Aproxima-se o “clássico” F C Porto-Benfica”, do campeonato
da Liga de futebol nacional, jogo que (longe vá o agoiro!) pode ter decisão
arbitrária… se continuar a saga do favorecimento ao Benfica, como tem
acontecido. Vendo-se e sentindo-se como o clube do regime tem sido levado ao
colo. O que leva a dizer, para já, que estamos fartos de arbitragens desonestas
e habilidades dos homens com poder de decisão federativa, liguista e do
conselho de arbitragem. Chega de arbitragens escandalosas em Portugal, como até
já há grupos de internautas a dizer basta. E não se pode tolerar mais as
desonestidades dos dirigentes das cúpulas do futebol português.
Por algum
motivo é que os clubes que são favorecidos em Portugal, nas provas
estrangeiras se vão abaixo das canetas, ficando fora das fases mais adiantadas
da Liga dos Campeões e até da Liga Europa, por não terem árbitros nomeados em
Portugal. Na senda do que vem de longe…
Nesse prisma, trazemos um caso paradigmático, desta feita, à
ribalta deste espaço - que até é lido por adversários, a pontos que alguns energúmenos
daqueles tanto tentaram que conseguiram tirar do espaço da internet o blogue
antecessor, “Lôngara”, por não gostarem de lá estar muita verdade… verdadeira.
Mas desta vez o caso até se passou relativamente a um jogo
com outro clube lisboeta, na altura colocado entre os grandes, trazendo-se
apenas como exemplo de quanto o F C Porto sempre foi tratado de forma menor,
pelo poder da capital do império da bola…
Passando ao assunto, há que frisar, porém, que o tema, desta
vez, até nem foi escrito totalmente aqui pelo autor, mas calha a preceito, em
semana de jogo importante…
Ora então atente-se nisto, respigado duma edição da revista “Dragões”,
de há anos já:
« Para quem acha que foi o Pinto da Costa que inventou a
"guerra" Porto-Lisboa aqui vai um pouco de cultura portista e desportista acerca de
um jogador dos anos 20 do século passado.
Norman Hall - O «português» que afinal não o era.
O protagonista desta história jogou no FC Porto há (muitos)
anos, o que equivale a dizer que foi inscrito na época de 1919-1920. Nasceu em
Inglaterra, chamava-se Norman Hall e, juntamente com Abel D´Aquino, é o único
atleta de antanho a figurar na galeria dos sócios honórarios do clube.
Numa altura em que os atletas eram inscritos por categorias
(o FC Porto chegou a disputar os campeonatos de quartas categorias), Norman
Hall, embora inscrito a meio da época (20/12/1919), passou desde logo a
integrar a 1ª categoria, o plantel de elite, na altura constituído apenas por
António Lino Moreira, José Magalhães Bastos, José Ferreira da Silva, Harrison,
Joaquim Couteiro, Floriano Pereira, Hamilton, Joaquim Reis, Edward George Bull
e Alexandre Cal, vindo a revelar-se um grande jogador e um excepcional
desportista.
Foi seu o golo da vitória por 2-1 (de grande penalidade)
frente ao Sporting, no campo de Monserrate, em Viana do Castelo, a 28 de Julho
de 1925, na final do Campeonato de Portugal de 1924/25, campeonato dedicado a
Velez Carneiro «half center do Foot-Ball Club do Porto» (como se escrevia na
terminologia da época), morto a tiro de pistola, logo após um jogo com os
espanhóis do Desportivo da Corunha, na travessa dos Congregados, para onde o
atraíra um colega seu de trabalho, escriturário, casado, de seu nome Carmindo
Ferreira Duarte.
Razões? Reza a história que se tratou de problemas de
alcova, um crime passional, uma questão de adultério. Adiante. A história que
queremos hoje contar é outra. Vem preto no branco no «Relatório e Contas do FC
Porto» de 1926/27, refere-se ao jogo dos quartos de final do Campeonato de
Portugal daquela época quando, a 3 de Abril de 1927, o FC Porto defrontou, em
Lisboa, «Os Belenenses, e gira, à volta da utilização do nosso Norman Hall na
qualidade de cidadão Português.
Este campeonato, organizado pela «Associação Portuguesa de
Football Association» e disputado segundo um novo figurino, tinha no seu
regulamento uma alínea que impedia qualquer equipa de alinhar com mais de dois
estrangeiros.
Embora o FC Porto entendesse que Norman Hall – porque
residia em Portugal desde os oito anos de idade, jogava pelo clube há 15 e pela
equipa representativa do Porto-Cidade desde 1919 – era, «moralmente» um jogador
português, não quis correr riscos e tendo no seu «eleven» habitual dois
jogadores estrangeiros (Siska, um húgaro que o treinador Akos Tezler, seu
compatriota, recrutara no Vasas de Budapeste, e Fridolf Resberg, um norueguês
que, tendo abraçado a carreira diplomática no seu país e sido colocado no Consulado da Noruega no Porto, surgiu um dia na Constituição para treinar
e…tornar-se num avançado de categoria) fez seguir para a Federação, via Associação
de Futebol do Porto, uma exposição no sentido de saber se Norman Hall seria ou
não considerado jogador português para cumprimento do regulamentado.
Apreciada e discutida a exposição em reunião do Comité
Executivo do Campeonato de Portugal – à qual assistiu Manuel Mesquita,
representante do FC Porto, entre outros delegados – a decisão final foi
coincidente com o ponto de vista Azul e Branco, qualificando Norman Hall como
jogador português.
Atingidos os quartos de final, após ter levado de vencida o
já defunto «Estrela de Braga», coube ao FC Porto viajar até Lisboa para, como
se disse, defrontar «Os Belenenses».
No onze ao lado de Siska, Pedro Temudo, Flávio Laranjeira,
Álvaro Sequeira Júnior, António Coelho da Costa, Álvaro Pereira, Valdemar Mota,
Acácio Mesquita, Resberg e António Oliveira, lá estava Norman Hall.
A vencer por 2-1 o FC Porto viria a sofrer o empate mesmo em
cima do minuto 90, quando o árbitro de Beja, Flecha de sua graça, sancionou um
golo em claro fora de jogo, levando o encontro para um prolongamento de meia
hora, durante o qual o clube da Cruz de Cristo se colocaria na posição de
vencedor (3-2), com novo golo em fora de jogo, como, de resto, unanimemente, a
imprensa da época reconheceu.
Os erros foram tão flagrantes e grosseiros que o FC Porto se
sentiu obrigado a protestar o jogo junto da Federação, acompanhando o protesto
dos 500$00 regulamentares.
O árbitro reconheceu os erros, pelo que não parecia haver
outra saída que não fosse mandar repetir o jogo. A Federação, sabendo isto,
abafou o protesto, considerou sem qualquer justificação os 500$00 perdidos a
favor dos seus cofres e, numa cambalhota impensável, tirou o coelho que tinha
escondido na cartola. Alegou que o FC Porto tinha transgredido artº 36 Cap. IV
do Regulamento ao alinhar com três estrangeiros (Siska, Resberg e Hall) e, como
tal, deveria ver a derrota confirmada.
Reproduzindo o que na época foi escrito, e sempre citando o
referido relatório da gerência do FC Porto, dir-se-á que a resolução do caso
Hall foi uma traiçoeira armadilha preparada por habilidosos muito práticos no
metier para assim terem absolutamente segura a vitória do grupo de Lisboa,
visto que, em campo, e com um juiz imparcial não a conseguiriam.
Apesar da nossa Associação se ter imposto perante esta
flagrante injustiça, não houve processo de fazer valer os nossos direitos,
visto que a acta da reunião atrás referida tinha sido deturpada, não
correspondendo à verdade da resolução tomada, motivo por que nem sequer foi
assinada.
Resumindo: mais uma vez os dirigentes lisboetas da Federação
Portuguesa de Football Association conseguiram os seus fins não olhando a
meios».
É caso para dizer agora: decorridos (tantos) anos, o
protesto genuíno ficou sem decisão e a massa sem ser devolvida!»
In «Revista Dragões», de Outubro de 2007
= Festa de Despedida de Norman Hall =
Observação: Embora conste do arquivo do autor algumas boas imagens deste futebolista em apreço, desta vez deitamos mão a fotos postadas na Internet por amigos destas andanças, derivado a momentânea impossibilidade de digitalização. Motivo porque as imagens foram copiadas, com a devida vénia: a de cima através do blogue "Dragãodoporto"; a do meio de "Estrelas do F C Porto", do Paulo Moreira; e a de baixo de "Retalhos da História" do F C Porto, de Fernando Moreira, em Dragões de Azul Forte, no blogue "Bibó Porto, carago"!
Armando Pinto