A 12 de maio de 1941 Aniceto Bruno, ciclista dos primeiros tempos
do ciclismo portista, venceu o Circuito do Estoril.
Esta notícia desse longínquo ano, a calhar como efeméride, traz
à lembrança, na oportunidade, a memória desse ciclista dos tempos de implantação
da modalidade das bicicletas no seio do grande clube nortenho.
Ora, o ciclismo, embora tenha tido princípios precisamente no
Norte de Portugal, como até teve os primeiros velódromos em Matosinhos e no
Porto, por sinal ambos ligados à história embrionária do FC Porto, depois passou
a vigorar mais a sul, onde durante largos anos teve maior atividade e impacto.
De tal forma que nas edições mais antigas da Volta a Portugal (iniciada em
1927) e até à década dos anos 40, o Norte não tinha possibilidades de concorrer
em igualdade, não constando na realização da maior prova com igual número de ciclistas.
Sendo necessário entretanto ter havido uma campanha para ter passado a haver
idêntico número de inscritos, em igualdade de todos os clubes e regiões. De
modo que, apesar da primeira experiência duma participação do FC Porto na Volta
a Portugal em Bicicleta ter acontecido em 1934, ainda com poucos ciclistas e tendo de
recorrer à inscrição de duas equipas (fortes e fracos, tipo de primeira
categoria e reservas, com quatro e dois ciclistas, respetivamente) foi a partir
de 1941 e (com a 2ª Grande Guerra pelo meio) depois de vez em 1946, que o clube
azul e branco da Invicta entrou na alta-roda do ciclismo português.
Então, após as primeiras
pedaladas, foi desde a entrada de Aniceto Bruno no FC Porto que começaram a
aparecer resultados salientes. Tendo com a camisola do FC Porto, já bem
integrado no Norte, ele que viera do Litoral da Estremadura, Aniceto foi 1º no
Circuito do Estoril, em Maio de 1941. Continuado depois em lugares da
dianteira. Tanto que, passados tempos, seria 3º na Volta a Portugal também em
1941. Como depois a 29 de setembro do mesmo ano de 1941 venceu o Circuito da
Curia.
De nome completo José Aniceto Bruno, esse ciclista natural de Peniche havia começado como popular e depois de no princípio de carreira ter corrido pelo Belenenses, rumou ao Norte de Portugal e ingressou no FC Porto em 1935 (conforme está registado no Relatório e Contas do FC Porto da Gerência desse ano), tendo com a camisola do maior clube Nortenho corrido sensivelmente até 1951.
Ainda nos seus princípios de ciclista no Norte teve sua primeira vitória, havendo sido vencedor do Circuito de Aveiro, em 1936. Depois, como o FC Porto interrompeu sua atividade, retornado Aniceto ao Belenenses foi 3º classificado numa etapa da Volta a Portugal de 1939, e de seguida integrou a equipa de Portugal nesse mesmo ano na corrida Madrid-Lisboa, que foi única edição duma prova de ciclismo entre as capitais de Espanha e Portugal. E ainda se posicionou em 6º na Classificação Geral da Volta a Portugal. Tendo entretanto o FC Porto reorganizado o ciclismo em 1939, regressou novamente ao Porto e no FC Porto ganhou estatuto de grande nome do panorama do ciclismo português, através de longa carreira.
Assim no FC Porto em Março de 1941 Aniceto cotou-se como
vice-campeão do Norte, ao se ter classificado em 2º lugar no Campeonato Regional
do Norte, em que triunfou o colega de equipa Alberto Raposo, completando o pódio
José Pardal, também do FC Porto. E, de seguida, em Maio do mesmo ano venceu
então o Circuito do Estoril. Bem como, passados meses foi 2º classificado na
12ª etapa da Volta a Portugal, em Mirandela, para no final ter
conseguido ser 3º na Geral da Xª Volta a Portugal desse mesmo ano de 1941, corrida
em Agosto. Cujo 3º lugar na classificação da Geral final na 10ª Volta a
Portugal era algo inédito para o ciclismo portista. E continuando nessa
pedalada destacável, depois a 29 de setembro do mesmo ano venceu o Circuito da
Curia.
= Gravura, de Aniceto Bruno com Alberto Raposo, colega
durante algum tempo no FC Porto. Imagem do livro “Em Memória de Eduardo Lopes – Glória
e Drama de um Campeão de Ciclismo”, de Eduardo Cunha Lopes (sobrinho desse
ciclista que representou Iluminante, Benfica, Sporting e Cuf, sendo colega de
corridas nacionais e internacionais do tempo de Aniceto Bruno).
Volvidos tempos, em 1943 foi já Aniceto Bruno que se sagrou
Campeão do Norte, tendo vencido o Campeonato Regional do Norte, prova da então
UVP-União Velocipédica Portuguesa (seguido de Jerónimo Souto e Belmiro Correia
do Académico, e em 4º Império dos Santos do Salgueiros). Enquanto em 1944
Aniceto foi 2º (atrás do salgueirista Império dos Santos e à frente de Belmiro
Correia do Académico do Porto).
Seguidamente, como resultados mais vistosos, em 1945 Aniceto
foi 10º no Campeonato Nacional de Estrada, na categoria de Elite; como
conseguiu ser 3º na 5ª Etapa da Vuelta a España, em Sevilha
(Andaluzia), e foi 2º na 13ª Etapa da mesma Vuelta a España, em Bilbau (Pais
Vasco).
Com efeito em 1945 Aniceto Bruno fez parte da Seleção
Portuguesa que participou na Volta a Espanha, em equipa composta por Francisco
Inácio, Eduardo Lopes, Jorge Pereira, Império dos Santos, Aniceto Bruno, João
Lourenço, Júlio Mourão e João Rebelo – que estão, por esta ordem, na foto
(retirada também do referido livro de Eduardo Cunha Lopes).
Na continuidade das corridas, ganho estatuto clássico de
ciclista carismático dentro de sua equipa, Aniceto Bruno passou a correr mais
para a equipa, com sentido coletivo, como "chefe de equipa e orientador", enquanto foram surgindo novos valores que foi
amparando, como Onofre Tavares, Fernando Moreira, Dias dos Santos e outros.
= Equipa do FC Porto de Ciclismo de 1946 - Da esquerda para
a direita: Dias dos Santos, Joaquim Costa, Fernando Moreira, Joaquim Sá,
Aniceto Bruno, José Novais e Onofre Tavares.
= Equipa de ciclismo do FC Porto que venceu individual e
coletivamente a Volta a Portugal em bicicleta em 1948 - da esquerda para a
direita: Fernando Moreira (Vencedor da Volta), Fernando Moreira de Sá, António
Dias dos Santos, Aniceto Bruno, Joaquim Costa, Joaquim Sá, Amândio Cardoso,
Grausse e Berrendero.
= Equipa do FC Porto de Ciclismo de 1951, participante na
XVIª Volta a Portugal em Bicicleta - da esquerda para a direita: Dias dos
Santos, Fernando Moreira de Sá, Luciano Moreira de Sá, Amândio Cardoso, Joaquim
Costa, Onofre Tavares, Amândio de Almeida, Aniceto Bruno e Joaquim Sá.
Em Maio de 1951, no seu último ano de ciclista, venceu o II Circuito de Felgueiras, prova englobada no programa oficial da Feira de Maio, tradicional festividade da cabeça desse concelho do Douro Litoral.
Tendo colocado um ponto final na carreira no final da época
de 1951, acabou por ter uma festa de despedida em Setembro imediato, a que se
associaram todos os seus antigos colegas e pupilos. À qual se reporta a imagem,
da revista Stadium de 3 de outubro de 1951.
Volvidos anos, e ainda em sinal de seu carisma, Aniceto Bruno foi quem prefaciou o livro dedicado em 1957 à carreira de Onofre Tavares, o “Rei do
Sprint”.
Armando Pinto
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