A 28 de abril de 1922 nascia em Alcochete, Frederico
Barrigana. Um indivíduo bem masculino conforme mais tarde ficou celebrizado, de
mãos férreas a agarrar a bola, como guarda-redes destemido do Futebol Clube do
Porto.
Esse jovem mancebo, Barrigana, um dia veio para o Porto
substituir o guarda-redes Soares dos Reis II (José, irmão do internacional Manuel
Soares dos Reis, mais velho). E tinha o mesmo nome de seu pai, Frederico
Barrigana, sendo a mãe Maria Gertrudes. Era o terceiro duma prole de quatro rapazes,
que quando já ficaram órfãos de pai foram com a mãe morar para a cidade do
Montijo. Onde o jovem Barrigana se iniciou no jogo da bola em pleno campo do
clube local. Dando nas vistas ainda nos juniores do Unidos do Montijo, subiu aos seniores,
em cuja categoria agarrou logo o lugar de guarda-redes das Reservas (equipas B
ao tempo) e depressa passou a titular da equipa principal. Depois disso, foi
convidado a ir representar o Sporting, quando tinha 20 anos. Esteve três anos a
suplente de Azevedo no Sporting e depois, por fim, rumou ao Porto, onde ganhou
calo na guarda da baliza portista e mais tarde agarrou o mesmo lugar na seleção nacional,
ficando para a história como um dos melhores guarda-redes de sempre que
passaram pelos campos e estádios de futebol.
Frederico Barrigana, ou o “mãos de ferro”, como ficou
popularizado a partir de assim ter sido chamado por um jornalista francês após um
jogo da Seleção Nacional, foi o substituto do sportinguista Azevedo na seleção,
depois de o ter encontrado a titular no Sporting. Havia estado antes no clube verde e branco, em que se
manteve três épocas, acabando por vir para o FC Porto, que estava à procura de
um guarda-redes para colmatar a vaga deixada pela saída do húngaro Béla
Andrásik e a entrada de recurso de Soares dos Reis II. Assim Barrigana mudou-se
para a cidade do Porto e rapidamente agarrou a titularidade da baliza portista.
A estreia de Barrigana com a camisola dos Dragões aconteceu numa
quarta-feira, a 2 de Dezembro de 1943, alinhando ao lado dos craques da época,
diante da Sanjoanense, a quem o FC Porto venceu folgadamente por 11-2, em jogo
particular. Havia sido iniciado o Campeonato dessa temporada, no domingo anterior. Volvidos três dias da entrada na equipa, era já ele o tiular oficial, jogando a 5 do Dezembro no Campo do Bem-lhe-vai em Guimarães, na estreia em jogos
oficiais com o emblema do Porto ao peito, tendo o jogo terminado num empate
de 2-2, com o FC Porto reduzido a nove jogadores e inclusive com Pinga a jogar
a defesa, na ajuda aos companheiros obrigados a desdobrarem-se, nessa partida a
contar para a 2ª jornada do Nacional da época de 1943/44.
Encontrou Barrigana, pois, ainda o consagrado Pinga na
equipa, quando entrou na formação principal do FC Porto, em cuja equipa
alinhavam também Camilo, Alfredo Pais, Pocas, Maiato, Sárrea, Lourenço, António
Araújo, Correia Dias, Gomes da Costa, Catolino, etc.. Tendo depois assistido ao final de carreira do
grande Artur de Sousa Pinga. Em tempo que o clube passava por mais uma fase de
transição entre gerações de jogadores e de crescimento do clube como
instituição sócio-desportiva.
Já com o lugar de guardião do FC Porto bem firme e de fama
alargada por vistosas exibições, o então titular no FC Porto, Barrigana, estreou-se
pela principal Seleção Nacional a 21 de Março de 1948 (depois de antes ter jogado na secundária Seleção B a 3 de Maio de 1947) e, em tempo de poucos jogos de
seleções, foi 12 vezes internacional na Seleção A e 1 na B - entre 1947 a 1954.
Esteve Barrigana durante 13 temporadas ao serviço do F.C.
Porto, entre 1943 até 1955, numa era marcada por ausência de conquista de campeonatos nacionais, embora
de permeio com célebres jogos internacionais em que o FC Porto conseguia
mostrar seu valor, como foi o caso do celebérrimo encontro com o Arsenal de Londres. Enquanto, pelo meio, ajudou o clube da Invicta a conquistar por quatro vezes o
Campeonato do Porto e por três vezes a Taça Associação de Futebol do Porto.
Em 1947 recebeu uma oferta do Vasco da Gama, do Brasil, que o queria
contratar e lhe oferecia 10 vezes mais do que aquilo que ganhava no Futebol
Clube do Porto, mas Barrigana rejeitou e preferiu continuar de Dragão ao peito.
Quem não teve a mesma ideia, mais tarde, foi Yustrich, o
treinador que 1955 ao chegar para treinar a equipa portista dispensou o guardião,
junto com mais outros valores como Ângelo Carvalho e Porcel, trio que então se
mudou para o vizinho Salgueiros. No clube de Paranhos esteve Barrigana
ainda durante três temporadas, ajudando o clube a subir de divisão e ali acabou
por abandonar a carreira de futebolista em 1958.
Dizia-se popularmente que era um guarda-redes "maluco",
no sentido de destemido e desinibido, não apenas dentro do campo. Sendo certo
que deixou obviamente a sua marca na história do futebol português.
= Américo, Vítor Baía, Barrigana e Acúrcio – encontro de quatro
grandes nomes da baliza do FC Porto (quando ainda estavam todos vivos, havendo
entretanto falecido Barrigana e Acúrcio), representando gerações célebres de guardiões
portistas.
António
Lobo Antunes até lhe dedicou uma crónica, que ficou famosa e tem sido citada em
diversos locais de diversos modos e feitios.
Faz parte esse texto do livro de Crónicas daquele clássico
escritor, por acaso até benfiquista, mas admirador do grande guarda-redes do FC
Porto. Sendo tal crónica apreciável no cunho literato desse escritor de renome, ainda
que algo difícil de ler nalgumas das suas narrativas, enquanto noutras tem partes
encantadoras e que fazem escorregar a leitura para lembranças a condizer com coisas
de quem estiver a ler.
Atente-se então na crónica intitulada “O Grande Barrigana”, por Lobo Antunes:
«De há quarenta anos para cá, com entusiasmo, fervor e
admiração, vi jogar quase todos os grandes guarda-redes portugueses, do
inesquecível Azevedo, "Hércules do Barreiro", a José Pereira, o
"Pássaro Azul". Vi o gigantesco Ernesto, do Atlético, o terror dos
extremos, vi Abraão, do Olhanense, vi Cesário, do Sporting de Braga, na tarde
de glória, no pelado do Benfica, em que defendeu todos os remates de Palmeiro,
Arsénio, Águas e Rogério, vi Capela, da Académica, e Sebastião, o loiro Nero do
Estoril Praia, célebres pelos seus voos acrobáticos, vi o fantástico Aníbal, de
poupa trabalhada a brilhantina, vi o caprichoso Carlos Gomes pontapear
fotógrafos antes de se transferir para Espanha e de ameaçar o presidente do
clube, quando não lhe pagavam, com a irónica frase 'no hay dinero no hay
portero', acompanhei o Vital, do Lusitano de Évora, que sulcava a relva com o
calcanhar pensativo da bota, para marcar o centro da baliza….»
(Claro que António Lobo Antunes, como benfiquista e adepto
de futebol mais de outros tempos, não conheceu o valor de Américo, por ter sido
espetador mais de jogos em campos da zona de Lisboa e Vale do Tejo, onde os do
Norte também calhassem de ir em dias dele lá ir… Tendo conhecido Frederico Barrigana
melhor já em África, quando esteve na tropa e o Barrigana treinava a miudagem lá
onde Lobo Antunes cumpria tempo de tropa.)
«E todavia, para meu desgosto e frustração, nunca assisti a
nenhum jogo do meu ídolo Frederico Barrigana, o 'Mãos de Ferro', keeper do FC
Porto. No intuito de compensar tal desdita, recortava, embevecido, do jornal,
os instantâneos que o mostravam a saltar com um avançado, apertando-lhe contra
as partes o joelho dissuasor (porquê partes se não inteiras?), a fim de esfriar
os ímpetos assassinos do adversário; admirava-lhe a calvície e o boné que a
cobria numa exatidão de cápsula; colecionava-lhe as entrevistas e escutava,
boquiaberto, na telefonia do meu pai, de dedos em concha na orelha, os relatos
de Artur Agostinho, que, aos domingos, às 3 da tarde, narrava em tom épico, as
proezas do grande Frederico Barrigana num estádio a rebentar de público. Aos 12
anos, se eu não desejasse, com tanta paixão, tornar-me escritor, quereria ter
sido o "Mãos de Ferro". Mas, claro, possuía o sentido das limitações
suficiente para compreender que não se pode querer ser o grande Frederico
Barrigana: é-se, por dom divino, perfeito como ele só, desde o início. (…)»
O Mãos de Ferro, Frederico Barrigana, após curta carreira de teinador nalguns clubes, como depois de ainda ter
sido treinador de guarda-redes no FC Porto (e por interferência do ao tempo já treinador
principal Pedroto ter ficado a receber uma pensão como reconhecimento do FC Porto), morreu
no dia 30 de Setembro de 2007 no Hospital de Águeda, vítima de doença pulmonar.
= Barrigana, junto com Pedroto, mais o Prof. Hernâni Gonçalves, António Morais, da equipa técnica e Pinto da Costa, então Chefe do Departamento de Futebol do FC Porto, bem como alguns amigos, aquando da conquista da Taça de Portugal de 1976/77. Cujos festejos na ocasião, decorriam no hall de entrada do estádio das Antas, como se nota pelos quadros com fotos de Siska e Pinga, que ali estavam na galeria de figuras históricas do grande clube.
Armando Pinto
((( Clicar sobre as imagens )))
Tenho esta Biografia mas com uma particularidade. Assinada pelo Sr. Barrigana em Angeja.no dia 5 de Agosto de 2004 , em casa dele.
ResponderEliminarViva amigo. Não costumo publicar comentários anónimos, mas publiquei este por ver que é com boa intenção. Mas seria bom pelo menos no fim do comentário colocar o nome, para sabermos quem é. Pode ser? Abraço.
ResponderEliminarGrande Frederico Barrigana! Convivi com ele muitos anos… Excelente texto! Obrigado
ResponderEliminarNuno Oliveira