Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Falecimento de Azevedo Maia - antigo ciclista Campeão Nacional do FC Porto


Chegou triste notícia de mais um desaparecimento físico dum despottista de nossa admiração de sempre, um ídolo de infância do autor deste blogue. Tendo falecido, esta segunda-feira, dia 10 de agosto, o antigo ciclista Azevedo Maia, um campeão do FC Porto. Um Nome a quem já havia sido dedicado um artigo de memorização neste blogue, há tempos.

A notícia chega mesmo de surpresa, pois não estava doente. Foi encontrado sem vida em casa de sua filha, em França. O funeral ocorre na próxima sexta-feira, dia 14, nos arredores de Paris - decorrendo cerimónias fúnebres na Basílica de Saint Denys, place Jean Euricult à Argenteil.

Nesta ocasião. em sua homenagem e como preito de nosso reconhecimento, recordamos o que sobre ele escrevemos, neste espaço de Memória Portista, sob título de "Azevedo Maia: Um ciclista "Operário de equipa", de grandes capacidades na história velocipédica lusa e alvi-anil" . 

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Como gotas de suor caídas sobre o guiador da bicicleta de corrida e encharcando a camisola colada ao corpo, na imagem dum ciclista visto aos olhos dos adeptos admiradores de sua heroicidade e por seu esforço ao correr pela representatividade que entusiasma o sentimento comum, saltitam pequenas bagas de recordação de nossos heróis das estradas.

Assim como em gerações antepassadas o Norte do país teve como ídolo das multidões o famoso Fernando Moreira, símbolo do fortalecimento do ciclismo do FC Porto, enquanto no sul já antes havia grande celebridade dos duelos de Trindade, Nicolau, Eduardo Lopes, por exemplo, que em representação de Benfica, Sporting e Iluminante iluminaram as páginas da imprensa da época… de permeio com algum destaque também nuns lados e noutros duns Alberto Raposo, Aniceto Bruno, Onofre Tavares, etc. etc… passando pelos duelos entre Alves Barbosa, Sousa Santos e Ribeiro da Silva, do Sangalhos, FC Porto e Académico, respetivamente… até à geração célebre da hegemonia do ciclismo portista entre finais dos anos cinquentas à primeira metade da década de sessenta, com Sousa Cardoso, Artur Coelho, Carlos Carvalho, Mário Silva, José Pacheco, Mário Sá, Ernesto Coelho, Joaquim Leão, etc. etc… entre tantos e bons ases dos pedais havia também alguns outros que igualmente marcaram bem sua época. Entre os quais se contava Azevedo Maia – o grande ciclista desta vez a evocar, aqui. Como um dos ídolos do adepto que via o FC Porto andar na frente, por esses anos sessentas…

= Panorâmica duma etapa na Volta a Portugal de 1961, sob o calor ardente do verão: «Lá vão eles, os reis da estrada dessa quinzena de Agosto. O sol rebrilha nas cores de umas centenas de camisolas e por toda a parte há milhares de adeptos que os vão saudar»!

Azevedo Maia foi contemporâneo e colega de equipa de nomes consagrados, com os quais emparceirou nas andanças pelas estradas com a camisola azul e branca vestida. Tendo tido por companheiros, entre outros, Sousa Cardoso, Sousa Santos (pai), Alberto Gonçalves Silva, Carlos Carvalho, Alberto Moreira, Armindo Gonçalves, Cerqueda, Emídio Pinto, Carlos Pinheiro, Alberto Cerqueira, Martins de Almeida, Artur Coelho, Veiga da Mota, Joaquim Pereira, Júlio Abreu, Mário Silva, José Pacheco, Mário Sá, Agostinho Brás, Orlando Silva, Ernesto Coelho, Joaquim Leão, Mário Miranda, Joaquim Freitas, José Pinto, etc.

= Equipa do FC Porto na Volta a Portugal de 1961, na inicial etapa na pista das Antas, em "memorável noite de verdadeira gala do ciclismo»!

De nome completo Alfredo Azevedo Maia nasceu em 30 de Dezembro de 1937, na freguesia de Vilar do Pinheiro, concelho de Vila do Conde.


Iniciou a sua carreira no ano de 1955 e finalizou-a no ano de 1965. Representando as equipas do F.C. Porto, em Portugal; e Union Sportive Franco Belge, no estrangeiro. Ganhou diversas provas em Portugal, tendo sido Campeão Nacional em várias classes.

= Curiosidade reportada à antiga importância da "Volta": Um exemplo como ao tempo era seguida popularmente a Volta a Portugal, a pontos de meter mensagens de correspondência. Como no caso referente à Grandíssima de 1959 - conf. Jornal de Notícias de 9 de Agosto de 1959...

Sintomático de sua categoria é o facto de em 1960 ter sido incluído na coleção de fichas dos desportistas nacionais famosos nesse tempo, publicação à época de relevo, qual espécie de cromos com dados curriculares, sob título de Ficheiro "ASES DO DESPORTO".


De seu palmarés resumidamente constam, além de vitórias em Grandes Prémios e outras corridas de âmbito distrital e nacional, sobretudo o título de Campeão Nacional de Ciclocross na categoria de Independentes em 1960, ano em que também representou pela primeira vez a seleção nacional, no caso na Volta a Marrocos, assim como participou no Mundial de Ciclocross. No ano seguinte triunfou na clássica de maior distância e duração que existiu em Portugal, tendo ganho o Porto-Lisboa em 1961.

Enquanto nas participações na prova de maior impacto teve como melhores participações ter sido quarto classificado em dois anos seguidos, quer na Volta a Portugal de 1962, ganha individualmente pelo colega de equipa José Pacheco e por equipas pelo FC Porto, como em 1963, havendo então se cotado como melhor representante do FC Porto na edição desse ano da Grandíssima Portuguesa.

= Referente à Volta de 1963, em que Azevedo Maia foi 4º classificado e o melhor posicionado da equipa do FC Porto. Recorte do Jornal de Notícias de 13/8/63 e caixa do jornal A Bola após o final da mesma Volta a Portugal

Também em 1963 venceu a Volta ao Algarve. 
Bem como venceu a Corrida “Libras de Ouro” da Figueira da Foz. De permeio, integrado na Seleção Nacional participou em 2 (duas) Voltas a Marrocos. Em França ganhou a 4ª Etapa no “Ronde de Flandres” e ganhou o “Grand Prix Epernan” e o “Grand Prix Gretz S. Laing”.

Pormenorizando: Iniciada a sua carreira então em 1955, teve primeira vitória como integrante da equipa principal do FC Porto em 1958, época em que também correu pela primeira vez na Volta a Portugal. Enquanto em 1960 foi Campeão Nacional de Ciclocross e em 1961 venceu o Porto-Lisboa. Na soma duma boa folha curricular.


Assim, em 1958 venceu uma etapa do Grande Prémio Vilar, prova do calendário do ciclismo nacional e participou pela primeira vez na Volta a Portugal. Depois em 1959 foi 3º em França no Paris-Mantes (Ile-de-France). Seguindo-se sua estreia vitoriosa na Volta a Portugal de 1959, em cujo decurso venceu uma etapa, entre Portimão-Tavira.

Em 1960 foi Campeão Nacional de Ciclocross e participou no Campeonato do Mundo de Ciclocross. Tendo então o FC Porto ganho os campeonatos de Ciclocross em todas as categorias, entre as quais em Independentes o vencedor foi Azevedo Maia. Ao passo que no mesmo ano Azevedo Maia foi também 1º no Campeonato Nacional de Estrada, Elite (vulgo campeonato de Fundo); e classificou-se em 3º numa etapa da Volta a Marrocos (Tour du Maroc), em Essaouira (Marrakech-Tensift-Al, Haouz). Volvido um ano, em 1961, além de algumas boas classificações noutras provas, foi 1º no Porto-Lisboa, vencendo essa grande clássica portuguesa. E ajudou o colega de equipa Sousa Cardoso a vencer a Volta a Portugal, em renhido despique com os adversários.


Seguiu-se em 1962 ter sido 1º em mais uma etapa da Volta a Portugal), tendo Azevedo Maia vencido a tirada Cacilhas-Beja.

Poucos dias depois Azevedo Maia chegou mesmo a vestir a camisola amarela de primeiro da Volta. O que aconteceu ao fim da etapa terminada em Évora, após ligação de Tavira-Évora, ganha pelo portista Ernesto Coelho, com Azevedo Maia a somar o melhor tempo geral e como tal havendo vestido a simbólica camisola de lider, que ostentou na seguinte etapa entre Vila Viçosa e Portalegre, (que foi de contra-relógio, tendo José Pacheco amealhado tempo que lhe deu para voltar a vestir ele a amarela).




Era então tão valoroso todo o grupo da equipa do FC Porto, por esses tempos de forte supremacia portista na caravana das provas do ciclismo português, sendo todos bons, afinal, como se dizia, que qualquer um podia ganhar fosse o que fosse; e, por isso, todos faziam o trabalho da equipa, em prol do coletivo e para quem calhasse de estar melhor posicionado na tabela classificativa.

Desse tempo ilustra-se bem as ocorrências com imagens de pranchas desenhadas, através do álbum de banda desenhada "Heróis da Estrada"...


Nessa Volta, em que ajudou o colega José Pacheco a ter ficado em 1º da Classificação Geral e como assim sagrado vencedor individual, tal como contribuindo para a vitória coletiva da equipa do FC Porto, Azevedo Maia classificou-se em 4º na Geral final.


Após isso no ano seguinte venceu uma importante prova nacional, havendo sido 1º na Classificação Geral da Volta ao Algarve, em 1963. Ano em que voltou a ser 4º na Classificação Geral final da Portugal, inclusive como melhor classificado do FC Porto (nessa Volta ganha por João Roque do Sporting). Até que em 1965 venceu mais uma etapa na Volta a Portugal, num dia inesquecível dessa maior corrida portuguesa, ao triunfar na etapa Leiria-Porto, perante o delírio dos adeptos portistas na chegada à cidade Invicta. Seria então a sua despedida, pois, aproveitando passagem imediata da Volta a Portugal para lá da fronteira, entrada a Volta portuguesa pela Galiza dentro (em tempo da ditadura do Estado Novo e dificuldades de passagem para fora do país) Azevedo Maia resolveu dar outro destino a sua vida… embora tendo de desistir da sua participação na Volta a Portugal. 


Havendo então decidido emigrar, tendo seguido para França onde se radicou durante alguns anos.

Em resumo também de seu currículo desportivo em Portugal, Azevedo Maia contribuiu para as vitórias da equipa do FC Porto nos triunfos coletivos nas Voltas a Portugal, na classificação por equipas em 1958, 1959 e 1962.


Iniciada a carreira em 1955, nos escalões jovens, e entrado na alta-roda do ciclismo em 1958, terminou a carreira em Portugal em 1965.


Filho de Joaquim Pereira Maia e Ana Carvalho de Azevedo, Alfredo de Azevedo Maia nasceu em Vilar do Pinheiro a 30 de Dezembro de 1937, curiosamente dois dias depois do atual presidente do FC Porto (havendo Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa nascido a 28 desse mesmo último mês do igualmente mesmo ano). 

= Azevedo Maia é (era) conterrâneo, pela naturalidade do mesmo concelho, de um outro ciclista de renome portista, o também vilacondense Gabriel Azevedo, sendo ambos vizinhos em posicionamento de freguesias do mesmo concelho e velhos amigos pela ligação ao ciclismo. Assim como grande amigo do antigo colega de equipa Ernesto Coelho, através do qual o autor destas linhas teve acesso a alguns jornais da coleção particular de Azevedo Maia, embora a maior parte do que aqui se conseguiu exprimir seja do arquivo pessoal do autor.


Azevedo Maia é pois nome saliente do historial do ciclismo do FC Porto e da própria modalidade em Portugal. Sendo aos olhos da memória do autor destas linhas, sobretudo, o vencedor da etapa terminada na cidade do Porto na Volta de 1965, pessoalmente ouvida pelo relato radiofónico com grande entusiasmo, tendo aquela vitória sido deveras bem sentida no ânimo dum adepto que estava ainda numa idade infante (e como tal muito pequeno aquando das anteriores vitórias), sendo a ocasião desse sprint vitorioso em tempo de férias grandes da fase escolar desse jovem já com memória, a bem dizer… e a gostar já muito de quando alguém ganhava pelo FC Porto.

Eis assim uma homenagem evocativa desse senhor do ciclismo, Azevedo Maia. Um ciclista "Operário de equipa", dotado de grandes capacidades e nome referencial na história velocipédica lusa e alvi-anil, na modalidade das bicicletas de corrida em Portugal e no FC Porto.

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Entretanto, faleceu esta segunda-feira, dia 10 de agosto de 2020. 
O tempo corre, também.
Que descanse em paz !

Armando Pinto
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