeonato Nacional, em 1958/59 e 🏆 1 Taça de Portugal, de 1967/68. Algo assinalável, nesse tempo do sistema federativo BSB… Até ter abandonado o futebol como guarda-redes devido a grave lesão, aos 36 anos, numa carreira de 18 anos de ligação ao FC Porto.

Américo em 1964 foi “ Baliza de Prata”, tendo vencido esse trofeu logo no primeiro ano de sua atribuição, como guarda-redes que sofreu menos golos no Campeonato da época de 1963/1964, tendo assim o melhor guarda-redes português sido também o menos batido, amealhando essa distinção da Agência Portuguesa de Revistas.

Desses tempos recorda-se tal ocorrência através de páginas de arquivo pessoal, relembrando o que então foi escrito com cerca de 10 anos pelo adepto portista signatário…

Ao tempo, sucedendo-se as épocas, em todos os Campeonatos da 1.ª Divisão Nacional Américo era considerado o melhor guarda-redes e por vezes mesmo o melhor jogador de todos, obtendo por norma algum trofeu individual, em reconhecimento de seu valor. Porém, incompreensivelmente, não costumava ser escolhido para titular da Seleção dita nacional mas que era mais da Federação Portuguesa de Futebol. Nessa era do sistema BSB em que as presidências federativas eram à vez só de Benfica, Sporting e Belenenses, sendo os representantes destes clubes os selecionados em grande número e do FC Porto só um ou outro conseguiam entrar em lugares onde os dos clubes de Lisboa fossem menos cotados.

Mais tarde, além de outros prémios de regularidade, passados anos foi considerado o melhor jogador do Campeonato Nacional de 1967/1968 e com essa distinção conquistava em 1968 a Iª edição do Prémio Somelos-Helanca, do jornal lisboeta A Bola.


Despediu-se do futebol como jogador guarda-redes em emotiva festa de despedida realizada a 2 de setembro  de 1969.

Depois disso apenas em parte duma época esteve ainda ligado ao futebol, então como treinador do União de Lamas (entrado já a meio da temporada), acedendo a pedido para salvar o clube da sua terra da descida de divisão, como conseguiu.


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Particularidades da vida de Américo Ferreira Lopes:

- Nacionalidade Portuguesa.

- Natural de Santa Maria de Lamas, do concelho nesse tempo chamado Vila da Feira e hoje Santa Maria da Feira, nasceu a 27 de fevereiro de 1933 (embora fosse e ficasse registado como nascido a 3 de março  conforme foi assim indicado e anotado oficialmente, por via de não pagamento de multa, como ao tempo acontecia quando se procedia ao registo civil fora de prazo legal).

- Filho de Manuel António Lopes e D. Saladina Ferreira de Melo.

- Irmãos: 3 raparigas e um rapaz.

- Casado com D. Arminda Ferreira Couto.

- Clubes representados: União de Lamas (no início de carreira), FC Porto (nos juniores desde 1951, tendo jogado ainda parte da época 1950/51 e já toda a de 1951/52; e a partir de 1952, desde a época de 1952/53, já nos seniores), depois Boavista, de permeio (1 época, por empréstimo, em 1957/58 - continuando a pertencer ao FC Porto), e de novo e por fim o FC Porto (até 1969, terminando ao final da época de 1968/1969

- Vida profissional: Em jovem trabalhou com o pai, que tinha uma fábrica de cortiça. Depois, além do futebol, Américo teve ainda no início da carreira futebolística uma sociedade em estabelecimento de venda de motos, no Porto, com António Teixeira, José Pedroto e Carlos Vieira, colegas futebolistas mais velhos. Depois teve uma confeitaria em Espinho e uma fábrica de pastelaria. Mais tarde, já após o Mundial de 1966, estabeleceu-se com a Casa Magriço, de artigos desportivos, com duas lojas no Porto. E por fim fundou e dirigiu a Clínica Boa Hora, na terra de sua residência, em São Paio de Oleiros (concelho de Santa Maria da Feira). 

Títulos conquistados: Nos seniores e equipa de honra de FC Porto - 1 Campeonato Nacional da 1ª Divisão (de 1958/1959); 1 Taça de Portugal (1967/1968); 7 Taças Associação de Futebol do Porto (Anos 60), mais alguns torneios, como por exemplo o Trofeu Luis Otero, em Pontevedra, e o Trofeu Corpus Christi em Ourense, ambos na Galiza-Espanha. E quando junior no FC Porto - 2 Campeonatos Regionais de Juniores.

- Internacionalizações: Foi "Internacional" 16 vezes pela chamada Seleção Nacional, sendo 1 na B e 15 na A (além das diversas vezes que foi selecionado mas esteve como suplente não utilizado). Havendo jogado pela seleção B contra a Bélgica e pela A com a Suíça, Bélgica, Argentina, Inglaterra, Brasil (2 vezes), Roménia (2), Itália, Suécia, Noruega (2), Bulgária (2) e Grécia. Isso em tempo de poucos jogos das seleções portuguesas (quão só por uma vez houve apuramento para fases finais e tal aconteceu para o Mundial de 1966 - em cuja fase em Londres Américo ficou de fora, pela proteção aos do sistema BSB – tendo mais tarde o selecionador reconhecido o erro, pois com Américo Portugal poderia ter conseguido muito mais que o 3º lugar obtido).

- Distinções: Baliza de Prata” (da Agência Portuguesa de Revistas, por ser o guarda-redes com menos golos sofridos no Campeonato Nacional de 1963/64, “Óscar da Quinzena” (da RTP), em 1964; “Prémio do jornal O Porto”, 1965; “Trofeu Pinga”, em 1966 (máximo galardão do FC Porto, antecessor do Dragão de Ouro); “Medalha de Ouro “Ao Mérito” da Federação Portuguesa de Futebol (por ter feito parte dos 22 Magriços na campanha do Mundial de 1966); “O Melhor do Ano” (escolha do programa radiofónico “Escolha o seu Ídolo”), em 1967; “O Melhor Desportista do Ano”, do jornal O Norte Desportivo, 2 vezes, em 1967 e 1968; "Prémio Imprensa", da Casa de Imprensa de Lisboa; “Prémio Somelos-Helanca”, do jornal A Bola, em 1968; “Dragão de Ouro-Recordação”, em 2017.

É uma das lendas do clube, com placa alusiva no passeio da fama junto ao pavilhão Dragão Arena, e está imortalizado no Museu do FC Porto através duma sua camisola numa vitrina e por uma estátua no cimo do autocarro da AT "Destino: Vencer".

Nota Bene ref. Fotos: 

- Obviamente em 1951/1952 ainda faltavam uns anitos para eu nascer e, como tal, não acompanhei essas ocorrências, que fui sabendo e conhecendo depois pelo interesse estudioso na História do FC Porto. Tendo recentemente recebido as correspondentes imagens do jornal O Porto através do amigo Paulo Jorge Oliveira, colecionador de literatura e artefactos do mundo portista. 

As restantes imagens são de diversas recolhas e também de arquivo próprio.

Armando Pinto

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