A 28 de AGOSTO de 1960, domingo de final do tempo estival por
excelência, terminava a Volta a Portugal em bicicleta com o triunfo de Sousa Cardoso,
ciclista do FC Porto que detinha grande admiração entre os adeptos portistas. Quão nele se depositava a fé em vitórias para as cores do FC Porto depois de
suas prestações na Volta de 1958, em que foi 2.º classificado na geral, e na de
1959, que apenas não venceu por ter tido uma queda que o obrigou a sair com uma
clavícula partida. Mais a simpatia dos apaixonados do ciclismo nacional depois
de sua grande corrida na Volta a Espanha de 1959, culminada na vitória da Etapa
Pamplona-San Sebastian. Até que em 1960 Sousa Cardoso deu um festival de superioridade
ainda mais vincada na Volta a Portugal, terminada em apoteose com o seu
triunfo, à chegada da última etapa, terminada em pleno estádio das Antas, no Porto.
Ora, então na Volta a Portugal em bicicleta, a 28 de agosto
de 1960, foi triunfal o términus da Grandíssima Portuguesa, com o sorridente
ciclista do FC Porto a ser vitoriado com a sua coroa de louros, sobre os ombros, a ornar a linda camisola amarela de vencedor. Sendo esse o primeiro dia que ficou
na retina da memória do portista em formação que eu era, ao tempo. Podendo
dizer que foi a solidificação do portismo inicial que já estava a entranhar-se
aqui dentro, em mim, onde eu quando gosto duma coisa é a valer.
Com efeito, do que me lembro melhor, tinha eu ainda 5
anos (pelo que vejo agora), desde quando me ficou na lembrança uma tarde de domingo de abril
de 1960, em que pelo relato radiofónico acompanhei o final dum jogo de futebol Porto-Benfica em
que, depois de estar a perder por 0-2, o Porto acabou por empatar 2-2. Tendo então
me ficado aquilo no ouvido, por o meu irmão mais velho (com cerca de 15 anos, ao
tempo) e mais alguns amigos, estarem de ouvidos atentos ao relato saído
do rádio da mesinha de cabeceira de minha avozinha, paralítica havia anos na
cama e com a qual eu passava muito tempo a ouvi-la contar-me histórias, sentado à sua beira. Sendo
que dessa vez estávamos assim ali mais miúdos e alguns rapazes, até que depois
de os ouvir desanimados com o resultado, os vi exultarem de alegria, primeiro
com um golo de Luís Roberto e depois ainda mais e melhor com o do empate,
obtido por Humaitá. Mas, como depois disso, o futebol não teve sequência de
momentos de júbilo, ainda nesse ano, foi por conseguinte em agosto seguinte, tinha eu feito já 6 anos no mês anterior, que a
vitória de Sousa Cardoso no ciclismo fez redobrar a atenção e sentir que o que era do
Futebol Clube do Porto já me seduzia. Resultando daí o meu início do Portismo
que me corre nas veias, até passar pelo cérebro e pulsar forte no coração.
= Equipa de Ciclismo do FC Porto, então sob orientação técnica de Franklim Cardoso, em 1960. Em cima (a partir ds esquerda da foto) o massagista Lopinhos, o treinador Franklim Cardoso, e os ciclistas Azevedo Maia, Artur Coelho, Mário Sá, um diretor, Carlos Simão, Carlos Carvalho e outro diretor; tendo em baixo, depois de dois colaboradores da equipa, Sousa Cardoso, Emídio Pinto, Pedro Polainas e Sousa Santos.
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Naturalmente é sabido que, entre as efemérides do dia 28 de
Agosto, nesta data se recorda por um lado a infeliz ocorrência da morte de Rui
Filipe, falecido num acidente de viação em 1994, e por outro lado a boa memória
de em 1952 ter ocorrido o ingresso de José Maria Pedroto no FC Porto, então jogador
de futebol adquirido ao Belenenses na maior transferência desse tempo. Assim
como, muitos anos antes e de teor diferente, é assinalável o facto de que em 1924
teve lugar uma polémica Assembleia Geral em que um grupo de sócios do FC Porto,
defensores acérrimos do amadorismo e agarrados em demasia ao passado, procuraram boicotar a vinda do guarda-redes
Mihály Siska por o clube ter oferecido ao húngaro um emprego. Facto que foi
contrariado pelo voto da maioria dos portistas que se manifestaram nessa
reunião magna do clube e é uma das interessantes curiosidades históricas;
sabendo-se como Miguel Siska foi depois importante na história do FC Porto,
quer como grande guarda-redes e mais tarde como treinador, em ambos os casos
campeão nacional – por entre factos reveladores do acerto de certas decisões,
como tem acontecido ao longo da gloriosa história do FC Porto, até aos nossos
dias.
Efemérides essas que se enumeram e relembram, sempre, mas além
de a morte do Rui Filipe e a chegada de Pedroto ao FC Porto já terem tido espaço
de evocação em artigos de anos anteriores, aqui, desta feita merece memorização
a Volta a Portugal de 1960, do início do Portismo do autor destas memorizações.
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Pois então, nesse último domingo de final de agosto, vi pela
televisão a consagração vitoriosa de Sousa Cardoso nessa Volta de 1960. Havia
ainda pouco tempo de existência da televisão em Portugal e raros eram os aparelhos
televisivos, ainda, existentes em casas particulares. Havendo por aqui uma televisão
na Casa do Povo da Longra, apenas, além de mais uma numa casa ou outra. Tendo por
isso sido na sala polivalente da Casa do Povo daqui que, acompanhado por meu pai
e irmãos, vi então Sousa Cardoso a ser vitoriado e com ele de seguida os outros
ciclistas do FC Porto a darem a volta de honra na pista do estádio das Antas, com aquelas
lindas camisolas azuis e brancas, cujas duas largas listas azuis que se viam na frente e depois nas
costas dos ciclistas derreados sobre o guiador, me entusiasmaram os sentidos.
Da inesquecível vitória de 1960, que colocou Sousa Cardoso na galeria dos triunfadores da Grandíssima Volta, ilustramos essa façanha com imagens do álbum Heróis da Estrada, em banda desenhada, edição O Jogo/Jornal de Notícias.
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José Sousa Cardoso (n.1936-f.2008) - Vencedor da Volta a Portugal de 1960, depois de ter começado em 1955 a representar o FC Porto e haver participado na Volta a partir de 1957, manteve-se como chefe de fila da equipa do FC Porto durante largos anos, até que deixou de correr em 1966.
Merece pois aliência a carreira do ciclista Sousa Cardoso, o popular sorridente do FC Porto que foi ídolo dos adeptos portistas durante anos, desde finais dos anos cinquentas até meio da década de sessenta. Sousa Cardoso que foi vencedor da Volta a Portugal de 1960 e entrou na história como vencedor duma etapa da Volta a Espanha, prova que correu, assim como na Volta a França, incluído em equipas da seleção portuguesa, havendo sido o quarto português a participar no “Tour” em cima duma bicicleta. Representou o FC Porto durante onze anos, ao longo dos quais venceu algumas provas do calendário nacional, como a Volta em 1960, cinco etapas durante as suas participações na Volta a Portugal, um Circuito de Santo Tirso em 1958, o Grande Prémio Robbialac em 1962, por mais que uma vez o Campeonato Nacional de Ciclo-Cross e diversos títulos por equipas. Sendo sobretudo um trabalhador em prol da equipa, num período em que as equipas do FC Porto tinham diversos ciclistas de valor idêntico e quase todos potenciais candidatos às vitórias. Além de também no plano internacional se ter destacado
José Carlos Sousa Cardoso, natural de São João de Vêr, concelho de Vila da Feira (hoje de Santa Maria, como se sabe), onde nasceu em 1936, a 10 de Janeiro, na localidade de Lavandeira, enquanto ciclista representou sempre o F. C. Porto, o que aconteceu durante 11 anos. Tinha 21 anos quando participou na sua primeira volta a Portugal, em 1957. Um ano depois alcançou o 2º lugar da classificação geral individual na Volta a Portugal de 1958, em que também foi 1º da Classificação por Pontos; havendo no ano seguinte ido à “Vuelta” e lá em Espanha venceu uma etapa, de ligação entre Pamplona-San Sebastian e três metas classificativas do prémio de montanha.
Nesse âmbito, com honra e glória para o F C Porto, Sousa Cardoso integra a galeria de vencedores, de etapas na prova rainha de Espanha. Tendo José Sousa Cardoso sido um dos mais emblemáticos representantes de tal modalidade desportiva aplaudida nas bermas das estradas e pelas pistas dos estádios. Um ás do pedal que, naquele tempo, integrando equipa da seleção nacional (representando Portugal, que assim se fazia representar nessa grande corrida de etapas internacional), em 1959 se tornou vencedor de uma etapa em solo espanhol, na 12ª etapa da "Vuelta" de 1959 entre Pamplona e San Sebastián.
Recordando o facto, diante da importância que o ciclismo teve então na consolidação do prestígio portista nas décadas de meados do século XX, evocamos essa antiga façanha de tal herói das estradas, através de imagens correspondentes.
Pouco tempo depois esteve para ser vencedor da Volta, em 1959, mas quando andava também em segundo lugar sofreu um acidente na descida do Marão que o afastou da mesma prova.
Até que em 1960 Sousa Cardoso conquistou a vitória na corrida rainha do ciclismo nacional, sendo o grande vencedor da 23ª Volta a Portugal em bicicleta. Participara ainda entretanto na Volta a França (Tour de France), na Volta do Futuro (o Tour d’ Avenir), onde alcançou o décimo lugar e conseguiu o 3º posto na clássica Gran Premio Ldodio. Por várias vezes campeão nacional na especialidade de Ciclo-Cross, Sousa Cardoso representou Portugal em seleções nacionais, entre outros países, também na Bélgica e no Brasil.
De permeio integrou equipas de grande valor e forte conjunto dentro do FC Porto, tendo estado nos tempos aureos e depois em épocas de transição, ao lado de Sousa Santos, Emídio Pinto, Artur Coelho, Carlos Carvalho, Mário Silva, Azevedo Maia, Mário Sá, Joaquim Leão, Joaquim Freitas, Ernesto Coelho, Alberto Carvalho, Cosme de Oliveira, etc. etc.
Sousa Cardoso é um dos nomes homenageados no Monumento ao Ciclista em São João de Vêr, um monumento erigido (desde 1999) nessa terra de ciclistas famosos que assim mais honra os seus filhos ilustres, como valorosos conhecidos do mundo desportivo do ciclismo - «reconhecendo o esforço de todos aqueles que levaram e levam na alma e sempre mais além pelas estradas deste mundo o nome de S. João de Vêr e das terras de Santa Maria». Sabendo-se que dali eram naturais Joaquim Sousa Santos (pai do que mais tarde foi vencedor da Volta de 1979), Joaquim e José Sousa Santos (o anteriormente referido vencedor e seu irmão), mais Mário Sá e Sousa Cardoso, dos ciclistas que correram com a camisola do FC Porto, além de também outros que correram por outras equipas entre nomes perpetuados na memória do desporto dos pedais.
Em apoteose memorial, por fim, recordamos aqui e agora a Volta a Portugal ganha por Sousa Cardoso, mediante imagens e recortes alusivos, de arquivo do autor destas linhas.
Sousa Cardoso, falecido entretanto a 16 de Agosto de 2008, continua a ser figura de proa no ciclismo e será sempre recordado como um dos grandes nomes que correram de bicicleta pelas estradas do país e do mundo.
Armando Pinto
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