Estava-se em finais do verão de 1964 e aqui no meu mundo, que
já andava com o meu Porto Clube na cabeça, a passagem das horas da noite, a 16 de setembro, de início
da noite, então, foi deveras entusiasmante. Eram tempos de poucos aparelhos de televisão
ainda por aqui na minha terra e mesmo em volta pela região, ouvindo-se mais
rádio, e os dias quentes terminavam com as pessoas a conviver em locais mais propícios,
a maior parte das vezes até junto a suas casas, na fresca do luar ainda restante. Ouvindo-se
então, entre amigos o relato do jogo do Porto, que nesse final de dia jogava
contra uns franceses. E com grande alegria, sucederam-se três golos do Porto,
logo com dois do Pinto que eu admirava dos cromos – os bonecos de rebuçados que
nós comprávamos e colecionávamos nas cadernetas, e entre amigos trocávamos, ou
por troca direta por outros que faltassem a algum colega ou através de jogos ao
botão ou mesmo a jogar à bola, entre amigos. E, na noite desse jogo do relato, com o Américo, que era meu ídolo, a defender
tudo, numa exibição muito gabada pelos relatadores do Norte Reunidos. Sim, porque mesmo nesse tempo, tinha eu poucos
anos ainda de vida e estava em idade escolar primária, já não gostava de ouvir
relatos de emissoras que só davam partes dos jogos do Porto e quando se lembravam
de passar (“álou Antas”) até era para darem azar. Por isso nesse início da
noite de 16 de setembro, ainda em tempo de férias escolares, antes do início
das aulas da passagem para o outono de 1964, eu coloquei o rádio de nossa casa
a dar nos Emissores do Norte Reunidos, em modo de se ouvir fora de casa
enquanto brincávamos entre amigos. Tanto que no dia seguinte, como de costume saindo
de casa cedo para me encontrar com os amigos para os jogos habituais, até o nosso
jogo da bola decorreu com um entusiasmante relatar que era o Pinto, como sou de
nome, a marcar golos, enquanto de permeio ia contando aos que não tinham ouvido,
como o Américo fizera uma portentosa exibição. Havendo então um amigo que
costumava ter de tomar conta de um irmão mais novo, bebé ainda, por os pais
andarem a trabalhar na sua labuta diária, e até esse catraio ficou esquecido
algum tempo enquanto decorria esse pós-jogo comentado entre nós. Tal o resultado
dilatado dessa vitória inesquecível.
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