Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Efeméride da oficialização de Joaquim Andrade como Ciclista do FC Porto

Conforme é lembrado nesta data, de 26 de fevereiro de 2021, na newsletter oficial do FC Porto “Dragões Diário, referente ao que “Aconteceu” em 1972:  «Há 49 anos, neste dia, o FC Porto contratou o ciclista Joaquim Andrade, um dos melhores trepadores portugueses de sempre. Natural do concelho de Santa Maria da Feira, iniciou o trajeto na modalidade ao serviço da Ovarense e ainda antes de integrar os quadros portistas conquistou, em 1969, a Volta a Portugal pelo Sangalhos. Com a camisola dos Dragões, entre 1972 e 1974, arrecadou múltiplos troféus nacionais e regionais, tendo igualmente pedalado lá por fora: além de uma participação no Tour e de uma outra na Vuelta, venceu uma etapa no prestigiado Grande Prémio do Midi-Libre.»

Tendo o contrato de Joaquim Andrade ficado oficializado então no final de fevereiro, deu depois entrada na Federação a 2 de março seguinte.

Na oportunidade, por quanto esse foi um ciclista que, embora em poucos anos, muito representou no afeto ao ciclismo portista, recorda-se o que há já alguns anos lhe foi dedicado neste mesmo blogue:

Joaquim Andrade - Ciclista que honrou a camisola do FC Porto e representou bem o ciclismo nacional


No mundo do desporto das bicicletas de corrida, como era antigamente referido o ciclismo na via popular, quanto à modalidade ciclística de estrada e pista, Joaquim Andrade foi e é nome de referência. Embora tendo de se diferenciar entre pai e filho, já que os dois, das duas gerações da respetiva família, correram ao mais alto nível português. Vindo ao caso o pai, sendo que foi o patriarca desse núcleo familiar feirense que representou o FC Porto e como tal durante anos foi cabeça de cartaz da equipa azul e branca. No seguimento de já antes ter feito história, passando a representar o FC Porto já de valor consagrado e então sido mesmo chefe de fila da equipa profissional de ciclismo do FC Porto durante três épocas, na primeira metade da década dos anos setentas. Com a curiosidade de durante esses anos haver também, de permeio, corrido no estrangeiro (por equipas de países com forte tradição ciclista) quando representava o FC Porto em Portugal. Inicialmente tendo andado por estradas estrangeiras alguns dias com a camisola da equipa belga Flandria e depois correndo pela equipa francesa Gitane.


Calha a preceito assim evocar Joaquim Andrade, como grande ciclista de outrora, agora que o FC Porto tem novamente ciclismo (desde 2016) também, voltando a ter ciclismo de alta competição e andando de novo pelas estradas as camisolas azuis e brancas com o símbolo portista ao peito a entusiasmar os adeptos do clube mais vitorioso no ciclismo português. Sendo de recordar que durante os anos que correu com a camisola alvi-anil o Joaquim Andrade foi sempre candidato aos primeiros lugares das provas em que a equipa das Antas participava, sem contudo ter conseguido repetir seu anterior feito de vencedor de uma Volta a Portugal, tendo no período que correu pelo FC Porto e nas 3 Voltas que fez de azul e branco vencido uma etapa (em 1974, na pista das Antas, contra-relógio de 2, 250 Km), mas compensando com boas prestações em diversas corridas em França, nesses tempos, além de títulos regionais e nacionais conquistados, mais algumas vitórias em provas do calendário do ciclismo associativo portuense e nacional, ao serviço do FC Porto, entre as quais o Grande Prémio Papéis Vouga/1974, o título de Campeão Regional de Fundo, mais títulos diversos de Campeão Nacional de Rampa (Montanha) e Perseguição (Crono), este individualmentge e por equipas, pelo FC Porto. Enquanto em França teve ponto alto com brilhante vitória numa etapa da clássica / Grande Prémio "Midi-Libre" (além de ele referir numa entrevista uma outra, da também  famosa clássica “Dauphine Liberé”, que porém não consta do oficial currículo internacional, embora seja habitual haver lapsos nos números e estatísticas).

= Recorte do jornal A Bola de 05-04-1973, referindo o facto de Joaquim Andrade ser mais um ciclista Português a ir correr para França, então para a equipa da “Gitane”, treinada pelo técnico Desvages. Em cuja referência Andrade agradece ao FC Porto ter-lhe facilitado a sua participação no estrangeiro. =

Nascido a 14 de junho de 1945 em Travanca (então Vila da Feira, atualmente Santa Maria da Feira),  Joaquim Pereira de Andrade começou por correr na Ovarense, equipa que posteriormente ao ser extinta o levou a representar o Sangalhos, sendo com a sua camisola toda azul que em 1969 obteve a honra de vestir a camisola amarela na Volta a Portugal e por fim declarado vencedor da correspondente edição. Entretanto em 1971 esteve a correr em Angola pela equipa da Fagor. Até que depois em 1972 passou a representar o FC Porto, desde princípios de 1972 até finais de 1974, havendo mais tarde ainda representado outras equipas portuguesas. De permeio com a referida campanha estrangeira.

= Primeiro Contrato assinado por Joaquim Andrade no Futebol Clube do Porto quando veio de Angola, por três temporadas. No total fez três contratos com este grande clube nortenho. Neste contrato o ordenado era de cinco mil escudos mensais, a que acrescia uns subsídios. Folha de rosto e verso do contrato (conf. “site” Ondas da Serra) =

Numa entrevista a “Ondas da Serra”, Joaquim Andrade recordou a “sua” Volta a Portugal, ganha pelo Sangalhos: «No ano de 1969 ganhei a Volta a Portugal. Cheguei a Alvalade (fim da etapa derradeira na pista desse estádio) com a camisola amarela, mas o falecido Joaquim Agostinho nesse dia “tirou-me” a camisola, mas depois veio a acusar doping e passados dois dias eu já era o vencedor da Volta. Oficialmente só passado um mês ou um mês e meio é que foi homologada. Tinha perdido a etapa final que era um contrarrelógio para ele por uns segundos.» Ao passo que depois, já dos tempos em que corria pelo FC Porto e fez algumas corridas em França por equipas estrangeiras, relembrou também, a propósito da sua participação efémera numa Volta a França: «…em 1972 não passei do primeiro dia porque tive uma infeção por causa do selim e tive que lá ficar internado num hospital. Alias eu já lá cheguei com a infeção contraída numa prova que vim cá fazer a Portugal, num campeonato nacional. Eu cheguei a França maltratado, corria eu por uma equipa Belga, estive três dias parado, fiz o prólogo e aquilo agravou-se e já não prossegui a volta. Nessa volta eu estava numa grande forma e deixou-me uma grande amargura, porque estava bastante moralizado; tinha andado nesse ano em várias corridas em França e tinha inclusivamente ganho talvez a etapa rainha duma prova que se chamava “Midi Libre” (vitória numa etapa da “clássica” Midi-Libre), onde cheguei também com quatro ou cinco minutos de avanço sobre os grandes corredores mundiais da atualidade (ao tempo), Luis Ocaña e Zoetmelk... »


«...Além de ter ganho no Midi Libre, também ganhei uma prova que era o grande teste para a volta a França que era a corrida “Dauphine Libere”. Nessa prova eu cheguei a estar atrás com o Joaquim Agostinho, com oito ou nove minutos de atraso, mas a certa altura eu arranquei, faltavam ainda duas montanhas muito duras, iam 14 ciclista na frente já com alguns minutos e eu primeiro só não apanhei os quatro da frente, ultrapassei-os a todos e fiz uma etapa fenomenal nesse dia. Essa prova tinha muita montanha e é onde se disputa geralmente a Volta a França, uma montanha chamada o "Galibier" e o "Tour Medley". Eu fugi e disse ao Agostinho que ia atacar e ele disse que era muito difícil, mas eu arranquei e ganhei minutos a toda agente.»


Ora, evocando esses tempos, ilustra-se esta menção honrosa, desse antigo representante do FC Porto, com imagens de postais dos contemporâneos Joaquim Andrade e Luís Ocanã: O do Andrade autografado na própria frente da gravura (com acrescento de correção pelo punho dele mesmo na parte de trás, também) e o do Ocaña no verso – como se pode verificar pelas imagens.


Juntam-se ainda outras imagens, sendo as do jornal O Porto e os postais de arquivo pessoal do autor destas linhas e as restantes, com a devida vénia, do “Site” Ondas da Serra.

= Fotografia de Joaquim Andrade Campeão Nacional de Pista, em perseguição individual e por equipas ao serviço do Futebol Clube do Porto, em Novembro de 1972. =


Oficialmente o seu palmarés enquanto ciclista do FC Porto, conforme consta da relação internacional, é:

Em Portugal:

1972
Campeão Regional de Rampa da Associação do Porto
Campeão Nacional de Rampa (escalada/montanha)
Campeão Nacional de Perseguição (pista)
Vencedor da 5ª etapa do “Grand Prix du Midi libre”
2º na clássica portuguesa Lisboa-Porto
3º no Campeonato Nacional de Estrada  
5º na Volta a Portugal

1973
Campeão do Porto / regional
Campeão Nacional de Perseguição
Campeão Nacional coletivo, em perseguição, por equipas,
2º no Campeonato Nacional de Rampa (Escalada)
5º na Volta a Portugal

1974
1º no Grande Prêmio Papeis Vouga
3º no Campeonato Nacional de Rampa / Escalada
3º no Nacional de Estrada

No estrangeiro:

Volta à França / Tour de France
1972: desistiu
1973: em 64º lugar

Volta à Espanha / Vuelta de España
1974: 26º classificado

=Recibo, referente a janeiro de 1974, do vencimento de Joaquim Andrade ao serviço do Futebol Clube do Porto. Segundo o mesmo «naquele tempo 7.000$00 (sete mil escudos) era muito dinheiro. Este foi o último ano do contrato.» =

Armando Pinto

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