Dono da baliza dos dragões, durante sete épocas, desde
1933/34 a 1939/40, distinguiu-se de tal forma no plantel portista que foi o
primeiro guarda-redes internacional do Futebol Clube do Porto.
Soares dos Reis tinha então uma faceta curiosa, de ser
conhecido por se treinar de forma caricata, tendo durante algum tempo
aprimorado a rapidez e instinto de se lançar às bolas com treinos a atirar-se a
agarrar um coelho, que lhe havia sido oferecido por uma admiradora – com o qual
foi fotografado, cuja foto é histórica diante de sua fama de grandes reflexos.
Soares dos Reis jogava então de camisola de gola alta,
bordada com as suas iniciais «SR» bem visíveis. Uma das camisolas usadas, como
depois usou outra com iniciais FCP e ainda outras lisas.
No FC Porto, na segunda época ao serviço do FC Porto logo
ajudou à conquista do título nacional, no que foi o primeiro Campeonato Nacional
(Liga) que venceu com a camisola do FCP, disputado em 1934-35.
Dessa temporada, fica à posteridade uma pose da equipa
campeã do FC Porto em 1934/35. Com toda a equipa usando blusão com
as iniciais FCP (embora o guarda-redes também tenha usado camisola de
equipamento de jogo com as mesmas iniciais).
= Foto de página inteira da revista "Stadium" de 26 de Dezembro
de 1934. Equipa do Foot-Ball Club do Porto, "Campeão Vitalício" da
Capital do Norte.=
De tal proeza, nesse tempo, houve mesmo versos que foram
publicados em panfletos e daí andaram de boca em boca em cantiga popularmente entoada
– como na época era usual em cantos de heróis do povo, através de folhetos que
se vendiam em feiras e em quiosques nas publicações de cordel (por estarem
expostos ao público pendurados em fios de corda fina, cordel). Cujos versos fazem parte
dos arquivos de Soares dos Reis, dos quais se anotam algumas partes:
...
Com o seu altivo porte
O nosso onze do Porto
Trouxe do Sul para o Norte
A glória para o desporto
O nosso onze valente,
P'ra honra deste torrão,
Deve julgar-se contente
Do Porto ser campeão.
Jogaram em tarde boa,
Delira o norte franco,
Esta semana, em Lisboa
Há beiça com feijão branco.
…
Soares dos Reis, Avelino,
Carlos Pereira e Valdemar
Trabalharam com destino
Para o seu grupo honrar.
= Revista "O
Notícias Ilustrado", de 19 de Maio de 1935. Equipa do F.C do Porto que
alcançou, em Coimbra, o título de Campeão Nacional da 1ª Liga 1934/35. Na outra
página, a receção de milhares de portugueses aos Campeões Nacionais, na estação
de S. Bento, no Porto; e em círculos instantâneos do jogo, com Soares dos Reis como
interveniente =
Com o título de Campeão, o FC Porto naturalmente passou
ainda a ser mais desejado em jogos amigáveis, de convívios e homenagens, mais festivais
desportivos. Como aconteceu numa tarde em plena cidade berço da nação, tendo o
FC Porto sido convidado para ir a Guimarães. Onde o FC Porto foi, acedendo
jogar, como ficou registado à posteridade em postal ilustrado.
= Postal ilustrado. Na
foto: As equipas principais do F. C. Porto e do Vitória de Guimarães num jogo
amigável realizado em Guimarães, no campo de "Benlhevai", ano de 1935.
(Na equipa do F. C. Porto,
podemos ver de pé da esquerda para a direita os seguintes portistas: Szabo
(treinador), Lopes Carneiro, António Santos, Carlos Mesquita, Valdemar Mota,
Avelino Martins, João Nova, Zeferino e Castro. Agachados: Rosado, Soares dos
Reis, Jerónimo, Assis, Acácio Mesquita, Carlos Nunes, Arnaldo Borges e Álvaro
Pereira.)
Como curiosidade interessante há a reter um pormenor, em
reflexo como Soares dos Reis se sentia à vontade em frente às balizas. Tendo sido referenciado também como Guarda-redes do guarda-chuva. Ora, como nesses
tempos os guarda-redes vestiam camisolas de lã grossa, que com chuva ficavam
pesadonas, não admira que em certas ocasiões, mais quando chovia
torrencialmente, Soares dos Reis não tivesse nenhum problema em levar por vezes
um guarda-chuva para a baliza. A pontos dessa curiosa atitude ter sido
retratada em versos no "Jornal de Sports", de autoria de um tal Jota
Eme:
Nessas terras do estrangeiro
Ou cá no país da uva,
Já viram algum porteiro
Em campo, com guarda-chuva?
Eu não sei se já sabeis,
Mas crede que foi verdade,
O senhor Soares dos Reis
Deu-nos esta novidade...
Como ilustração, junta-se cliché da época. Reportando a um
jogo Porto-Aveiro, disputado em Espinho, em cujo decurso, enquanto a bola
anda por longe, Soares dos Reis sempre atento ao desenrolar do desafio, se
abriga no guarda-chuva de Lopes Carneiro, seu colega de equipa, que não alinhou
neste encontro.
= Imagem da contra-capa da revista "Stadium" de 18 de Dezembro de 1935. Na
imagem uma composição de "Hermann", a equipa do Foot-Ball Club do
Porto, que mais uma vez foi Campeão. =
Como importante curiosidade, há a registar que em 1935, logo
em Janeiro, Soares dos Reis se cotou com uma defesa que fez história. Tendo
então sido o primeiro guarda redes português a defender um penalti em jogos
oficiais do calendário desportivo português. Havendo defendido um penalti que foi o primeiro a ser defendido e por
curiosidade precisamente contra um seu anterior clube, Belenenses. Ou seja,
porque é mesmo de vincar, Soares dos Reis foi o autor da primeira defesa da
marca de grande penalidade, em jogo disputado no dia 20 de Janeiro de 1935, no
Belenenses-F. C. do Porto que terminou empatado a uma bola. O penalti foi rematado
por Bernardo (que tinha partilhado consigo o balneário, na temporada em que
Soares dos Reis jogava no Belenenses).
= Separata da "Stadium". “Equipa
do F. C. Porto que arrebatou o primeiro Campeonato das Ligas". Época 1934/35 =
Entretanto em 1937 o FC Porto venceu o Campeonato de
Portugal, com Soares dos Reis a grande altura na baliza. Nessa que foi a
penúltima edição do Campeonato de Portugal (1936-37). Esta competição viria a
ser substituída, na época 1938/1939 pela Taça de Portugal.
= Imagem (revista
"Stadium" de 1 de Abril de 1936) Na imagem: Os atletas
Campeões, homenageados pela Direção do Futebol Clube do Porto na cerimónia da entrega
das medalhas aos vencedores da 1ª Liga de Futebol, no ano de 1936. Soares dos Reis
está na frente, no primeiro plano e do lado esquerdo da fotografia =
Com efeito, na temporada de 1936-37, em simultâneo com o
Campeonato da Liga, decorreu o Campeonato de Portugal em moldes habituais de
bota-fora, com final em campo neutro.
Sob a orientação técnica do austríaco François Gutka, o FC
Porto dominou os «leões», numa final disputada no Campo do Arnado em Coimbra.
Despique rijo e emotivo com os portistas a vencer por 3-2, com golos de Lopes
Carneiro, Carlos Nunes e Vianinha. Era o 4º título no Campeonato de Portugal.
= Reboredo numa manifestação de júbilo beija a bola no fim
do jogo. O polícia não resistiu à emoção!
Num sistema clássico de dois defesas, três médios e cinco
avançados, o FC Porto fez alinhar nesse jogo, Soares dos Reis; Ernesto e
Vianinha; Pocas, Carlos Pereira e Francisco Ferreira; Lopes Carneiro, António
Santos, Reboredo, Pinga e Carlos Nunes.
= Separata da"História do Futebol Clube do Porto", de Rodrigues Teles.
Equipa do F. C. Porto, que alinhou na final do Campeonato Nacional em Coimbra e
venceu o Sporting C. P. na época 1936/37.
= Revista
"Stadium", de 7 de Julho de 1937, na tiragem seguinte ao dia do jogo,
disputado no dia 4. Equipa do Foot-Ball Club do Porto, Campeão Nacional de
Futebol em Coimbra. Em cima da esquerda para a direita: Anjos, Carlos Pereira,
Francisco Ferreira, Ernesto Santos, Vianinha, Soares dos Reis e o treinador
Goutkas. Agachados: Lopes Carneiro, António Santos, Roboredo, Pinga, e Nunes.=
Após mais algumas temporadas, Soares dos Reis voltou a ser
campeão pelo FC Porto e logo de duas vezes seguidas. Tendo acontecido o
primeiro Bicampeonato portista, em 1938-39 e 1939-40.
Indo por partes, anote-se descrição referente ao primeiro
desses títulos, no caso o de Campeão Nacional da 1.ª divisão de 1938-39.
Conforme o próprio deixou registado em seus apontamentos:
Extintas a Liga e o Campeonato de Portugal, decidiu a Federação organizar
Campeonatos Nacionais da primeira e segunda divisões. Oito clubes pertencentes
a quatro Associações participam no designado Campeonato Nacional da Primeira
Divisão. O apuramento era obtido com base nas classificações dos respetivos
Campeonatos Regionais, convencionando-se, nesse ano de abertura, que Lisboa
teria direito a quatro representantes, o Porto a dois e Coimbra e Setúbal a um
cada. Benfica, Sporting, Belenenses, Casa Pia, Barreirense, Académica de
Coimbra, Académico do Porto e FC Porto partiram para a disputa da prova maior
da época de 1938/1939. Com críticas relacionadas. Tanto que, mais uma vez, se
murmurava nos bastidores o tema da maioria ser engrossada pelo bloco sulista;
na linha da tradição antiga de o sul ser beneficiado, facto que no norte
começou a se motivo de fazer das fraquezas forças, ou seja “ao invés de injetar
fraquezas, contribuía para um agigantamento saudável só à força da mística
catapultado”.
Logo de início, os portistas levaram de vencida o Sporting,
ultrapassado com vitória azul e branca por 2-1, que foi prenúncio de uma
campanha ascendente, de que resultou chegada a bom porto com 23 pontos, dez
vitórias, três empates e apenas um desaire, que havia sido em Lisboa com o
Benfica.
Na segunda volta, “no popular cá-te-espero”, e jogo final, o
FC Porto não podia perder novamente. Então, para tão importante jogo com o
Benfica no campo da Constituição, toda a equipa do Futebol Clube do Porto se concentrou
durante algum tempo em sítio relativamente distante da Invicta. Em ocasiões do
género era costume fazer-se um retiro na Quinta da Vinha, um remanso do antigo presidente,
dirigente outras vezes e sempre colaborador Sebastião Ferreira Mendes, numa das
margens do rio Douro, para os lados de Oliveira do Douro. Mas dessa vez foi a
equipa estagiar para a Vila da Lixa, no interior do distrito, dentro do concelho
de Felgueiras, recaindo escolha na Pensão Silva
= F.C. do Porto em estágio na Lixa, em frente à Pensão
Silva. Soares dos Reis, na ocasião, estava muito bem sentado no parapeito do janelão,
enquanto o treinador Siska saboreava um cigarro e todo o pessoal descansava ao sol da terra da Senhora das Vitórias. Com esse atributo subjacente, a ser paradigmático.
E o certo é que, diante dum emotivo jogo, o encontro
terminou empatado a três golos para cada lado, sagrando-se o FC Porto campeão.
Manteve assim o primeiro lugar, com um ponto de vantagem sobre o Sporting e dois do Benfica (diferenças,
para enquadramento, que correspondiam à melhor prestação pontuada. Sendo nesse
tempo e por muitos anos as vitórias com atribuição de 2 pontos e 1 por empate).
No segundo lugar ficaria o Sporting, com 22 pontos e em terceiro o Benfica, 21
pontos.
Duas horas antes do início do jogo, não cabia mais ninguém
na Constituição. Com o empate a três golos, o FC Porto juntou à vitória no
primeiro Campeonato de Portugal e à vitória no primeiro Campeonato Nacional da
1.ª Liga, a conquista do primeiro Campeonato Nacional da I Divisão. Com números
que não deixavam enganar. Conforme registou nos seus apontamentos: Ataque
produtivo (57 golos marcados - média ligeiramente superior a quatro golos por
jogo), goleadas a denunciarem desníveis acentuados entre planteis (12-1 ao
Académico e 10-0 ao Casa Pia) eis os aspetos mais notórios dessa época, da
máquina imparável azul e branca orientada pelo treinador Miguel Siska, antigo
guarda-redes portista. Pertenceu aos azuis e brancos os dois melhores
artilheiros: Costuras (18 golos) e Carlos Nunes (15).
Na época seguinte, que seria a última de Manuel Soares dos Reis I na baliza do FC Porto, repetiu a dose, que daria para sair em beleza. Embora
não fosse tanto assim, em virtude de um desentendimento e consequente castigo
interno, que apressou o abandono da carreira.
Apesar disso, contou que o FC Porto foi campeão. Tendo no
decisivo jogo, disputado no antigo campo das Amoreiras ido vencer a Lisboa o
Benfica, com três golos azuis e brancos, dos quais 2 apontados por Pinga e 1
por kordnya.
Os nomes dos Campeões Nacionais de 1939-40. Soares dos Reis,
Andrasik (seu sucessor), A. Baptista, J. Baptista, Carlos Nunes, C. Pereira,
Castro, Gomes Costa, Guilhar, Kordnya, Lopes, Pacheco, Pereira Silva, Petrak,
Pinga, Pocas, Rosado, Sacadura, Santos, Sarrea, e Zeca. Treinador: Mihaly
Siska.
Contudo, o caso do seu afastamento, com o tempo acabou por ser ultrapassado. Tanto que Soares dos Reis voltou a servir o seu clube de coração, depois nas funções diretivas.
Efetivamente, após deixar o futebol como praticante, Soares dos Reis continuou ligado
ao Futebol Clube do Porto na qualidade de dirigente, integrando os Corpos Gerentes
do FC Porto. Tendo durante alguns anos acompanhado o ciclismo, como
representante do FC Porto, servindo como elo de ligação aos ciclistas do FC
Porto nas Voltas a Portugal e outras provas. Assim como no futebol teve ação de prospeção e
negociação com futuros ases, havendo sido por sua interferência que, graças a
si, alguns nomes mais tarde tornados lendas do clube chegaram às Antas,
nomeadamente Virgílio, Hernâni e Américo, entre outros.
= Como diretor responsável pela equipa de ciclismo do FC Porto, em momento decorrente durante uma dasVoltas a Portugal ganhas por Dias dos Santos.
= Soares dos Reis na função de diretor representante do ciclismo do FC Porto (no caso reportando à sessão em que recebeu o troféu da vitória coletiva do FC Porto na Volta a Portugal de 1950, a segunda ganha por Dias dos Santos.) =
= Soares dos Reis no exercício de diretor do futebol do FC Porto, quer numa deslocação da equipa portista aos Açores, como também à ilha da Madeira =
Entretanto, já em tempo de colaboração ao clube como diretor e mesmo depois, Soares dos Reis voltou a defender a baliza em representação do FC Porto, tendo participado também na equipa das Velhas Guardas por diversas ocasiões.
Muitos anos volvidos,
em entrevista de recordação, corria já 1986, quando contava 76 anos de vida,
contou sobre seu tempo de futebolista: “A maior parte dos jogadores não
aparecia aos treinos. Uns porque trabalhavam, outros porque se alimentavam mal
e não podiam esbanjar as energias que guardavam para os jogos oficiais”. Assim como... “Para mim era
terrível jogar fora de casa. O público estava junto de nós e tratava-nos do
piorio. Tínhamos de jogar em duas frentes, defendendo os remates dos avançados
e os do público. E os destes eram, muitas vezes, bem mais dolorosos”. Mais, confirmando por sua experiência, que... “O lugar de
guarda-redes foi sempre ingrato. Depois dele, só há a baliza, o golo. Uma coisa
posso dizer: não havia «frangos» nem «chapéus». O guarda-redes saía mais da
baliza do que sai hoje. Eu era decidido: ou ia ou não ia”.
Dessa entrevista, publicada no Suplemento do Jornal de Notícias "Que futuro para este presente?", em 19 de Dezembro de 1986 (quatro anos antes de falecer), junta-se digitalização das suas recordações expostas em duas páginas (que aqui, para melhor leitura, se recortam em parcelas):
(De tão interessante testemunho impresso, além de visualização da imagem principal estar ao contrário, conforme se repara pelas letras da camisola, nota-se também que nesse tempo Soares dos Reis planeava publicar suas memórias. O que não chegou a acontecer, apesar de ele ter tudo registado em álbuns com recortes de tudo o que "falava" de sua carreira, em precioso acervo que ficou à posteridade.)
Soares dos Reis nas
sete épocas em que esteve ao serviço do F.C. Porto conquistou 10 Títulos e
disputou 128 jogos oficiais.
= Soares dos Reis e seu suplente Rosado - cromos da página da
"Equipa do Football C. do Pôrto", da coleção de cromos "Futebolistas de
Portugal", 1939 (De onde se retiraram estes dos dois guarda-redes do
FC Porto, nesse tempo).
Palmarés
- 3 Campeonatos
Nacionais da 1ª Divisão (1934-35, 1938-39, 1939-40)
- 1 Campeonato de
Portugal (1936-37)
- 6 Campeonatos do
Porto
- Foi Internacional 4
vezes, tantas as que envergou a camisola da Seleção Nacional em jogos oficiais.
Por fim, há o sempre referencial facto de ter sido
Internacional português.
Facto que merece um à parte – Tendo sido Soares dos Reis guarda-redes
da Seleção Portuguesa de Futebol, e particularmente o primeiro guarda-redes
internacional do Futebol Clube do Porto. Isto é, sabendo-se que já aquando do
primeiro jogo disputado por uma seleção representativa de Portugal houve forte
celeuma por não ter jogado o então guarda-redes do FC Porto, Lino Moreira, em
1921, só em 1934 um guarda-redes do FC Porto jogou na Seleção dita Portuguesa,
e esse foi Soares dos Reis. Verificando-se finalmente, então, que um
guarda-redes do FC Porto conseguiu superar o habitual esquema sulista e
elitista… dos jogadores do Porto para irem à seleção não basta ser tão bons ou
melhores que os outros, dos clubes de Lisboa, pois têm de ser mesmo muitíssimos
superiores. E, por isso, está diante dos olhos a valia de Soares dos Reis
Assim, Soares dos Reis vestiu em quatro jogos a camisola da Seleção
de Portugal.
Isso num tempo de muitíssimo poucos jogos entre seleções.
Para um alcance de enquadramento quanto ao panorama de jogos
internacionais desse tempo, ao nível de seleções representativas de países,
através das equipas selecionadas pelas respetivas federações, basta referir que
poucos se realizaram nas primeiras décadas do século XX, tendo na década
dos anos trinta também pouco melhorado essa tendência. E assim entre 1934 e 1936
apenas se realizaram cinco jogos, tendo Soares dos Reis alinhado em quatro.
A estreia deu-se num célebre Espanha-Portugal em que
Portugal saiu copiosamente derrotado por 9-0, como reflexo da fraca organização
do futebol português, evidenciando-se grande diferença para o futebol espanhol.
Ora, nesse tal jogo, dos 9-0 do Espanha-Portugal de 1934, em
que a Seleção jogava pela primeira vez uma qualificação para o Campeonato do
Mundo, a estreia de Soares dos Reis como guarda-redes da Seleção portuguesa
ficou marcada por três golos sofridos e lesão que o impediu de continuar em
campo.
Curiosamente, esse encontro ibérico, realizado em Madrid, no estádio de
Chamartin a 11 de Março de 1934, foi precisamente no dia do seu 24.º aniversário.
Aí o guardião portista sofreu uma lesão durante esse jogo e foi substituído pelo
benfiquista Augusto Amaro que «encaixou» os restantes seis golos.
Nessa mesma partida, também, se estreou como massagista um
outro elemento do FC Porto, Abel Aquino. Esse que era e é uma das grandes
figuras da história do FC Porto, tendo sido jogador de futebol, treinador,
seccionista, dirigente e tudo o que fosse preciso durante a primeira metade do
século XX. Foi ele que formou muitos campeões, como criador das escolas de
jogadores do clube. E então, como mestre dos sete ofícios, em março de 1934
estreou-se pela seleção nacional de futebol como massagista (como se vê na foto, de mala na mão e calças desportivas presas nas meias).
De tal jogo junta-se imagens do início protocolar, mais uma
página respeitante a uma crónica manuscrita (dos apontamentos de Soares dos Reis)
sobre o mesmo encontro; e, por fim, a pose de conjunto da equipa, onde se vê
Abel Aquino à esquerda, em pé, assim como no mesmo plano está Soares dos Reis
em penúltima posição da direita. Sendo que, entre os selecionados desse tempo,
na mesma equipa também estão os portistas Acácio Mesquita e Valdemar Mota, em
pé (na 6ª e 7ª posição, a partir da esquerda), o Nova (na 9ª posição do mesmo
lado, ou seja em 4º a contar do lado direito, perto de Soares dos Reis), Álvaro
Pereira, Avelino Martins (em baixo, 2º e 3º elementos a contar da esquerda) e
Pinga na extrema, do lado direito), em primeiro plano.
Depois na semana seguinte ainda houve novo jogo, já sem interesse para o apuramento, mas mesmo assim num género de
tentativa de desforra, entre as mesmas seleções, então em Lisboa,
e com Amaro na baliza (porque Soares dos Reis estava lesionado), tendo Portugal voltado a perder, embora pela diferença de 1-2 de quase consolação… Após isso, já em 1935,
Portugal, com Soares dos Reis de novo a titular da baliza, conseguiu
empatar, tendo-se verificado o resultado de 3-3.
Jogo do qual se ilustra a história com pose da equipa
portuguesa, incluindo os guarda-redes titular e suplente (que voltou a entrar
no decorrer do jogo, por outra lesão de Soares dos Reis, fruto dos ossos do ofício...). Em modo de recordação ficou à posteridade fixada foto dos
representantes da Seleção de Portugal de futebol que, no Lumiar, em Lisboa, no
dia 5 de Maio de 1935, souberam corresponder às esperanças do país desportivo,
impondo ao seu mais tradicional competidor, a Espanha, esse famoso empate.
= x =
A Soares dos Reis I sucedeu Andrasik e a este, depois, seguiu-se
Soares dos Reis II, que adiante segue também nesta evocação.
= Manuel Soares dos Reis de visita à terra natal e em convívio familiar, com os pais e irmãos num evento penafidelense, de afluência das gentes do concelho. Ali, na ocasião, comendo o tradicional farnel na festa de Bustelo (Senhora da Saúde), como era antigamente de uso e costume anual nas segundas-feiras a seguir à Páscoa". =
Alguém, jovem pelos anos sessentas, que conheceu pessoalmente Soares dos Reis e como tal mirava o antigo ídolo com olhos de admiração (o amigo e grande portista Fernando Machado, que foi
atleta de pugilismo e de bilhar do FC Porto), descreve o antigo guarda-redes do
FC Porto pela retina apreciativa da recordação, em curiosa descrição:
«O Sr. Soares dos Reis era uma figura imponente. Impecavelmente
vestido de fato e gravata, cabelo com brilhantina penteado para trás, com uns
largos quilinhos a mais e com um tremendo distintivo a ouro e brilhantes do
F C PORTO na lapela. Era mesmo uma figura imponente e com um sorriso largo.
Camisa branca e botões de punho. Como tinha uma largura de peito considerável,
o colarinho era largo e as gravatas de malha que invariavelmente usava,
distinguiam-no de qualquer um.»
Manuel Soares dos Reis, o antigo guarda-redes internacional
e dirigente do FC Porto, falecido em 1990, a 15 de abril, jaz honrosamente no portuense cemitério de Agramonte, sepultado no
Mausoléu do FC Porto onde “Repousam Glórias do Futebol Clube do Porto». Lado a lado com
outros ilustres portistas como o mítico Artur de Sousa “Pinga”, o senhor Lopinhos,
célebre massagista Joaquim Lopes, mais o grande craque Pavão, o Mestre Pedroto, o notável atleta
Acácio Mesquita, o também notável futebolista Avelino Martins, o carismático dirigente João Augusto Silva, o atleta mais eclético do clube João Lopes Martins.
Com uma vida intensa e memorável, sendo um dos ícones
portistas e daqueles que, como cantou em verso o épico Camões, da lei da morte se libertaram... Soares dos Reis, grande entre os melhores guarda-redes portugueses, continua
presente na memória portista, enquanto houver portistas que conheçam a história
do FC Porto e portugueses apreciadores do futebol nacional.
*
Como figura pública e referência do desporto, Soares dos Reis consta da Enciclioédia do Desporto, numa edição Quidnovi de 2003 (editora que fez então parceria com o JN, para distribuição com o Jornal de Notícias). Em cujo volume 12 está a respetiva entrada sobre o guarda-redes portista Soares dos Reis (com uma incorreção que anotamos em indicação manuscrita), conforme transpomos para aqui.
~~~~ ***** ~~~~
Soares dos Reis II
Soares dos Reis II (Segundo), também conhecido por José Soares dos Reis, irmão do
internacional Manuel Soares dos Reis, esteve no F.C. Porto duas
épocas, entre 1942 e 1944, tendo por 16 vezes defendido as balizas do clube
dragão.
De nome completo José Augusto Soares dos Reis, era mais novo seis anos que o irmão, tendo nascido a 5 de Março de 1916 e falecido em 28 de Abril de 1996.
Natural também da cidade de
Penafiel, onde a família Reis era tradicional, através da dedicação livreira provinda
do avô para o pai dos irmãos Soares dos Reis. Sendo que era de herança familiar
uma antiga livraria, que dera conhecida fama de apreço como Reis Livreiro ao avoengo
antepassado.
= No União Desportivo Penafidelense, o guarda-redes "Zéca" Soares dos Reis, com o irmão
António a seu lado esquerdo) – de três irmãos futebolistas, o que não era guarda-redes, mas viria a ter um filho guarda-redes, também.
Começou José Soares dos Reis por jogar no União Desportivo Penafidelense,
onde jogava com outro seu irmão, até ter ingressado depois no F C do Porto. Aí,
passando a enfileirar no clube da Constituição (como genericamente era referido
o campo de jogo nesse tempo do FC Porto), para não haver confusões
identificativas com o anterior guarda-redes seu irmão, passou ele, como mais novo,
a ter nome de artista desportivo como Soares dos Reis II.
Foi então para o lugar que anteriormente fora do irmão, sem
contudo ter sido diretamente a passagem de um Soares dos Reis para outro, na
defesa da baliza do FC Porto. O mais velho dos Soares dos Reis, o grande
guarda-redes campeão nacional pelo FC Porto, que representou durante sete
épocas, a partir de 1932 e foi internacional pela seleção portuguesa entre 1934
a 1936, quase a meio de sua carreira de guardião ao serviço do FC Porto, deixara
de ser guarda-redes titular do clube no decurso da época de 1939/40, derivado a
castigo interno, devido a problemas acontecidos num treino entre Soares dos
Reis com o colega de muitos anos Carlos Nunes. Tendo a meio dessa época o
guarda-redes sido substituído pelo húngaro Bela Andrasik, que acabou a época a
defender a baliza portista (e como tal ambos contribuíram para a conquista do Campeonato
Nacional de 1939/1940, ficando no rol dos campeões).
= Soares dos Reis II em equipa do seu tempo de guarda-redes do FC Porto.
Ora no final da mesma temporada, por não concordar com o
castigo aplicado, Manuel Soares dos Reis deixou de ser jogador do F. C. do
Porto. Embora tempos depois o caso tenha sido entendido e sanado, acabando Soares
dos Reis mais tarde por fazer parte da equipa diretiva do clube, assim como
Carlos Nunes também. Mas entretanto, Bela Andrasik, que estava a confirmar sua
fama de estrangeiro valoroso, desapareceu sem deixar rasto. Tendo
posteriormente constado «que mantinha ligações antinazis e que se viu obrigado a
deixar Portugal antes que as forças comandadas por Salazar lhe deitassem a mão.»
Ficando o clube sem esse guarda-redes, subiu de posto Soares
dos Reis II que, assim, durante algum tempo foi o guarda-redes principal do
clube, alternando com Valongo na defesa da baliza portista, até ter chegado ao
Porto o então jovem Frederico Barrigana, vindo do Sporting (onde só não era
titular por lá estar o guarda-redes Azevedo, que nesse tempo costumava ser o
guarda-redes da seleção nacional).
= Soares dos Reis II a titular da equipa principal do FC
Porto =
(Equipa do FC Porto da época de 1943/1944, com Soares dos Reis
II a guarda-redes nº 1 da equipa principal do FCP. Pose histórica da jornada de consagração do título
de Vencedores do Campeonato Regional do Porto. Jogo no Campo da Constituição, à
10ª e última jornada, a 21/11/1943. FC Porto, 2 - Boavista, 1; através, pela
parte portista, de 2 golos de Artur Sousa “Pinga”. Em cima da esquerda para a
direita - Soares dos Reis II, Pocas, Maiato, Guilhermino
Sárrea, Camilo e Alfredo Pais; em baixo pela mesma ordem - Faria, Gomes da
Costa, Correia Dias, Pinga e Araújo. Era então treinador Lippo
Herzcka.)
Foi assim curta a passagem de Soares dos Reis II pela equipa
principal do FC Porto, tendo-lhe sucedido Barrigana, depois famoso com o
cognome de “mãos de ferro” (como lhe chamou um jornalista francês após um jogo
da seleção nacional), com aura que pelo tempo adiante deu razão a essa
substituição, tal o que representou para o FC Porto.
Mas Soares dos Reis II, de permeio, fez história e ficou na
memória portista, como comprova o facto de ter feito parte do lote dos
jogadores incluídos na equipa do FC Porto inserta na caderneta de
cromos da coleção de caramelos de 1943/44.
De sua titularidade no FC Porto também se juntam imagens com
o mesmo Soares dos Reis II em ação, à frente da baliza do FC Porto.
Quando ainda era guarda-redes do FC Porto, nasceu em 1943 seu sobrinho, mais tarde conhecido por Neca Reis, que igualmente foi guarda-redes e em seu tempo de futebolista também conhecido por Soares dos Reis, seguindo as pisadas dos tios, quer deste mais novo, como do tio mais velho e padrinho, antecedente. O qual, Soares dos Reis III na linha de sucessão, depois também alinhou no FC Porto, tendo sido elemento da equipa junior e de seguida ainda fez parte do plantel senior como guardião da equipa de Reservas (como ao tempo se chamava às equipas B) e esteve entre os suplentes da equipa senior do FC Porto, até por fim ter feito carreira em diversos clubes, facto que levou a que se tenha fixado na vila das Aves, entre diversas particularidades.
~~~~ ***** ~~~~
Neca Soares dos Reis
Com grande salto cronológico, à maneira de guarda-redes a voar para alcançar a bola, decorrido o tempo dos anos quarentas aos sessentas, dentro do século XX, foi a vez de passar a defender as balizas novo Manuel Soares dos Reis, sobrinho e afilhado do primeiro, bem como também sobrinho de Soares dos Reis II.
Neca Reis, de nome Manuel Soares dos Reis, nasceu em Penafiel a 1 de Dezembro de 1943, dia da Restauração da Independência Portuguesa. Quase em prenúncio de linhagem, de quão assim como os conjurados de 1640 defenderam a nacionalidade da Pátria, tirando do trono de Portugal os reis espanhóis, também ele defenderia, como defendeu, a hereditariedade da linha familiar de guarda às balizas do desporto rei.
Assim, dos três irmãos Soares dos Reis, todos apaixonados
por futebol, só um não havia sido guarda-redes, mas foi desse que nasceu o descendente
continuador da dinastia familiar. Sendo Neca Reis, o Soares dos Reis da
geração seguinte, filho de António Soares dos Reis.
Com raízes familiares profundas, tendo dois tios que foram
guarda-redes inicialmente na terra natal, Penafiel, e depois ganharam nome no panorama
futebolístico do país ao terem integrado a equipa do FC Porto, assim como o pai
também jogou num antigo clube de Penafiel, mas como jogador de campo, o
descendente Manuel Soares dos Reis acabou por também ter enveredado pelo futebol.
Embora dividindo atenções e paixões por duas modalidades desportivas, o futebol
e o ciclismo.
= Neca Reis em dia de Circuito de Paços Ferreira. Fotografado
junto de um outro tio (de outro ramo familiar, Jaime da Costa), mais de
seu amigo Carlos Pinheiro (por esses tempos ciclista do FC Porto e que o
influenciou para o ciclismo), junto com seu pai António Soares dos Reis.
Efetivamente, Soares dos Reis, a nível desportivo tinha e
tem dois amores, o futebol e o ciclismo. O futebol, na posição de guarda-redes,
porque se sobrepôs a atração derivada da influência familiar, pois que seus tios,
também como ele Soares dos Reis, defenderam as cores do F.C. do Porto e o mais
velho também foi internacional pela Seleção Nacional. Enquanto, quanto ao ciclismo, por na evolução dos anos de
juventude ter começado a despontar atenção pelas corridas de bicicletas, na convivência
com um amigo e vizinho penafidelense, que entretanto chegou a ser ciclista do
FC Porto, Carlos Pinheiro.
= Vitória no circuito de Lousada !
Segundo o próprio, já Neca Reis aos 15 anos tinha uma sua
bicicleta de corrida e percorria boas distâncias pelas estradas e caminhos da
região, ganhando resistência para o seu gosto. Tendo de seguida começado a entrar
em corridas organizadas nos concelhos vizinhos, quando havia nesse tempo
circuitos dentro dos programas das festas regionais mais importantes.
Acontecendo assim seu primeiro triunfo em cima da bicicleta de corrida em
Lousada, na festa “grandiosa” do Senhor dos Aflitos.
Porém, nessa altura o futebol prevaleceu no horizonte do
jovem desportista e o desporto dos pedais ficou em banho maria, à espera de vez.
Tendo aí esse mais novo de todos os Soares de Reis entrado a defender as
balizas do clube da terra, jogando em 1959/1960 no FC Penafiel. De tal modo
despertando atenções que seguidamente rumou ao F C Porto, assentando o nome entre
os guarda-redes dos juniores do clube azul e branco que em 1960/1961 eram
treinados por José Pedroto.
Esteve então este novo Soares dos Reis como integrante da
equipa de juniores do FC Porto em tempo de boa formação, saindo dessa fase bons
valores, ao ter alinhado na equipa junto, entre diversos outros, com o louro
Rolando, por exemplo, mais o já possante Valdemar, o alto Almeida, e ainda Vieira
Nunes, Acácio (que mais tarde integraram a equipa principal dos seniores), etc.
Esteve contudo pouco tempo nesse escalão logo sendo promovido
a sénior, tendo ainda na época de 1961/62 já feito parte da equipa de Reservas
do FC Porto, integrado em grupo mesclado de jogadores em fim de carreira com
novos valores em ascensão, como se pode ver na imagem junta. Estando lado a
lado com antigos ases, tais eram Monteiro da Costa, Carlos Duarte, Perdigão,
Noé e António Teixeira, mais jogadores ainda esperanças e que também fizeram
carreira noutros clubes, como Coimbra e Morais (depois idos para o Braga) e
ainda outros mais tarde integrantes do plantel principal, como Alípio
Vasconcelos e Joaquim Jorge.
Na altura, estando a precisar de rodar para ganhar
experiência, Soares dos Reis foi prometido ao Académico de Viseu. Contudo, num
volte face que foi importante em sua vida, acabou por ir para outro lado. Então o presidente do FC Porto, nesse tempo Nascimento Cordeiro, empresário do
ramo da eletricidade e com contactos com industriais do vale do Ave e
particularmente na vila das Aves, avisou Soares dos Reis que ia ser emprestado
ao Desportivo das Aves. Como foi. Tendo ido para lá sem conhecer nada nem ninguém desses lados, inclusive até desconhecendo onde ficava. Mas depressa se afeiçoando à terra e gente de lá. Com tal sucesso que em 1962/63 foi o
guarda-redes titular da subida de divisão, tendo então contribuído bem para que o Aves tenha sido Campeão da
2ª Divisão Regional. E, de permeio, conheceu a mulher da sua vida, com quem casou depois e é feliz.
Entretanto, sempre em ascensão e não tendo faltado pretendentes à
sua contribuição futebolística, foi defendendo outras cores, havendo assim passado pelo
Chaves, pelo Salgueiros e pelo Riopele. Sendo do tempo em que jogou na equipa salgueirista o cromo (da gravura ao lado), que era de colar na caderneta de coleção, saída dos rebuçados de lata, em voga nesse tempo. Até que recebeu convite de ir para
França, como representante português duma instituição bancária que se instalou
em terra gaulesa, como funcionário superior do Banco Português do Atlântico
Paris.
Aí, a par da sua vida profissional, também praticou futebol,
até que resolveu dedicar-se mais ao ciclismo. Assim sendo, quando deixou a
prática do futebol logo regressou ao primeiro desporto que havia praticado, o
Ciclismo. Onde chegou a Amador Sénior de Primeira, lá em França. Havendo
representado o St. Etienne-les-Remiremont, na cidade geminada com a Vila das
Aves, no Thiot, nos Vogues e mais tarde em Pau, no sul de França. Fez parte da
Union Cycliste em St. Etienne-les-Remiremont, e formou a secção de ciclismo na
Associação Portuguesa em Thiot, ao tempo representante em França da comunidade
portuguesa, incluindo participação em diversas provas grandes e circuitos. Por
tal facto, perante a sua atividade e credenciais, recebeu um Diploma de Honra
da Federação Francesa da Ciclismo.
Durante sua permanência em França teve oportunidade de colaborar
com instituições portuguesas, em ajuda patriota, com realce para o apoio que
prestou a uma delegação do FC Porto em digressão efetuada em 1991. Tal havendo
sucedido na deslocação da equipa portista de juniores, aquando da participação no
Primeiro Torneio de Pau, com brilhante vitória portuguesa dos jovens da camisola azul e branca. Algo deveras apreciado no seio
do clube dragão, tanto que foi assinalado em reportagem que teve lugar na
revista Dragões de Maio desse ano de 1991 – conforme se anota, através da
página a descrever toda essa passagem da representação do FC Porto por
França, com respetiva imagem ilustrativa (estando Soares dos Reis em pé, em
terceiro a contar da direita), mais recorte de ampliação à devida referência ao
facto.
Regressado a Portugal, pôde passar a dedicar-se a outros
ofícios de lazer, ficando a fazer parte dum agrupamento chamado Grupo Ases do
Pedal de S. Miguel Arcanjo da Vila das Aves, através de cujas pedaladas foi
mantendo a forma e inserindo-se no meio do desporto das bicicletas da região
nortenha, pelo menos.
= Soares dos Reis com os netos (quando eram pequenos), todos portistas - em dia de os levar a “ver o Porto jogar”.
Nessa envolvência, mais tarde aceitou convite amigo e passou
a integrar o staff da equipa do Boavista Ciclismo Clube, que acompanha na Volta
a Portugal e noutras competições que a mesma disputa, em funções de apoio.
Enquanto isso e durante suas andanças a pedalar, Soares dos Reis
foi colecionando muito material da modalidade, de modo que tem um autêntico muséu de ciclismo em casa. Sendo detentor de um espólio que
se espalha por muitas bicicletas de corrida, camisolas, bidões, bonés e até
sacos de abastecimento, mais imensos livros de história ciclista e revistas
respeitantes ao ciclismo competitivo, miniaturas dedicadas ao Tour de France, inúmeras
fotografias, postais, medalhas, troféus, agrupando valioso e interessante
acervo demostrativo duma grande dedicação e entusiasmante paixão por tudo que
reporte ao ciclismo. De tão eloquente modo que é normalmente considerado o
maior colecionador português de material de ciclismo, pelo menos, conforme tem aparecido por vezes em
diversas publicações.
Mais recentemente tem dividido o tempo com outras ocupações
de distração, como membro do Grupo Coral Arva de Vila das Aves, do qual faz
parte desde 2007 e atualmente é solista principal com seu bandolim elétrico. Enquanto
sempre que possível assiste aos jogos do Aves, como adepto, e outras vezes vai
ao estádio do Dragão ver o nosso FC Porto.
ARMANDO PINTO
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