Em dia cinzento de aproximação ao tempo das orvalhadas de
São João, na proximidade ao dia do santo mais portuense, talvez antecipando-se
a essa quadra para não ferir suscetibilidades – como ele gostava de manter a harmonia
– chega uma triste notícia relacionada com alguém muito ligado à vida
portucalense: Faleceu o Doutor Sardoeira Pinto, do F C Porto.
Conhecida a ocorrência, difundida especialmente através das
redes sociais, noticiou ainda na tarde desta mesma quinta-feira a página informática
do Futebol Clube do Porto:
« O presidente da mesa da Assembleia Geral do FC Porto,
Fernando Arnaldo Sardoeira Pinto, faleceu esta quinta-feira, aos 80 anos.
Figura incontornável da história do FC Porto, Sardoeira Pinto dirigiu o mais
representativo órgão do nosso clube desde a primeira eleição de Jorge Nuno
Pinto da Costa, em 1982.
Portista
desde sempre, em 1994 recebeu o título de Presidente Honorário do FC Porto,
honra que na altura descreveu assim: “Fiquei muito emocionado, como continuo a
estar. Foi um prémio especial, algo que para mim é extraordinário: a
consideração e a amizade dos meus consócios. Ser eleito Presidente Honorário do
FC Porto foi uma consagração, depois destes anos que levo ao serviço do clube.
Como tenho dito muitas vezes e não me canso de repetir, representar o FC Porto
é uma das maiores honras que experimentei na minha vida. E quando digo
representar o FC Porto digo também representar a massa associativa”.
Três anos antes, em 1991, foi agraciado com o Dragão de Ouro
para Dirigente do ano.
Natural do Porto, onde nasceu a 29 de Agosto de 1933,
Fernando Arnaldo Sardoeira Pinto formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, em
1964. Antes, ainda enquanto estudante, foi jornalista no Diário do Norte,
jornal que chegou a chefiar anos mais tarde.
Em 1971 assumiu a presidência da Associação de Futebol do
Porto, cargo a que voltaria em 1977, tendo no mandato seguinte ocupado a
presidência da Assembleia Geral da associação.
Em 1982 é um dos impulsionadores da candidatura de Jorge
Nuno Pinto da Costa à presidência do FC Porto, candidatando-se à presidência da
Assembleia Geral, cargo que ocupou até ao fim da vida.
Defensor do FC Porto até às últimas consequências, Sardoeira
Pinto foi sempre muito acarinhado pelos sócios e adeptos e ninguém esquece a
tranquilidade com que dirigia as Assembleias Gerais, por mais agitadas que
fossem.»
Nessa imagem eterna, guardamos uma entrevista dada em Março
de 2009 à revista Mundo Azul, publicação nesse tempo editada pelo Conselho
Cultural do clube, cuja capa encima este artigo de evocação e do respetivo interior
se respigam páginas com suas ideias sintomáticas.
« O FC Porto ficou hoje mais pobre, mas orgulhoso de tudo o
que Sardoeira Pinto fez pelo nosso clube.
O corpo de Sardoeira Pinto estará em câmara ardente, amanhã,
sexta-feira, a partir das 15 horas, na Capela de Miramar.
Sábado, dia 21 de Junho, pelas 11 h 00, realizar-se-á o
funeral com missa de corpo presente e seguirá para o Cemitério de Arcozelo» (onde,
acrescente-se, está também sepultado Monteiro da Costa, o famoso futebolista
António Henrique Monteiro da Costa da célebre geração de Hernâni, Pedroto, Barrigana,
Virgílio, Carlos Duarte, Arcanjo, etc. Dois nomes ilustres do F C Porto que assim descansam como vizinhos na eternidade e ao lado da capela da popularmente considerada Santa Adelaide, mais das promessas feitas em sua devoção, entre cujos ex-votos que lhe foram ofertados está a camisola do F C Porto usada por Juary na final da Taça dos Campeões Europeus de 1987).
Ora, quanto ao agora finado Dr. Sardoeira Pinto, ele foi efetivamente um lutador pela justiça desportiva, tendo
enfrentado poderes instalados, como se sabe de quando esteve à frente da Associação
de Futebol do Porto. Tal qual é referido no blogue “
Estrelas do FCP”: «… Portista
desde miúdo, um amor ao Futebol Clube do Porto que herdou dos seus pais, como
chegou a referir, desde cedo que foi eleito para a (então existente) Assembleia
Delegada, constituída pelos sócios mais antigos e dedicados e dessa forma
sempre se manteve a par da vida do F.C. Porto, até chegar a ter algum
protagonismo no último mandato do Presidente Pinto de Magalhães.
Em 1971, foi convidado a assumir o cargo de Presidente da
Direção da Associação de Futebol do Porto. Aceitou o convite e passou a
defender o interesse dos clubes da região do Porto.
Foi mais tarde irradiado por causa de uma péssima arbitragem
numa Final de juniores entre o F.C. Porto e o Sporting C.P. que os leões
venceram por 2-1. Logicamente que saiu em defesa do F.C. Porto por este
pertencer à Associação que presidia. O caso durou vários meses e quase ao fim
de um ano o Secretário de Estado da Juventude e Desporto deu como provado que
não foram dadas legalmente todas as condições para que o Dr. Sardoeira Pinto
tivesse uma defesa eficaz e julgou o caso como nulo e de nenhum efeito.
Em 1977 voltou à Associação e foi de novo eleito para
Presidente da Direção. Terminado esse mandato passou a Presidente da Assembleia
Geral da Associação de Futebol do Porto, mas afastou-se do futebol quando
também esse mandato terminou.
Foi depois eleito Sócio Honorário do F.C. Paços de Ferreira
como agradecimento pela forma com atuou enquanto esteve à frente dos destinos
da Associação.»
Por fim, meteu ombros a emparceirar com Pinto da Costa
na reformulação do F C Porto, sempre como um “Dragão de causas”, como o próprio se
intitulou num dos seus livros. Havendo ainda escrito um outro livro sobre a escandalosa
intentona benfiquista do chamado e inventado apito dourado…
Na ocasião deste infausto acontecimento, homenageamos neste
nosso espaço esse grande Portista que era o representante dos sócios do F C
Porto. Como nº 1 da Assembleia dos Associados. Qualidade que soube dignificar,
a pontos, como nos recordamos, de ainda numa recente Gala de Dragões de Ouro, sentado
naturalmente na primeira fila e ao lado de individualidades e altos dignatários
do clube e da nação, ele se ter levantado ao toque do Hino do clube, eretamente
respeitador e orgulhoso - tendo aliás sido então o único dos presentes (segundo o que vimos pela televisão, através do Porto Canal) que se colocou de pé enquanto era
ouvido o hino do nosso FC Porto.
Paz à sua alma! E que, lá no além, que sentimos intimamente dentro do azul celeste, encontre a luz perpétua por quanto
soube defender o bem. Na companhia de homens de honra, como muitos mais
portistas, especialmente.
Curvando-nos perante sua memória, recordamo-lo agora com uma
mostra de sua postura em vida, por meio de uma missiva que dirigiu ao autor
destas linhas, no período da final da Taça das Taças em 1984, a propósito da
vida do F C Porto.
(Sugeria-se, na altura, entre diversas considerações, a criação de um galardão de reconhecimento superior no F C Porto, porque o anterior Troféu Pinga há muito deixara de ser atribuído. E, afinal, não levou assim tanto tempo... pois em 1985 foi criado o Dragão de Ouro.)
Posto isto... Assim, como ele terminava sempre suas alocuções e encerrava as
assembleias, também dizemos: Viva o Futebol Clube do PORTO!
Armando Pinto
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