Em contos de encantamento, com princesas e príncipes, sempre
houve entre fadas e duendes, reis e rainhas, também histórias metendo
personagens simpáticos em planos seguintes, desde acompanhantes de realeza até
guardadores de sonhos e outros que tais. Ao jeito do que, saltando à realidade
histórica desportiva, como quem pula entre os postes duma baliza de futebol, se chega a uma bola saltitante como que a resgatar a memória relacionada com um guardador
da baliza. Tal o que aqui recordamos desta feita, lembrando o caso do
guarda-redes Rui, que em sua longa carreira desportiva foi um segundo
guarda-redes de luxo do FC Porto durante muitos anos, enquanto suplente da
equipa principal do futebol portista. Sendo ao longo de sua vida futebolística
no escalão sénior, sempre como elemento do FC Porto, muito apreciado pela sua fidelidade
clubista.
De nome completo Rui Fernando de Sousa Teixeira, nasceu a 27 de
Setembro de 1942 na Mealhada, esse que em seu tempo era o mais antigo jogador em
atividade do FC Porto, onde chegou em 1958 para incorporar a equipa de Juniores
e a partir de 1961/1962 fez parte do plantel dos seniores, até 1978/1979.
Tendo de permeio sido internacional pela seleção portuguesa
de juniores em 1960, Rui ganhou galões de campeão europeu, como integrante da
equipa que conquistou em 1961 o Torneio Internacional de Juniores, como ao
tempo era chamado o Campeonato Europeu da mesma categoria; e, já como sénior e
entretanto haver alcançado o posto de suplente na equipa principal do FC Porto,
foi ainda internacional pela Seleção Nacional Militar, que ao tempo disputava torneios
dessa especialidade. Além de, em 1964/65, ter chegado a ser suplente, também,
na Seleção Nacional A em dois jogos da fase de apuramento para o Mundial de
Inglaterra. Havendo entretanto e posteriormente, no decurso de 18 anos ao
serviço do FC Porto, tido participações nas vitórias alcançadas pelo FC Porto
na Taça de Portugal de 1967/68 e 1976/77, assim como foi campeão nacional utilizado
no Campeonato de 1977/78.
Rui Teixeira teve início de carreira no mundo do futebol nas
camadas jovens do clube da sua terra natal, Grupo Desportivo da Mealhada, havendo
merecido a atenção do abade local e portista Padre Ferreira Dias, pároco de
Casal Comba, pela classe que já evidenciava na Mealhada. Então o Padre Cénego Ferreira
Dias indicou-o ao F.C. do Porto, em decisiva ocorrência na sua transferência
para a cidade invicta.
Depois de uma curta passagem antes verificada pelo Belenenses, à experiência, Rui chegou no ano de 1958 aos juniores do Futebol Clube do Porto. Tendo começado
desde logo a brilhar na baliza dos jovens Dragões, o que lhe valeu chamada à
Seleção Nacional de juniores que em 1960 participou no Torneio Internacional da
UEFA disputado na Áustria. Onde Rui fez a sua estreia em jogo empatado a zero (0-0) frente
à Itália, numa competição em que Portugal foi 3º classificado. Seguidamente, continuando dono da baliza dos juniores
portugueses, em 1961 alcançou algo mais, na Seleção júnior então treinada por
José Maria Pedroto, com a conquista do Torneio da UEFA / Campeonato Europeu que
teve lugar em Lisboa e no qual alcançou a vitória em tal torneio de maior nomeada do
escalão júnior europeu, ao tempo. Os jovens portugueses, selecionados por David Sequerra e orientados por Pedroto,
conquistaram a prova depois de vencerem a Polónia, na final, por 4-0. Essa
vitória no Campeonato da Europa foi o trampolim perfeito para Rui vir a assumir
um lugar no plantel principal do FC Porto da época seguinte.
Assim foi natural que na temporada de 1961/62 e com apenas
19 anos já fizesse parte do plantel superior do FC Porto, embora como suplente,
mas como “sobresselente” principal (como à época era vulgar dizer), visto haver
mais guarda-redes à espera de oportunidade. Sendo porém titular da equipa de Reservas,
na qual conquistou depois diversos títulos da Taça da Associação respetiva. Contudo
sem grandes possibilidades de maior ascensão, porque encontrou a concorrência
de Américo, guarda-redes de grande valia muito querido dos apoiantes; e então Rui raramente
saiu do banco de suplentes.
Entretanto, entrado no serviço militar obrigatório, o mesmo guarda-redes suplente do FC Porto foi
chamado a representar a Seleção Nacional Militar, por diversas vezes. Totalizando,
entre jogos pela Seleção júnior e pela Seleção Militar, 9 internacionalizações.
Na Seleção Militar Rui teve primeiramente a companhia dos
seus colegas de equipa Pinto, Nóbrega e Jaime, mais Atraca, e noutros encontros (como mostra
a foto abaixo) a dupla Pinto e Nóbrega, emparceirando com Eusébio e Simões do
Benfica, José Carlos e Pedro Gomes do Sporting, Ribeiro do Belenenses, Jaime
Graça do Setúbal e outros mais.
Mesmo assim ainda chegou na primeira época de sénior a defender a
baliza portista, tendo entrado como substituto num jogo, para o lugar
de Américo que se lesionara, e assim manteve-se titular em mais 2 jogos para o
campeonato e 1 para a Taça de Portugal; bem como nas seguintes temporadas fez
mais alguns jogos – 4 para a Taça de Portugal e 1 na Taça das Cidades Com Feira,
em 1962/63; e em 1963/64 mais 2 no Campeonato Nacional, 4 para a Taça e 1 na internacional
Taça das Cidades com Feira (antecessora da Taça UEFA/Liga Europa).
Depois em
1964/65 já o jovem guarda-redes teve oportunidade de jogar com regularidade,
após lesão de Américo e (como os números das camisolas eram de 1 a 11) então
Rui vestiu a camisola n.º 1 do FC Porto em 14 jogos do Campeonato, 2 da Taça e 1
da tal das Feiras, dividindo a titularidade da baliza portista com o "monstro sagrado" Américo. Em
cuja pertinência Rui foi selecionado para os trabalhos da seleção principal
portuguesa, tendo estado como suplente da Seleção A Nacional nos jogos contra a
Turquia e Checoslováquia de apuramento para o Mundial de 1966.
= Vitória do FC Porto pela segunda vez no Troféu Luís Otero, em Espanha.
Após essa “alvazelha”, tudo voltou à situação anterior,
tendo nas temporadas seguintes Rui regressado ao banco de suplentes, com mais
alguns jogos de permeio efetuados – 9 em 1965/66, no total das diversas competições
da época, mais 8 em 1966/67 e 2 em 1967/68, sendo que parte de um desses foi na
Taça de Portugal que depois veio a ser ganha pelo FC Porto. Até que em 1968/69,
tendo jogado em 7 jogos do Campeonato e 1 na Taça, foi titular na parte final
da época após o histórico afastamento de Américo, Pinto e Gomes, e por fim devido ao Américo ter tido recaída de lesão que o vinha apoquentando e o obrigou a
terminar a carreira.
= Plantel do FC Porto em pose de conjunto, na parte
final da época 1968/69 (já quando Américo se encontrava a contas com a lesão
que o afastou da prática do futebol) - Ao tempo estava interinamente, como
treinador substituto, António Morais.=
Américo Lopes tivera uma carreira deveras longa, a pontos que na coleção Ídolos do Desporto, em voga nesses tempos de romantismo desportivo, ter sido intitulado num dos livros a ele dedicado como "Guarda-redes Eterno". Ora Rui, eternizado como seu substituto, pode-se dizer que ficava na memória como "Eterno suplente-efetivo", pela efetiva longevidade, como tal.
Assim sendo na temporada de 1969/70 Rui foi novamente titular,
mas então também ele se viu a contas com uma lesão que o obrigou a dividir a
baliza com colegas de posto, à época, e como período de transição que era, à
nova realidade, isso levou a experiências e situações que resultaram numa
classificação pouco condizente aos pergaminhos do clube, tendo nessa época o F.C.
Porto utilizado um total de 5 guarda-redes (Rui, Aníbal, Vaz, Frederico e
Antenor) e acabado o campeonato em 9º lugar.
No ínterim desses tempos, Rui foi chamado também a jogar na seleção representativa da Associação de Futebol do Porto algumas vezes, em
jogos que nessas eras aconteciam em intercâmbio das respetivas organizações.
Na temporada de 1970/71, empreendida uma natural renovação
na equipa (com a vinda de Abel, Manhiça, Bené, regresso de Lemos, entre
diversos exemplos, e regressado que foi às Antas o guarda-redes Armando, que se
notabilizara no Braga, depois de ter sido formado no FC Porto), então Rui
começou a época como suplente de Armando, que jogou na digressão efetuada à Venezuela e restantes
jogos da pré-época, tendo Rui depois voltado à titularidade a partir da quinta
jornada do campeonato, embora de permeio alternando mais algumas vezes com o mesmo
Armando Silva, seu colega de posto. Enquanto nas duas temporadas seguintes já Rui
Teixeira vestiu a camisola nº 1 do clube na maior parte dos jogos.
Passado esse período de regular utilização, no final do
campeonato de 1973 e sobretudo em 1973/74 Rui voltou ao posto de suplente,
depois da entrada de Tibi. E com esse novo colega Rui teve que gerir a
permanência como segundo guarda-redes; até que também a partir da última parte
do campeonato de 1976 voltou a jogar de início, mas logo em 1976/77 retornou a
suplente, perante a entrada de Torres,
aquando do empréstimo de Tibi (em período sabático fora do clube). Sendo como
substituto, pronto para o que desse e viesse, que Rui foi nº 12 na conquista da
Taça de Portugal da época 1976/77 – como ficou mesmo registado na pose da equipa
da final, com efetivos e suplentes conjuntamente.
Por esses lustros Rui foi alvo de uma ação de gratidão do clube,
através dum jogo em sua homenagem disputado no Estádio das Antas a 1 de Junho
de 1977, por meio dum género de festival em que se realizaram jogos entre FC
Porto-Equipa de ex-jogadores do clube e Gondomar-Rio Tinto (clubes do concelho
de sua residência). De cuja festa se dá à estampa uma imagem do respetivo
bilhete, que na altura custou 50 escudos!
Rui ainda marcou presença nos Dragões durante a seguinte
temporada de 1977/78, em que disputou parte de 1 jogo, na consagração da vitória do
campeonato finalmente conquistado (era então Fonseca o titular) e continuou em
1978/79 a fazer parte do plantel, embora sem ter jogado oficialmente. Pondo aí
ponto final na carreira de futebolista. Enquanto ficava com honroso currículo de ter
sido Campeão Nacional, sendo um dos vencedores do Campeonato Nacional da 1ª Divisão
de 1977/78, e vencido também pelo FC Porto duas Taças de Portugal, em 1967/68 e
1976/77, assim como cinco Taças Associação de Futebol do Porto, de Reservas (Equipas B), correspondentes
às épocas de 1961/62, 1962/63, 1963/64, 1964/65 e 1965/66, no decurso de longa
estada no clube, sempre com o emblema do FC Porto na sua camisola.
Com efeito, Rui esteve todas as 18 temporadas que realizou como
sénior ao serviço dos Dragões, o que é uma raridade e um exemplo de dedicação
ao clube. No qual mais tarde continuaria sua vida, regressando em 2010 como
treinador de guarda-redes dos escalões de formação.
Atualmente, em plena temporada de 2017, Rui ainda é treinador dos guarda-redes da equipa
de Sub-19 do FC Porto.
Recordamos assim este que foi célebre suplente na história
do FC Porto, o guarda-redes Rui. Não sendo vulgar o facto de um jogador
representar um clube durante tanto tempo e na sua condição, como Rui que permaneceu
no FC Porto durante 18 épocas consecutivas, e quase sempre como suplente.
Sensacional. Bonito e sintomático.
Armando Pinto
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