O hóquei em patins era o desporto do cajato, conforme se dizia – por
analogia com a haste curva da pega dos guarda-chuvas, algo popularmente assim conhecido
em corruptela, alusiva a cajado. Tal como se ouvia, entre amigos e conhecidos (no
tempo de infância aqui do autor destas linhas), quando davam os relatos radiofónicos
dos jogos de hóquei da seleção portuguesa, altura em que a modalidade era
falada essencialmente. E então eram deveras badalados um tal Fernando Adrião, que
manobrava o jogo da equipa, considerado um senhor hoquista nesses lustros, e lá
na frente havia a dupla Livramento e Leonel.
Tempos em que o hóquei em patins
não era muito forte no Norte do país, enquanto o Sul do continente mais a então
província ultramarina de Moçambique eram baluartes. Até que começaram a aparecer
alguns jovens que foram à seleção nacional de juniores e se sagraram num ano
vice-campeões e no seguinte foram mesmo campeões europeus. Onde pontificava
Cristiano, mais Castro, Fernando Barbot e Júlio, do FC Porto e, entre outros de
diversas equipas, também José Fernandes, então jovem da Cuf, com idade júnior
mas que já jogava na equipa sénior, como acontecia com os colegas portistas,
também. E ingressando no FC Porto, Fernandes passou a formar dupla com
Cristiano, na equipa sénior. E que dupla!
Ora, Zé Fernandes, como era mais conhecido, depressa se
tornou um hoquista entranhado no sentido Portista. Mas já com um longo
percurso, como valor em ascensão no mundo do hóquei patinado..
Natural de Vouzela, José Fernandes da Silva, conforme seu
nome completo, residia então na zona do Barreiro e, tendo aprendido a patinar
por volta dos 11 anos, começou a alinhar de setique na mão ao serviço da CUF.
Ali percorreu os escalões jovens, de principiante a junior, e subiu a sénior
com 17 anos, integrando a equipa principal durante dois anos. Tempo em que, no
Grupo Desportivo da Cuf, alinhou ao lado dos internacionais consagrados Vítor
Domingos, guarda-redes, e Leonel, avançado muito conhecido por andar em rinque
deveras curvado sobre o stique (derreado, como se dizia), sendo o tal que fazia dupla
conhecida na Seleção A. Pois então, Fernandes ficou também conhecido como
elemento da Seleção Júnior, inicialmente em 1968, quando conheceu Cristiano e
Castro, depois em 1969 ao ser campeão europeu. Entretanto, no ano da primeira
presença na seleção recebeu convite do FC Porto, que declinou, mas como passado um ano voltou
a ser contactado, para o efeito, já aceitou em 1969 e então houve mudança
definitiva para o Norte do país.
Da sua vinda para a cidade Invicta e fixação no FC Porto,
recorde-se através de dois recortes jornalísticos o que escreveu O Norte
Desportivo aquando da respetiva aquisição e O Porto avançou depois, por meio dum cronista
muito apreciado, Melo e Alvim.
Durante o tempo de permanência efetiva no FC Porto, de
permeio com sua ausência temporária devido à mobilização do serviço militar obrigatório, em
tempo de guerra colonial (que o fez rumar às distantes paragens de Timor), contribuiu para período em que o hóquei portista andou pelos lugares
cimeiros, sem contudo ter alcançado o título nacional que por diversas vezes
esteve bem perto – como ficou já descrito em artigos anteriores deste blogue,
em descrições curriculares de outros hoquistas azuis e brancos dessas eras.
= Primeiro título de Fernandes no FC Porto =
No Porto fez parte da equipa que pela primeira vez entrou
nas provas europeias, em 1970, junto com Cristiano, Magalhães, Ricardo, Leite, Brito, Hernâni,
Castro, Júlio, etc. Volvidos anos e de permeio teve passagem pela Académica de Espinho (onde encontrou Vitor Hugo Silva, da formação espinhense e que depois veio a ser famoso no FC Porto), tendo Fernandes regressado às Antas mais tarde e integrado ainda o plantel da equipa do FC Porto que
venceu a primeira Taça das Taças da Europa, em 1982.
Com esse título largou os patins, por fim, mas, continuou ligado ao hóquei como treinador, depois.
= Equipas da Formação Portista sob orientação de José Fernandes =
Inicialmente orientou as camadas jovens do FC
Porto, como responsável técnico de Escolas, Iniciados, Infantis, passando pelos
escalões mais acima, tendo sido campeão nacional em Juvenis e Juniores com as
respetivas equipas. Para seguidamente passar para a frente da equipa principal
do FC Porto, onde foi o treinador da segunda Taça dos Campeões Europeus ganha
pelo FC Porto, em 1989/90.
Taça dos Campeões Europeus - 1990
Após isso fez trajeto por outras equipas, tendo treinado
também o Óquei de Barcelos, Oliveirense, Gulpilhares, Nortecoope e o Cambra.
No
seu currículo conta com 2 Campeonatos Nacionais, 1 Taça de Portugal, 2
Supertaças, 1 Liga dos Campeões pelo FC Porto; e 2 Campeonatos Nacionais, 1
Taça de Portugal e 1 Taça CERS pelo OC Barcelos.
Depois José Fernandes teve
continuidade na ligação ao hóquei através do filho, Rui Fernandes, que também
jogou no FC Porto e entretanto tem treinado diversas equipas, além de
presentemente fazer parte da equipa de hóquei FC Porto Vintage.
Armando Pinto
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