A mudança acontecida com o histórico 25 de Abril em 1974 tem
naturalmente peculiares marcações, atendendo às transformações operadas nos
mais variados aspetos da vida portuguesa, quer política, como civil e mesmo
desportiva. Embora no campo desportivo a fase de transição haja sido mais lenta
e quase inexistente, tendo sido necessário haver temporal de clamor contra os
roubos de igreja para que alguma coisa fosse acontecendo, a partir do fim do
sistema BSB. Com o que se seguiu e se sente ainda.
Ora, pela esperança que raiou com a madrugada de Abril,
aqueles dias de antes e depois ficaram para sempre como balizas de
enquadramento, pelo objetivo anteriormente suposto e posterior alvo idealizado.
Por isso há a célebre questão do que eramos e onde estávamos aquando do 25 de
abril.
= Plantel do FC Porto em 1973/1974. Imagem de arranjo
gráfico, constante em postal da época.=
Pois no que se relaciona com o FC Porto e tomando como fundo
cénico o futebol, como parte sentidamente mais visível da existência dos clubes,
o FC Porto teve a particularidade de dias antes e pouco depois ter jogado com o
mesmo adversário e obtido idêntico resultado. Tal o que aconteceu por duas
vezes com o Barreirense, em dois jogos com curto espaço de tempo entre si.
Tendo então havido dois “Porto-Barreirense” seguidos, e ambos no estádio das Antas, um
para o Campeonato a 21 de abril de 1974 e outro para a Taça de Portugal a 28 de
abril seguinte, com vitórias do FC Porto por 1- 0. Em cujos desfechos valeram os golos marcados por dois dos avançados de boa memória: Para o campeonato marcou
Nóbrega, enquanto para a Taça apontou Abel.
Para a história fica a constituição da equipa portista,
dessas duas oportunidades.
No jogo do Campeonato Nacional, à 27ª jornada, nas Antas, o
FC Porto alinhou com Tibi, Rodolfo, Ronaldo, Rolando, Guedes, Bené (depois
Gualter), Cubillas, Oliveira (depois Ricardo), Abel, Flávio e Nóbrega.
Para a Taça de Portugal, em eliminatória dos oitavos de
final, também nas Antas, a 28 de abril: Tibi, Rodolfo, Rolando, Ronaldo, Guedes,
Vieira Nunes, Bené, Cubillas, Oliveira, Abel e Nóbrega.
Era ao tempo treinador principal do FC Porto Bella Guttmann,
trazido pelos responsáveis do clube nesse tempo, num regresso algo
incompreensível, depois do que acontecera com o abandono dele em 1959. Retornando à última vez já idoso, sem conseguir repetir o antigo êxito.
É do jogo do Campeonato a imagem da equipa perfilada, antes
do início desse prélio de 1973/74 concluído com o primeiro 1-0, a 21/04/1974.
Vendo-se, a seguir a um árbitro auxiliar (e da esquerda para a direita): Rolando,
Oliveira, Rodolfo, Cubillas, Nóbrega, Guedes, Abel, Tibi, Ronaldo, Flávio e
Bené.
Nesses comenos o FC Porto estava praticamente já arredado do
título, por costumeiros fatores estranhos, à moda do antigo regime. Coisa a que
nem era permitido ripostar publicamente, sequer, pois que até o jornal O Porto
era visado pela oficial censura estatal. Mas, como de tantas outras vezes, o FC
Porto tinha sido afastado de poder discutir o primeiro lugar. Como aliás está
deveras explanado no livro publicado com chancela do jornal A Bola, sob título "Glória e Vida
de 3 Gigantes".
À época, aquando do Porto-Barreirense do campeonato, estavam
ainda detidos os militares do ensaio do golpe das Caldas. Dias depois, o Porto-Barreirense
da Taça já ocorreu com outro ambiente, mesmo para quem então pouco sabia de
política.
Para que tais coisas não passem ao esquecimento e
permaneçam no conhecimento, memoriza-se mais estas curiosidades, a propósito do
25 de abril comemorado nestes dias de confinamento geral. Por entre lembranças,
de permeio ilustradas com imagens relacionadas.
Armando Pinto
((( Clicar sobre as imagens )))
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