Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

sábado, 29 de agosto de 2020

Recordando: Aquisição histórica de Monteiro da Costa em 1949


Na História do FC Porto, existente desde 1893, havia já um Monteiro da Costa, o refundador do clube em 1906, José Monteiro da Costa, que também ainda deu uns chutos na bola, constando das primeiras fotos. Passados muitos anos, em 1949, chegou outro, António Henrique Monteiro da Costa, esse como jogador de futebol, que entrou e ficou também na História Portista, tal o seu elevado nivel de futebolista, além de ter desempenhado episodicamente funções de treinador, ainda mais tarde.


Em tempo mediático do período de transferências de verão do futebol profissional, nos dias que correm, nada mais propício que recordar aquisições noutros tempos incisivas para o futuro do clube, no passado histórico do FC Porto. Vindo a talhe, depois de se ter relembrado (no artigo anterior) a vinda de Pedroto em finais de agosto de 1952, com a repercussão que faz parte da história sempre presente, também outra muito importante, como foi, ainda antes, a entrada em 1949 de Monteiro da Costa no grande clube portuense. Sendo o FC Porto por esses tempos já a coletividade mais representativa do Norte do Portugal, com nome da capital do Norte, como se dizia nesse tempo, à  época com casa de jogos no campo da Constituição, na parte urbana tradicional da Invicta. E esse mesmo António Henrique Monteiro da Costa, junto com Hernâni, Virgílio, Pedroto, Arcanjo, Carlos Duarte e tantos mais da geração de diamante da década de cinquenta, ficaria com nome associado a esse período dourado do futebol portista e nacional.


Com efeito, então, a 29 de agosto de 1949, António Monteiro da Costa assinava pelo FC Porto… Sendo assim há 71 anos (nas contas de agora, em 2020), que o FC Porto contratou Monteiro da Costa à Oliveirense, com a receita de dois jogos particulares a acrescer ao valor da transferência.  E mais dois com o Espinho... Como o próprio recordava aquando da publicação do pequeno livro que lhe foi dedicado na coleção Ídolos do Desporto...


Ora, no decurso da sua carreira e pelo que perdura nos anais do futebol portista, foi mesmo importante esse ato, tendo Monteiro da Costa ficado até conhecido por “Torpedo” de São Paio de Oleiros", tal o relevo atingido, como comprova o caso de haver transposto «a barreira mítica dos 300 jogos com a camisola azul e branca, fazendo 97 golos e distinguindo-se como o terceiro melhor marcador dos Dragões em clássicos com o Benfica, no total de jogos em casa e fora (com 10 golos), tabela em que só é superado por Pinga e Gomes (com 12 cada um)». 


Jogou em várias posições, ganhou dois Campeonatos Nacionais e duas Taças de Portugal, lia Agatha Christie e sofria com as saudades da família geradas por estágios e digressões. Juntando caso especial de ainda ser o detentor da marca de mais golos nos clássicos Porto-Benfica disputados no Porto, com oito golos em jogos com o FC Porto como anfitrião diante do clube da águia encarnada.

= Campeões de 1955/1956

Pelo estatuto granjeado, em seu tempo Monteiro da Costa era um dos mais carismáticos jogadores da equipa do FC Porto. Como por exemplo contecia quando se tratava de entrevistar os que eram referências do plantel. Tal qual, no caso  dumas entrevistas feitas para o então órgão informativo do FC Porto, a Pedroto, Monteiro da Costa e Arcanjo, em tempo de férias dos jogadores do clube. Podendo assim, como curiosade, vislumbrar-se algo de como à época pensava Monteiro da Costa sobre as férias enquanto jogador - segundo o que ao tempo o jornal O Porto registou, em 1957:


Esse célebre Monteiro da Costa, que não descendia do refundador e segundo presidente do clube (José Monteiro da Costa) mas tinha o mesmo apelido familiar, embora provindo dos últimos nomes de seus pais, é pois merecedor desta evocação, na pertinência da efeméride.


Monteiro da Costa inicialmente fora um ponta-de-lança temível e depois distinguiu-se como médio, só lhe faltando praticamente ter sido guarda-redes, havendo jogado em algumas das melhores equipas de sempre do FC Porto, ao lado de Pedroto, Hernâni, Virgílio, Perdigão, Miguel Arcanjo, Carlos Duarte, Teixeira, Jaburu, etc. Com diversas curiosidades associadas, entre as quais permancece ainda a de goleador-mor portista contra o Benfica nos jogos em casa do FC Porto. Além de ter sido durante anos capitão de equipa e como tal ficado como um dos capitães mais famosos na memória portista.



A sua biografia foi inicialmente descrita no já referido pequeno livro que lhe foi dedicado pela coleção Ídolos do Desporto, de E. Carradinha, em 1956. Através de cuja brochura se sabe melhor antigos pormenores particulares, neste como em tantos casos, sendo que nesse tempo, com tais edições publicadas sobre figuras públicas do desporto, foi dado conhecimento interessante que certamente se teria perdido. Algo que hoje em dia infelizmente anda arredio das publicações, de ideias responsáveis mais viradas ao imediatismo.



Entre diversas publicações, consta também no livro dos Craques do FC Porto, edição de 2001 do jornal 24 Horas e da Editora Quidnovi.


Do mesmo Monteiro da Costa, anos volvidos, há uma biografia na Internet superiormente descrita pelo grande portista Fernando Moreira, em trabalho rotulado de “Dragões de Azul Forte”, incluído entre os dossiers do blogue “Bibó Porto carago”. Que engloba praticamente o que ficou para dizer sobre esse grande valor portista, nascido em São Paio de Oleiros, do concelho de Santa Maria da Feira, terra que mais tarde passou a ser residência do grande guardião Américo (guarda-redes do FC Porto de 1951 a 1969) e torrão natal do ciclista António Carvalho (neto de Alberto Carvalho, antigo ciclista do FC Porto entre 1966 a 1969; e ele próprio também entre 2016 a 2019 ciclista da equipa W52-FC Porto). Sendo assim António Monteiro da Costa deveras ligado a meios comuns portistas com auras superiores, sendo que posteriormente viveu em Arcozelo, do concelho de Gaia, onde ficou em descanso eterno, sepultado que está na terra de Santa Maria Adelaide, em cuja capela-museu se encontra a camisola com que Juary jogou na final de Viena.

«Monteiro da Costa – António Henrique Monteiro da Costa (n. São Paio de Oleiros, Santa Maria da Feira, 20 Ago.1928 / m. Arcozelo, V. N. Gaia, 2 Out.1984), representou o Sp. Espinho (1946-48) e a Oliveirense (1948-49) antes de ingressar no FC Porto, em 1949. Um dos chamados "pau para toda a obra", jogador polivalente, ocupou todas as posições exceto de guarda-redes.
• Para se aquilatar do seu valor e polivalência, veja-se o que se escreveu numa edição da revista “Cavaleiro Andante” dedicada a este extraordinário jogador do FC Porto: “Monteiro da Costa é a energia personificada. De temperamento combativo, sempre em ação, lutador destemido, o excelente “crack” do FC Porto derrama vigor em cada lance em que intervém. E de tal maneira se afirma a sua garra que, algumas vezes, dizem que ele chega a ser violento. Tem conhecido todos os lugares dentro da equipa do FC Porto. Foi avançado-centro, interior, extremo, defesa lateral e central, e hoje, graças à insistência do seu treinador, é médio. E foi neste último lugar que mais se puderam vincar as qualidades que o distinguem”.
• De facto, dando crédito ao que acima se leu, alinhou frequentemente como defesa-central, evidenciando segurança e qualidade. Outras posições em que tinha alto rendimento eram as de médio-ofensivo ou avançado. Concretizava inúmeros tentos nas balizas adversárias e, nos anos em que serviu o FC Porto (1949 a 1962), só no campeonato fez 72 golos em 270 jogos (enquanto no total das diversas provas marcou 97 golos em 328 jogos). Em Janeiro de 1951 foi o herói da extraordinária vitória por 2-0, sobre o Benfica, no Campo Grande em Lisboa, pois marcou ambos os golos.
• Atuou nas equipas excecionais que, nos anos 50, ganharam 2 Campeonatos e 2 Taças de Portugal. Colaborou com vários treinadores entre os quais os campeões Yustrich e Guttmann, jogou com excelentes futebolistas como Barrigana, Virgílio, Miguel Arcanjo, Osvaldo Cambalacho, Pedroto, Carlos Duarte, Jaburu, Carlos Vieira e Hernâni.

= Campeões de 1958/1959!

• O seu nome figura na lista dos "capitães" mais carismáticos da história do FC Porto, onde jogou ao longo de 12 épocas! Percorreu três décadas a jogar de camisola azul-e-branca vestida, pois ingressou no Clube em 1949 e acabou a carreira de jogador em 1962!

= Na função de capitão de equipa, na fase de transição da geração de cinquenta para a de sessenta.

• Jogador voluntarioso foi de uma entrega e dedicação inexcedíveis, nada regateando ao seu amado clube. Após a carreira de futebolista, nele perdurou a disponibilidade para ajudar o FC Porto. Em momentos difíceis da equipa aceitou comandá-la, como treinador (em parte das épocas 1974-75 e 1975-76).
• Internacional 6 vezes (duas na Seleção B e quatro pela A), tal como no seu clube usou de extraordinária abnegação com a "camisola das quinas" vestida. Nos “AA” estreou-se em jogo disputado no Estádio das Antas, ante a Áustria (1-1), em 23 Nov.1952, com os também portistas Barrigana e Ângelo Carvalho a fazerem parte da equipa. A última partida foi contra a Irlanda do Norte (1-1), em 16 Jan.1957, no Estádio José Alvalade (Lisboa). Nesse jogo alinharam pela Seleção Nacional cinco jogadores do FC Porto: além de Monteiro da Costa, também Virgílio, Pedroto, Hernâni e Fernando Perdigão.

= Num Festival noturno no estádio das Antas, empunhando a fâmula do futebol sénior, na frente, como capitão de equipa. Ladeado nas filas por Barbosa e Virgílio, reconhecendo-se ainda (e pouco mais, pela fraca visibilidade) entre outros, também Américo. =

• Depois de terminada a carreira de futebolista, Monteiro da Costa foi treinador. Eis o que, atestando o carácter e integridade moral de um grande Homem e desportista, diz dele um ex-pupilo: “Monteiro da Costa para além de jogador íntegro do FC Porto, foi um HOMEM que passou pelo Salgueiros e que para além de treinar os seniores, treinava com muito orgulho os juniores. Os treinos dos juniores começavam às 7 horas (da manhã) e ele esperava por nós, equipado, a correr à volta do velho campo Eng.º Vidal Pinheiro. Como Homem transmitiu valores que ainda hoje guardo e revelo a honra de lhe ter chamado “Mister”. Obrigado Sr. Monteiro da Costa”.
• Monteiro da Costa, o mais versátil futebolista de sempre do FC Porto, um grande exemplo de "amor à camisola", um coração azul-e-branco, um Homem de integridade perfilhada, uma grande glória do Clube!

Carreira no FC Porto ( como jogador)
1949-50 a 1961-62

Palmarés
2 Campeonatos Nacionais (1955-56, 1958-59)
2 Taças de Portugal (1955-56, 1957-58)»

Como treinador, passou por alguns clubes e chegou mesmo a ser treinador adjunto e principal do FC Porto, neste caso interinamente – tendo, em momentos difíceis da equipa sénior do FC Porto, aceitado o comando como treinador responsável, em parte das épocas 1974/75 e 1975/76.


Ressalta por entre tão importante carreira, em suma, o facto assinalável de Monteiro da Costa ser o melhor marcador da história dos jogos entre FC Porto e Benfica com os Dragões na qualidade de visitados.

Efetivamente, entre os jogos entretanto realizados dos FC Porto-Benfica para a Liga portuguesa (contabilizando apenas os jogos com os Dragões como anfitriões), aflorando uma questão sobre quem quem é o maior goleador de sempre deste clássico – podendo pensar-se em mais recentes grandes goleadores, como Fernando Gomes, Jardel ou até Domingos ou ainda Hulk ou Falcao – há que recuar na história e trazer à memória o nome  de Monteiro da Costa.


Tratando-se de António Henrique Monteiro da Costa, médio/avançado que entre as épocas 1949/50 e 1961/62 jogou por 328 vezes marcou 97 golos com a camisola do FC Porto. Chamavam-lhe Homem Canhão e participou nas conquistas de dois Campeonatos Nacionais (1955/56 e 1958/59) e duas Taças de Portugal (1955/56 e 1957/58).


Rei dos classicos FC Porto-Benfica marcou oito golos em jogos do FC Porto como visitado pelo rival vermelho, dos quais lhe advém o título de maior goleador nesse confronto em jogos disputados do FC Porto como clube anfitrião nos chamados jogos do ano para a mais importante prova do futebol nacional. Bisou no duelo de 1950/51 no Campo da Constituição e depois já no estádio das Antas apontou mais seis golos aos lisboetas, entre as temporadas 1952/53 e 1957/58.


“Atleta pundonoroso, enérgico e esforçado. António Henrique Monteiro da Costa é, incontestavelmente, um dos elementos mais representativos do futebol – no nosso Clube e no Desporto Nacional”, lê-se, numa publicação datada de 1960. O Homem Canhão jogava em qualquer posição (só lhe terá faltado a baliza) e é uma espécie de protótipo do chamado jogador à Porto. Foi capitão durante vários anos e ainda treinador interino e treinador adjunto nos anos 1970. Faleceu em outubro de 1984» (na terra da considerada santa Maria Adelaide, em Arcozelo, onde está a camisola com que Juary marcou o golo da vitória de Viena).


«Monteiro da Costa, que foi por quatro vezes internacional português pela seleção principal – num tempo em que os jogos de seleções eram muito mais raros – foi contemporâneo do guarda-redes Barrigana, de Miguel Arcanjo, Hernâni, Jaburu, José Maria Pedroto e Virgílio, o leão de Génova.»


Ora, Monteiro da Costa, que em parte da sua carreira foi médio e distribuidor de jogo, como se diz em linguagem desportiva, além de ter ainda sido defesa, começou por ser avançado e, na posição dianteira do campo. Depois de em 1949 ter aportado ao FC Porto, em chegada que se revelou feliz, após sua aquisição confirmada em finais de agosto desse ano.

Muito mais tarde, anos após ter descalçado as chuteiras, como faz parte da História, foi também treinador, passando por diversas equipas, tendo sido com ele que a Sanjoanense subiu à 1ª Divisão em 1966. Mister que se estendeu ao FC Porto, onde chegou a ser treinador  quer das camadas jovens como episodicamente da equipa senior, a treinador adjunto e depois principal, tendo tido a honra de treinar o grande Cubillas, entre outros - conforme se pode rever por imagem coeva. 


ARMANDO PINTO
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