Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

João Almeida: central da defesa portista de grande parte dos anos 60… de parabéns!

Faz parte de nossas memórias da década dos anos sessentas aquele alto defesa da equipa do FC Porto de nome futebolístico ALMEIDA, do tempo de Américo, Festa, Atraca e outros, o João Almeida que, tal como o nome indica no sentido dum dos ditos populares (referente à defesa da terra desse nome, também, contra os inimigos), era jogador de “alma até Almeida”.

Almeida entrou muito jovem na equipa de honra do FC Porto e depressa ganhou galões de valor apreciável. De tal forma que mereceu ser-lhe dedicado um livro na coleção Ídolos do Desporto, uma pequena revista em formato de bolso, editada em Lisboa, que continha biografias dos ídolos desportivos da época, mas na qual quase que só eram contemplados desportistas de BSB (Benfica, Sporting e Belenenses, a modos como a Federação de Futebol era presidida regulamente, nesses tempos) e os poucos do FC Porto que foram furando a regra eram os que se salientavam muito entre os craques mais conhecidos do grande público.

Almeida foi do tempo em que o FC Porto era sistematicamente prejudicado por arbitragens mais que tendenciosas e os órgãos de escolha e poder punham de lado e deixavam para trás os valores e os interesses do clube azul e branco e dos seus atletas. Tanto que João Almeida, apesar de ser ao tempo um dos mais eficazes defesas que andavam no futebol português, só conseguiu ser internacional pela Seleção Militar...

... pois pelas seleções federativas, quer a Nacional B como a A estavam reservadas para futebolistas do sistema BSB e, de permeio, alguns do FC Porto para serem lembrados tinham de ser muitíssimos superiores a todos os outros. Tendo Almeida chegado, por exemplo, a estar no lote dos pré selecionados para a campanha dos Magriços do Mundial de 1966, mas no fim acabou por ficar em terra, a ter de ver os jogos pela televisão, tal como aconteceu também com Jaime e Nóbrega do FC Porto (enquanto dos 3 portistas que foram escolhidos, Américo, Festa e Pinto, apenas um, Alberto Festa, jogou na fase final…

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João Luís Pinto de Almeida, de seu nome completo, nasceu em Mafamude, Vila Nova de Gaia a 18 de setembro de 1943 (apesar de no B.I. contar outra data, com que foi registado), estando oficialmente como fazendo anos a 25/9, mas é a 18/9 que na realidade festeja seu aniversário – devido aos pais só o terem registado no Civil uns dias mais tarde, para não pagarem multas, como acontecia ao tempo.)

Muito novo foi viver para a Póvoa de Varzim, onde a família se fixou. E foi na Póvoa que começou a jogar à bola, nas brincadeiras de rua, até que foi levado ao clube da terra e ficou. Iniciou-se então em 1959/60 no Varzim, nas camadas jovens, e como depressa deu nas vistas, foi transferido para o FC Porto em 1961/62 ainda júnior. 

No equipa de juniores do FC Porto foi então treinado por Pedroto, e jogou com diversos valores em ascenção, junto com Rolando, Artur Jorge, Valdemar, Neca Soares dos Reis (o Soares dos Reis III), Vieira Nunes, Acácio, entre outros dessa geração.

E no clube das Antas, num ápice, integrou o plantel principal na temporada seguinte, substituindo o internacional Miguel Arcanjo, que se havia lesionado.

A sua estreia com a camisola dos Dragões aconteceu no dia 13 de Outubro de 1963 no Estádio das Antas, em jogo que os portistas venceram o Leixões por 4-0, a contar para a 2ª mão da 2ª eliminatória da Taça de Portugal da época de 1963/64.

Enquanto isso, nessa mesma época foi um dos titulares da equipa portista que obteve a primeira vitória nas competições europeias, no dia 16 de Setembro de 1964, ao derrotar o Olimpique Lyonnais por 3-0 no Estádio das Antas, num jogo a contar para a 1ª mão da 1ª eliminatória da Taça dos Vencedores das Taças.

Nessa época de estreia houve mais algumas saliências, como as vitórias em torneios espanhois, quer no Troféu Luis Otero como no Corpus Christi. Conforme se pode recordar deste, em imagens coevas, da equipa que alinhou e por fim aquando da entrega do troféu. 

Foi assim, quando o FC Porto foi convidado e participou nesse torneio com o nome das festas tradicionais da cidade galega de Ourense, o Troféu Corpus Christi, em 1964. Cujo sucesso se deu em plena época do S. Pedro, festa popular em Portugal, e em Ourense decorrem as festividades que têm ponto alto na majestosa procissão do “Corpus Christi”.


Estava-se no início do verão de 1964, sendo a equipa principal do FC Porto treinada nesse tempo pelo brasileiro Otto Glória, passando o plantel por período de renovação, ainda tendo alguns grandes ases da geração dourada dos anos cinquentas, como Hernâni, Carlos Duarte, Virgílio, Arcanjo e Perdigão (por esses dias a acabar as suas carreiras), reforçada que fora a equipa anos antes com a entrada do guarda-redes Américo para titular e chegada ao clube de uns Pinto, Azumir, Atraca, Jaime, etc.  Bem como entretanto passara a contar com novos elementos como Almeida, Rolando, Paula, Festa, Nóbrega, por exemplo. Entre outros, alguns dos quais com valor mas que por diversos motivos não tiveram muita utilização, tal o caso de Valdir, bom avançado mas de ação limitada por lesões. E escasseavam ainda as oportunidades de confrontos com equipas estrangeiras, deparando-se assim boas ocasiões, como dessa vez em que o FC Porto defrontou o Deportivo da Coruña e o Athletic Bilbao (que antes fora, curiosamente, o primeiro rival dos azuis e brancos nas competições europeias, em 1956/57).


Com efeito, então o FC Porto bateu o Atlético de Bilbau (Athletic Bilbao) por 3-1 (com dois golos de Azumir e outro de Nóbrega) e conquistou o Troféu Corpus Christi, disputado em Ourense (Orense), na Galiza. No primeiro jogo da competição, os Dragões já tinham vencido o Desportivo da Corunha (Deportivo Coruña) pelo mesmo resultado (com outro bis de Azumir e mais um golo de Hernâni).  E Almeida esteve lá como um estreio na defesa, a impor respeito.

= Almeida com Virgílio, como imagem da passagem de testemunho da geração de 50 para a de 60 no FC Porto...

Entrado na equipa de honra, Almeida agarrou o lugar e só devido a algumas lesões teve interrupções momentâneas nesse posto, embora Arcanjo também entrasse na equipa principal, entretanto, coabitando os dois, mais Festa e Atraca, e por vezes Alípio Vasconcelos. A pontos de Arcanjo e Festa ainda terem jogado na seleção nacional aquando do primeiro jogo da equipa de Portugal no apuramento para o Mundial de 1966, num dos jogos em que Almeida e outros andaram pelos treinos da seleção e depois foram excluídos. (Tendo Festa depois continuado, selecionado e jogado em diversos jogos até à fase final, sendo praticamente o mais lembrado, ao passo que alguns outros andaram a suplentes de alguns que lhes eram inferiores...)

= Equipa do FC Porto em 1965/66

Almeida permaneceu com a camisola azul e branca, a tradicional das duas grandes listas azuis, até ao final da época de 1968/69. Foram oito temporadas, tendo conquistado pelo FC Porto a Taça de Portugal em 1968 e a Taça Associação de Futebol do Porto em 1961/62, 1962/63, 1963/64, 1964/65 e 1965/66.

Após ter saído do FC PORTO, no defeso de 1969, transferiu-se para o Barreiro, continuando a sua carreira no Barreirense e ali esteve na época áurea desse clube, participando também nas provas da UEFA, em 1969/70. Depois transferiu-se para o Farense em 1971/72, onde fez 4 anos de 1ª divisão, capitaneando também essa equipa. Já a meio dos anos 70 regressou ao Norte, tendo em 1975/76 ingressado no F.C. Famalicão, seguindo-se o Mirandela onde terminou a sua carreira. Foi treinador do mesmo Mirandela e a seguir do Desportivo das Aves. Regressado à Póvoa de Varzim, foi treinador do Rio Ave FC das camadas jovens no início de 80. Após isso tornou-se profissional de seguros.

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Entretanto, um seu filho, José Luís Almeida (nascido a 18 de dezembro de 1965 e com um irmão gémeo), havia seguido as pisadas do pai e, tendo jogado também no Varzim, de onde rumou às Antas, jogava já nas camadas jovens do FC Porto. 

Então houve a particularidade do filho ter defrontado o pai pelo Varzim e FC Porto.

Ora, passando ao filho, também José Luís Almeida foi jogador do Varzim SC nas camadas jovens e com 16 anos foi transferido para o FCPORTO, onde assim com essa idade já estava nos juniores, tendo como treinador mestre Feliciano. De permeio, estando nas camadas jovens, foi sendo selecionado pela Seleção Nacional júnior, havendo vestido a camisola das quinas num França-Portugal em 1981.

Passado tempo e na passagem a sénior, regressou novamente ao Varzim, clube local com o qual assinou um contrato sênior e, estando a afirmar-se na equipa, em plena 2ª época lesionou-se gravemente num pé, o que o obrigou a acabar precocemente a carreira. Pois mesmo tendo sido operado 4 vezes, teve de deixar de jogar, acabando o sonho duma carreira que tanto almejava.

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Em suma e na data em que João Almeida perfaz mais um aniversário, aqui fica esta rememoração de homenagem evocativa a esse que foi um dos nomes que à época era decorado entre os apoiantes portistas. Tendo sido mesmo um futebolista que, apesar de ter passado pelo clube em período difícil, era dos que tinham valor evidente. Fez ainda parte da equipa que venceu a Taça de Portugal em 1968, embora sem ter disputado a final.

Agora, tal como quando o víamos nos jornais e sempre que possível em jogos ao vivo e ao lado de Américo e Cª, continua nas simpatias da memória portista.  

Armando Pinto

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3 comentários:

  1. Grande artigo em tamanho e qualidade de muito valor, de grande arte de escrever, pesquisa e saber. O Almeida merece. Parabéns ao autor, que pelo que leio nas suas obras tem diversos livros escritos de muitas outras coisas, também. Grande é o F. C. do Porto com portistas destes, grandes.
    JR

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  2. Muito bem. Recordar é viver.

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  3. Uma excelente resenha sobre a carreira desportiva de defesa central Almeida, ao serviço do futebol e particularmente com as cores da camisola do F.C do Porto. Parabéns ao seu autor e amigo Armando Pinto.

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