Reconstituição Histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Reconstituição histórico-documental da Vida do FC Porto em parcelas memoráveis

Criar é fazer existir, dar vida. Recriar é reconstituir. Como a criação e existência deste blogue tende a que tenha vida perene tudo o que eleva a alma portista. E ao recriar-se memórias procuramos fazer algo para que se não esqueça a história, procurando que seja reavivado o facto de terem existido valores memorávais dignos de registo; tal como se cumpra a finalidade de obtenção glorificadora, que levou a haver pessoas vencedoras, campeões conquistadores de justas vitórias, quais acontecimentos merecedores de evocação histórica.

A. P.

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Efeméride dos célebres 4-0 ao Benfica de "atentado" ao regime do sistema BSB... em 1971!

Estava-se em 1971. Período da "Primavera Marcelista" que trouxe falsas expetativas ao país profundo, já que a nação centralista estava bem, para seu bem. Enquanto no desporto continuava tudo em modo corporativista. Estando ainda de fresca memória o susto apanhado pelo regime do sistema futebolístico BSB perante a situação do FC Porto quase ter conseguido ganhar o Campeonato Nacional em 1969. Contra cuja possibilidade teve o regime de deixar passar pelo largo do Terreiro do Paço e pela sede da FPF o caso do jogo Sanjoanense-Benfica em que os encarnados chegaram a estar com 12 jogadores efetivos em campo, e em vez de perderem o jogo como era dos regulamentos, foram bafejados com repetição do mesmo, com o desfecho que se conhece… Ao que se juntou um erro interno, dentro do próprio FC Porto, decorrente dum castigo aos melhores jogadores portistas, cujo afastamento da equipa acabou por dar de mão beijada o título ao segundo classificado. Ficando aí a sensação que esteve por um triz e era mais que possível o título nessa época de 1968/1969! Mas isso ficara de sobreaviso à inteligência do regime, depois de tantos casos anteriores em que as manobras de bastidores do sistema reinol foram dividindo os títulos de campeão, à vez, entre Benfica, normalmente em dois ou três anos seguidos, e Sporting, intercalado num ano de consolação, pelos anos 50 e depois nos 60 do país suspenso pela guerra colonial. Em cuja situação o FC Porto, graças a seu estoicismo, mesmo assim ainda ia conseguindo uma vez por outra meter uma lança em África, não no Ultramar português, entenda-se, mas por cá no retângulo continental. Apenas como mais não era possível, ia de quando em vez sendo conseguido ao Porto derrotar em campo os clubes do regime. Como então aconteceu em 1971, no último dia de Janeiro. E logo em grande, sem apelo nem agravo. A ponto de uma importante revista lisboeta dessa época, O Século Ilustrado, ter dado destaque ao goleador desse jogo, Lemos, intitulando como alarme para o benfiquista Eusébio – qual autêntico alarme ao Benfica… como era o que ficava subjacente.

Acabou depois isso, mais uma vez, de forma idêntica ao costume do tempo, com um castigo "federativo", inventado passado algum tempo, de alguns jogos de suspensão, então aplicado ao Lemos para ele não poder ser o melhor goleador da época e impedir o FC Porto de continuar na luta pela conquista do campeonato.

Mas antes, indo por partes, aconteceu a célebre goleada.

Estava-se no último dia de janeiro de 1971, um domingo que era também o último santificado Dia do Senhor do primeiro mês do ano primeiro dessa década. Em tempo de antigo regime em que quase tudo girava em torno da capital do país, com televisão e tudo mais a enquadrar o panorama português. 

A importância do jogo revestiu-se então com o curioso facto do mesmo ter sido antecedido com anúncio público de ir ser transmitido na televisão em diferido. Ou seja depois de terminado, seguiu-se retransmissão do jogo na RTP, a televisão estatal e único canal televisivo nesse tempo. Assim pensado porque obviamente não adivinhavam o que iria acontecer. Mas sucedendo que desse modo pela primeira vez se viu um jogo completo do FC Porto na Radiotelevisão Portuguesa, embora sem ser em direto (enquanto de outros clubes, além das muitas vezes de Benfica e Sporting, até uma vez por outra inclusive de Belenenses, Setúbal e Académica, tinham sido já várias as transmissões em direto ao longo dos anos). Mas já era alguma coisa… quando mais que meio mundo não podia ir ao estádio, pelas condicionantes naturais desses tempos, quão muita gente apenas acompanhava o seu e nosso clube pelos relatos radiofónicos.

Disputou-se então na tarde desse domingo o interessante jogo que trazia ao Porto a equipa do Benfica, mais uma vez em tal superioridade que se deslocava em despreocupada entrada em campo. Só que, dessa vez, algo aconteceu…

Então, o Benfica de Eusébio e companhia saiu vergado das Antas por 4-0 graças a um póquer de Lemos. O pequeno grande avançado portista  que já havia bisado no clássico da primeira volta, terminado empatado 2-2  arrasou por completo a defesa encarnada e assinou uma página inesquecível na história do FC Porto. No final, o “Müller português” recebeu (como prémio de oferta externa, de anunciantes publicitários) quarenta contos, correspondentes a dez por cada golo, e mais cem contos em tintas da "Dukaline" (firma que ao tempo era anunciada em todos os jogos nos altifalantes do estádio) e ainda foi presenteado com eletrodomésticos por uma loja da Invicta, recebendo mais precisamente um frigorífico, uma máquina de lavar louça e um gira-discos. Coisas que ao serem anunciadas pelos altifalantes do estádio, antes do início do jogo, para quem marcasse 3 ou mais golos do Porto, até provocaram sorrisos e risadas entre o público, mas no fim fizeram parte da grande euforia vivida. Cujos prémios depois foram distribuídos entre companheiros da equipa.

Note-se essa cifra monetária de "contos", como era chamado popularmente ao dinheiro, nesse tempo da moeda oficial de escudos. Algo que agora já se tem de explicar, pela voragem entretanto ultrapassada no tempo e alterações político-sociais, ao logo do tempo já passado.  

Pois foi, nesse que foi o jogo da vida de Lemos e de muita gente mais, efetivamente houve essa surpreendente marca no resultado, pelos números que não no resto. Sabendo-se que o Benfica apenas passeava superioridade por evidente proteção do regime, como era conhecido o facto de bastar os defesas vermelhos levantarem o braço em investidas dos adversários para os árbitros marcarem foras de jogo, assim como eram inventados penaltis quando a equipa do sistema encarnado precisava (não mais esquecendo o penalti inventado por Reinaldo Silva em 1962 /63, entre outros exemplos).

Lemos, que havia marcado nessa época de 1970/71 no estádio da Luz já na 1ª volta do campeonato os 2 golos portistas do empate a dois golos, alargou a conta com mais quatro nessa tarde de glória no estádio das Antas. Em dia que era de festa também por ser de homenagem ao Presidente Afonso Pinto de Magalhães, que estava praticamente a despedir-se da gerência do clube.

Sintomático da envolvência com que o acontecimento se revestiu, na edição do jornal O Porto, órgão oficial do clube ao tempo, foi narrada a euforia do cometimento esquecendo a ficha do jogo, por ocupação de espaço para o feito de Lemos e significativa homenagem ao “Timoneiro do clube”.

Com esse enfoque ganho, o então jovem Lemos mereceu alguma atenção da imprensa lisboeta, tendo tido destaque de capa e espaço interior na revista “O Século Ilustrado”, embora com um título interior e referências a remeter para sua antiga simpatia pelo Benfica, quando estava ainda na sua terra natal, em Angola.

Após isso, Lemos foi chamado à Seleção Nacional de Esperanças, quando se esperava que fosse incluído na Seleção A… E que falta fez em jogo da seleção principal que Portugal perdeu, em Bruxelas, por 3-0 diante da Bélgica, de apuramento para o Europeu, enquanto conseguiu ser bem útil na vitória da equipa portuguesa das Esperanças sobre a Espanha… por exemplo.

Depois disso é sabido o que aconteceu, mais para diante, com um castigo que lhe foi aplicado de 4 jogos sem jogar, mediante expulsão ocorrida no jogo em casa da CUF do Barreiro, quando ia à frente dos goleadores do campeonato, quase no final do mesmo. E volvidos tempos foi mobilizado para a guerra colonial, indo destacado para a Guiné.

Pese tudo isso, esse 31 de janeiro ficou para a história. Tal como no Porto se dera o 31 de Janeiro da Revolta de 1891, numa tentativa de alterar a situação política vigente nesses lustros, em 1971 Lemos, Custódio Pinto, Pavão, Rolando, Abel, Nóbrega, Valdemar, Manhiça, Rui, Leopoldo, Gualter, Bené e Ricardo derrotaram o sistema reinol, dentro do que ainda era possível por essa época.

De Lemos, o herói dessa grande alegria que tivemos, guarda o autor destas lembranças uma foto autografada pessoalmente nesse tempo (e uma outra recebida mais tarde, de oferta por meio de um amigo). E sobretudo está bem gravado no íntimo cá de dentro o que foi sentido ao ouvir o relato desse jogo, de ouvidos atentos cá longe e imaginação sentimentalmente perto. Como depois, ao final da tarde desse domingo 31 de janeiro de 1971, foi num deslumbre a vista do jogo em diferido pela televisão.


Armando Pinto

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domingo, 29 de janeiro de 2023

Para guardar e sempre recordar! Vitória do FC Porto na Taça da Liga de futebol para sempre ficar nas boas lembranças!

De um belo fim-de-semana, com ridentes sábado e domingo, coloridos de radioso sol a amenizar a temperatura da época, do último sábado de janeiro e seguinte domingo soalheiro, ficam imagens alegres de como tudo tem beleza e mais alegria quando o Porto ganha. E então quando são vitórias atrativas e deveras consolativas, como esta agora da Taça da Liga portuguesa, tudo tem outro sabor, mesmo bom. Ficando ainda, disso tudo, além do que fica na retina das lembranças e no correr das batidas do coração, também algumas recordações físicas. Como, nesse sentido, ainda, ficam os jornais com capas condizentes a tão grande vitória portista. Jornais que são para guardar na coleção pessoal afetiva.

Naturalmente, além de tudo mais relacionado, fica também certo gozo por se ver como os adversários não digerem bem estas coisas, tal o mau perder demonstrado nos adeptos e jornaleiros que arranjam desculpas em invenções sem sentido, sendo que a equipa desta vez perdedora não teve razão de queixa. Excluindo-se da aquisição e preservação de jornais os que não têm trabalho honesto, tais uns quantos que mostram ser autêntico lixo tóxico de mau jornalismo.

Entre os dois dias, esteve a noite feliz de sábado para domingo, quão foi emocionante o final do dia 28 e a entrada pela noite dentro de 29.

Assim… 

- Quem mais adormeceu e acordou este fim-de-semana com a boa disposição de sermos Campeões de Inverno e sermos do clube que agora tem mais títulos e também todos os títulos de taças existentes no futebol nacional e internacional...? O FC Porto já tinha a Liga dos Campeões, a Taça Intercontinental, a Liga Europa, a Supertaça Europeia, a Liga portuguesa, o Campeonato de Portugal, a Taça de Portugal e a Supertaça de Portugal. Desde este sábado dia 28 de janeiro de 2023 tem também a Taça da Liga. Quem mais?

- O FC Porto já era o clube português com mais troféus oficiais, empatado com o Benfica, até sábado ambos com 82 títulos de provas oficiais. Desde este sábado dia 28 de janeiro de 2023 o FC Porto lidera essa contagem isolado, com 83 títulos. Quem mais?

- O FC Porto já era o campeão em título da Liga portuguesa, da Taça de Portugal e da Supertaça. Desde este sábado dia 28 de janeiro de 2023 é o campeão em título das quatro competições nacionais portuguesas. Quem mais?

Está tudo dito e feito, já não falta mais nada. O FC Porto tem no palmarés vitórias em todas as provas disputadas na Europa e no Mundo por grandes clubes, tal qual em Portugal em todas as provas de alta competição, da antiga 1ª Divisão e atual 1ª Liga, incluindo até um campeonato da 2ª Liga ganho pela Equipa B, algo que só o FC Porto conseguiu até agora entre os clubes com equipas Bês, também. Por mais que custe aos cartilheiros e comentadores televisivos, mais certos jornalistas aziados, além dos adeptos mal habituados dos seus clubes de Lisboa serem ajudados. Contra factos não há argumentos! Quem mais dos clubes portugueses tem isto tudo?! Só o FC Porto!

Tudo dito e feito. Mas queremos sempre mais. Venha o futuro, com o encanto azul e branco!

Armando Pinto

Nota Bene: A seleção dos 3 jornais é pela capa, por terem dado merecido destaque a tão importante vitória do FC Porto, pois pelo conteúdo nem todos fizeram devido trabalho de casa e de consciência.

De Atenção: quarta-feira serão publicados junto com os jornais O Jogo e Jornal de Notícias uns posters desdobráveis da vitória na Taça da Liga-2023. Serão mais dois documentos para ter e guardar! 

A. P.

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terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Efeméride: Jogo da despedida do Estádio das Antas - a 24 de janeiro de 2004

 

Sábado, 24 de janeiro de 2004 - dia do último jogo no Estádio das Antas: F. C. Porto, 2 - Estrela da Amadora, 0.

Depois de inaugurado o estádio do Dragão, a 16 de novembro de 2003, porque o relvado do novo estádio não estava ainda consolidado, deveras solto, mesmo, continuou durante mais algum tempo o velhinho estádio das Antas a ser o local da realização dos jogos da equipa principal de futebol do FC Porto. Até que, finalmente, a 24 de janeiro de 2004, pela noite desse sábado, se realizou  o último jogo no Estádio das Antas. Cujo desfecho ficou assim para a história, na conta da vitória do F C Porto por 2 - 0 sobre o Estrela da Amadora, a contar para o Campeonato Nacional da Liga Portuguesa de 2003/2004.


Na passagem de mais esta efeméride, recorda-se o facto com imagem do bilhete com que nessa fria noite lá estive, em tal jogo resolvido através de dois golos de McCarthy. Sendo esse então o acontecimento de despedida das Antas, e também do regresso de Sérgio Conceição como jogador, além da estreia do cântico dos Superdragões de incentivo a que os nossos jogadores joguem por nós.

Armando Pinto

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quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Ao correr da leitura e escrita... a propósito do centenário do conhecido poeta Eugénio de Andrade… um curioso trecho com o Bota d’ Ouro Fernando Gomes entre linhas!

- Centenário de Eugénio de Andrade | 1923-2023. 

Nascido há exatamente 100 anos, no dia 19 de janeiro de 1923, na freguesia de Póvoa de Atalaia, Fundão, o cidadão José Fontinhas, que depois assumiu o pseudónimo literário de Eugénio de Andrade, com que ficou conhecido. Mais tarde radicado na cidade do Porto, onde praticamente se celebrizou. Com a curiosidade de ser conhecido profissionalmente por Fontinha, no quotidiano de sua profissão de fiscal dos Serviços Médico-Sociais do Distrito do Porto, como antigamente era o nome da atual ARS-Administração Regional de Saúde do Norte.

Ora Eugénio de Andrade, conforme rezam as crónicas, «foi um dos mais relevantes poetas portugueses do século XX. Escreveu com 13 anos os seus primeiros poemas. Durante a sua juventude viveu em Lisboa, e em 1943, depois de cumprido o serviço militar, mudou-se para Coimbra, onde conviveu com Miguel Torga e Eduardo Lourenço. Tornou-se funcionário público em 1947, tendo exercido durante 35 anos as funções de Inspetor Administrativo no Ministério da Saúde, a maior parte dos quais na cidade do Porto. Ao longo da sua vida, o poeta viajou muito, tendo sido convidado para participar em inúmeros eventos e travado amizades com muitas personalidades da cultura portuguesa e estrangeira, como Joaquim Namorado, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís, Teixeira de Pascoaes, Vitorino Nemésio, Jorge de Sena, Mário Cesariny e Herberto Helder. Recebeu muitas distinções, entre as quais o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1989) e Prémio Camões (2001). Em 1982, foi nomeado Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e em 1989 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito. Os seus livros foram traduzidos para mais de 20 línguas. Morreu a 13 de junho de 2005, no Porto, com 82 anos.»

Pois – e aí está o busílis desta lembrança – além de pessoalmente ter conhecido o sr. Fontinha, como o conhecíamos, de ele vir à Unidade de Saúde da Longra (ao tempo Posto Clínico da Casa do Povo da Longra-Felgueiras) para então vistoriar os serviços de secretaria, etc, e tal… e inclusive ter um livro autografado por ele, precisamente por isso… veio-me agora à lembrança um artigo jornalístico há muitos anos publicado num jornal desportivo lisboeta, o jornal A Bola, que ao tempo me despertou atenção, ao ponto de o ter recortado e guardado. Algo merecedor, nesta ocasião, de o recordar e assim partilhar. Sem mais delonga, porque o que está na crónica explica bem esta sugestão de evocação. No centenário de Eugénio de Andrade e pela atualidade do ainda recente desaparecimento do Fernando Gomes do FC Porto.

Armando Pinto

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sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Caso da Irradiação do árbitro Reinaldo Silva, o tal do penalti inventado que roubou um Campeonato ao FC Porto em favor do Benfica - em 1962/63... e depois readmitido oficialmente por pressão do jornal A Bola... em 1964!

Em 1963, a 24 de Fevereiro, dera-se um dos grandes embustes do futebol português, no decorrer do jogo FC Porto-Benfica para o Campeonato da 1.ª Divisão Nacional, em pleno Estádio das Antas, através de um penalti inventado pelo árbitro Reinaldo Silva, a favor do Benfica, de cuja marcação resultou um desfecho que acabou por tirar ao FC Porto mais um título, quão ocorreu então com o Campeonato Nacional da época de 1962/1963. Algo que seguiu na linha do Inocêncio Calabote e outros que tais. E tal como Calabote, em 1959, o certo é que depois do mal ter sido feito e com os resultados homologados, também em 1964 Reinaldo Silva acabou por ser oficialmente excluído da arbitragem. Tendo tido irradiação. Embora defendido em certos jornais, nomeadamente num então tri-semanário desportivo de Lisboa. 

Ora, a 8 de janeiro de 1964 o jornal O Porto dava conta de Reinaldo Silva ter sido irradiado. Com um artigo intitulado em modo irónico "Reinaldo Silva e a sua inocência"! 


Atente-se que essa maneira simplista e algo benévola se entende facilmente porque, nesse tempo do Estado Novo, a redação do jornal tinha de ter em conta o facto do jornal ser "Visado pela Comissão de Censura"...

Contudo, sabendo-se hoje como as coisas funcionavam e os tempos da PIDE devem ter sido ultrapassados, há que não deixar que tais casos continuem branqueados.

Porque factos destes não podem nem devem ser esquecidos, mas têm sempre de ser lembrados para permanecerem no quadro negro das lições a reter, recorda-se essa publicação. Seguidamente com realce para a parte final, deveras curiosa. 

Como enquadramento, recorde-se, como, entre tantos e diversos exemplos, nesse mesmo Campeonato de 1963 aconteceu o tal penalti inventado pelo árbitro Reinaldo Silva no jogo da 2ª Volta nas Antas, com o Benfica, conforme foi recordado também mais tarde no jornal O Norte Desportivo aquando do 25.º aniversário do Estádio das Antas, como um grande “roubo” de que o FC Porto foi mais uma vez vítima e com consequência decisiva na perda de mais um campeonato:


Mas entretanto... (voltando a 1964) depois e ainda, o pior ou mais esquisito, estava para acontecer e foi feito. Tendo por pressão do tal jornal ao tempo ainda tri-semanário, como era referido na peça jornalística, depois o árbitro acabou por ter sido readmitido. Ou seja, foi-lhe anulada a suspensão e consequente irradiação, tendo podido voltar a arbitrar... para então poder continuar a ajudar o Benfica e a roubar o FC Porto. Como tinha feito antes, com resultados assinaláveis.  Quão se pode ler por uma coluna entretanto publicada no jornal O Porto, ao tempo, em sua edição de 21 de outubro de 1964, referindo o ditote do próprio árbitro grato ao jornal A Bola...


Armando Pinto

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quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Início de Cubillas no FC Porto – a par com o começo dos “cachecóis à Porto” (e cachecóis clubísticos no futebol português) em Janeiro de 1974

Em Janeiro de 1974 chegou ao Porto o célebre futebolista Teófilo Cubillas, tendo aterrado no aeroporto portuense a 10 de janeiro, já com contrato assinado com o FC Porto. O popular "Cubilhas" (como se diz em português). Tempos antes esse internacional peruano, que ficara muito conhecido no mundo do futebol perante suas exibições em pleno Campeonato Mundial de 1970, viera antecipadamente ao Porto ver in loco tudo, para verificar se lhe agradava o clube, bem como as condições, tendo depois assinado contrato ainda na Suíça, onde estava ao tempo. Havendo entretanto rubricado oficialmente o compromisso na presença do Diretor do Departamento de Futebol do FC Porto, Jorge Vieira. Depois disso foi então concluída essa sensacional transferência com a chegada do ídolo das multidões, acompanhado pela esposa, Betty, perante apoteótica receção no Aeroporto de Pedras Rubras. E, após visitas e cumprimentos da praxe, no estádio das Antas, logo no dia seguinte começou a efetivação de sua presença no mundo portista, primeiro com exames médicos de vistoria e de imediato nos primeiros contactos com os colegas e treino.

Então, a 11 de janeiro, em manhã húmida de inverno, Cubillas logo passou a trabalhar junto com os colegas. Dando também para a ocasião ter sido aproveitada, em estilo de promoção, a apadrinhar o começo da existência de Cachecóis à Porto, típicos adereços em malha fofa de apoio com listas azuis e brancas, numa iniciativa que estava a começar a ser comercializada então pela dupla Guedes e Rolando, dois dos futebolistas do plantel portista que tiveram a feliz ideia, a implementar o facto no seguimento do que já anos antes se via pelo estrangeiro, nomeadamente através das imagens televisivas que iam chegando do público assistente dos jogos na Inglaterra e outros países.

Rolando e Guedes, os dois futebolistas da defesa da equipa principal do FC Porto, desse tempo, haviam começado a anunciar pouco antes essa tal iniciativa, incluindo anúncios na imprensa com aviso de possibilidade de comercialização através de envios por correio, também, a quem desejasse (pois à época ainda não havia lojas do clube, mas apenas um postigo em frente ao estádio, junto às bilheteiras, de venda de fâmulas e literatura portista). Tendo nesse início sido de imediato adquirido um cachecol aqui pelo autor destas lembranças, o histórico e tão estimado cachecol que tenho ainda, o meu primeiro cachecol do FC Porto também – que se mostra, aqui, em imagem junto ao Livro de Ouro do FC Porto, com a foto da ocasião do apadrinhamento de Cubillas ao empreendimento dos colegas, no pioneiro movimento de implantação dos cachecóis de uso para apoio ao FC Porto. 

Antes disso, e até aos inícios dos anos 70, do século XX, era com bandeirinhas nas mãos ou ao ombro que os assistentes mais apoiantes das equipas apareciam nas bancadas, em manifesto entusiasmo nos jogos de futebol. Vendo-se nas tardes domingueiras dos jogos de futebol, na habitual tradição horária de tempos idos, multidões com essas bandeirinhas, ostentando simbologias e cores estampadas em panos presos a pequenas hastes de madeira, vulgo paus roliços, bem como nas cabeças predominavam bonés de pala ou mesmo de papel e cartão, em modo passageiro. Chegando, por fim, a moda dos cachecóis, mais apelativa, inicialmente ainda junto com as pequenas bandeiras, e depois mais prevalecente. Tendo sido então por aí, em Janeiro de 1974, por assim dizer, o início do aparecimento de cachecóis de apoio nos estádios de futebol em Portugal, pouco tempo antes ainda do 25 de Abril, mas quase já na onda de transformação que vivia o país. Denotando quão toda essa interligação merece registo memorando.

Armando Pinto

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terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Efeméride: Albino Alves Campeão Nacional de Ciclo-Cross de 1965 – à frente de Joaquim Leão, em dueto de pódio do FC Porto

 

A 10 janeiro de 1965, um domingo frio e chuvoso de início de ano de meio dessa década de tempos românticos dos anos 60, realizou-se no Porto a decisiva prova do Campeonato Nacional de Ciclo-Cross, prova de princípio da época desportiva do ciclismo. Tendo participado ciclistas das Associações do Norte e Centro, com ausência de ciclistas do sul, da área de Lisboa e arredores que não tinham apetência para concorrer nessa competição de inverno.

Tinha anteriormente sido disputado o Campeonato Regional da Associação de Ciclismo do Porto, e seguiu-se então o Campeonato Nacional, em prova alargada a ciclistas de outras Associações do país. 

Assim nesse Campeonato Nacional de Ciclocrosse de Portugal, disputado nos terrenos do Palácio de Cristal, no Porto, num percurso de 15 voltas a correspondente trajeto de declives e dificuldades várias, ao longo de 22.500 Km, participaram os ciclistas que se sentiam mais capacitados para tal esforço físico de sacrifício e habilidade para manobrar a bicicleta e conseguir correr a pé quando necessário com a mesma nas mãos ou às costas. Sendo os participantes ciclistas representantes do FC Porto, Cedemi de Viana do Castelo, Académico e Sangalhos. Concluindo a prova 6 do FC Porto, 2 da Cedemi e 1 do Académico. Em cujo final, apoteótico, o vencedor foi Albino Alves do FC Porto, perfazendo tempo total de 1 hora, mais 4 minutos e 4 segundos, à frente do colega de equipa Joaquim Leão, vencedor da Volta a Portugal na época anterior.

Albino Alves estava em fase de ascensão na sua carreira, com recente promoção à categoria sénior, nesse tempo denominada de Independentes. Acrescendo que ainda em finais da época anterior havia sido galardoado com o Troféu Pinga, o ao tempo máximo galardão de reconhecimento do FC Porto, como distinto ciclista da categoria de Amador-sénior (ao mesmo tempo que o categorizado Sousa Cardoso da categoria de Independentes, à época assim chamada a agora de Elite e Profissional). Tendo Albino Alves recebido esse reconhecimento então ainda há pouco, em dezembro de 1964 (com o troféu antecessor do Dragão de Ouro atual) em alusivo festival, como na época era referida a cerimónia atualmente chamada gala festiva, com o troféu a ser-lhe entregue (como registou uma foto coeva do jornal O Porto) pelas mãos dum representante da Comissão Pró-sede do FC Porto, Artur Esmeriz, à vista do presidente José Nascimento Cordeiro e outro dirigente.

Ora, tal como também na época anterior o FC Porto dominara o Nacional de Ciclo-Cross, quer em modo individual como coletivamente, também em 1965 foi dada continuidade a essa supremacia. Como ficou registado no jornal O Porto, de cujas páginas se respiga a respetiva crónica, para melhor registo à posteridade.


Ressalve-se um lapso da publicação jornalística, quanto à sua impressão, pois onde aparece 2.ª Volta a Portugal entende-se ter havido uma gralha na impressão, ou seja na escrita impressa, com a falta de um carater (sabendo-se que nesse tempo a impressão era através de carateres colocados em modo gráfico); entendendo-se perfeitamente ser 27ª, como foi a numeração oficial da Volta a Portugal de 1964, ganha por Joaquim Leão, como aliás aparece referido mais adiante.

E, no final da época, esse triunfo do Nacional de Ciclo-Cross por fim lá ficou donairosamente registado no oficial "Relatório e Contas da Gerência de 1965" do FC Porto:


Armando Pinto

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domingo, 8 de janeiro de 2023

Efeméride: Lembrança n' "O Porto" da Irradiação do árbitro Reinaldo Silva

Em 1963, a 24 de Fevereiro, dera-se um dos grandes embustes do futebol português, no decorrer do jogo FC Porto-Benfica para o Campeonato da 1.ª Divisão Nacional, em pleno estádio das Antas, através de um penalti inventado pelo árbitro Reinaldo Silva, de cuja marcação resultou um desfecho que acabou por tirar ao FC Porto mais um título, quão ocorreu então com o Campeonato Nacional da época de 1962/1963. Algo que seguiu na linha do Inocêncio Calabote e outros que tais. E tal como Calabote, em 1959, o certo é que depois do mal ter sido feito e com os resultados homologados, também em 1964 Reinaldo Silva acabou por ser oficialmente excluído da arbitragem. Tendo tido irradiação. Embora defendido em certos jornais, nomeadamente num então tri-semanário desportivo de Lisboa. 

Ora, a 8 de janeiro de 1964 o jornal O Porto dava conta de Reinaldo Silva ter sido irradiado. Com um artigo intitulado em modo irónico "Reinaldo Silva e a sua inocência"! 

Porque factos destes não podem nem devem ser esquecidos, mas têm sempre de ser lembrados para permanecerem no quadro negro das lições a reter, recorda-se essa publicação. Seguidamente com realce para a parte final, deveras curiosa. 

Como enquadramento, recorde-se, como, entre tantos e diversos exemplos, nesse mesmo Campeonato de 1963 aconteceu o tal penalti inventado pelo árbitro Reinaldo Silva no jogo da 2ª Volta nas Antas, com o Benfica, conforme foi recordado também mais tarde no jornal O Norte Desportivo aquando do 25.º aniversário do Estádio das Antas, como um grande “roubo” de que o FC Porto foi mais uma vez vítima e com consequência decisiva na perda de mais um campeonato:


Armando Pinto
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