À chegada de mais um Porto-Benfica, bailam nos pensamentos
as mais diversas memórias de anteriores confrontos, na confiança de repetição
de alegrias anteriores. Sendo então comum formular-se a questão de qual foi o primeiro
“Clássico” de cada um e cada qual. Ora, no caso pessoal, o meu primeiro
clássico de jogos entre o FC Porto e o Benfica recua a março de 1965, quando o
FC Porto derrotou o Benfica de Eusébio e C.ª por 1-0, nas Antas, com um golo de
Naftal!
Nessa era, a meio da década dos anos sessenta, a distância
de um concelho do interior do Distrito do Porto até à cidade Invicta era então mesmo
algo longínqua, perante as estradas nacionais desse tempo e meios de transporte
mais usuais, havendo ainda poucos automóveis e normalmente em mãos de famílias
de melhores posses, etc. e tal… Restando ao povo comum as viagens em transportes
públicos, ao tempo nas chamadas camionetas de carreira, e mesmo assim sabe Deus…
Querendo com isto dizer que a uma criança numa terra um pouco distante do
Porto, já a seguir atentamente tudo do FC Porto e especialmente o futebol (pois
o ciclismo ainda ia vendo de vez em quando a passar perto ou mesmo à beira), restava
seguir os jogos à distância, a ouvir os relatos pelo rádio. Mas de quando em vez
o pessoal adulto resolvia ir mesmo aos jogos, fretando para o efeito uma
camioneta, em modo de viagem conjunta para ficar mais barato a todos e todos
terem transporte, indo então em excursão quantos pudessem pagar para ir. Sendo
que então eu também fui, junto com meus irmãos mais velhos. Estava eu com 10
anos de idade, em idade escolar, precisamente no último ano do ensino primário,
ou seja andava na 4.ª Classe, para daí a meses ir a exame final desse grau de
ensino. E então, naquele domingo meio cinzento de março, assim no ambiente mas bem risonho dentro de mim, lá fomos de excursão
para ver o Porto! Com a cabeça a imaginar tudo o que esperava, ia eu de olhos a
ver tudo mas sempre com o sentido no Porto, embora com alguma tristeza por
saber que não ia ver o Américo, o meu grande ídolo nesse tempo de infância,
porque não poderia vê-lo a defender por ele estar aleijado, como dizíamos, visto
ter-se lesionado precisamente no jogo da 1ª volta em casa do Benfica, quando os
gajos daquele clube de camisolas de cor parola o aleijaram, de forma a poderem
então ganhar à vontade… Depois, o que interessou foi ver o Porto ganhar, embora
tivesse tido a surpresa de não ver entrar em campo o Pinto, outro meu ídolo, o “Cabecinha
de Diamante” Custódio Pinto, que não jogou (falando-se que foi por estar na
tropa...). Contudo, com os que jogaram, o Porto acabou por ganhar bem, como
foi, naquela tarde chuvosa de domingo, pelo que fui podendo ver a espreitar entre guarda-chuvas abertos durante bátegas caídas, e mais à vontade sempre que havia alvazelhas e podia ver as lindas camisolas azuis e brancas, com aquelas duas listas azuis que me encantavam, a andar pelo terreno de jogo.
O Benfica ia de ter perdido em Espanha com o Real Madrid, ainda
que tendo passado a eliminatória dessa fase da Taça dos Campeões, mas derrotado
afinal no jogo antecedente da viagem às Antas. E isso contava na cabeça de muitos,
como era tema das conversas. Enquanto o FC Porto no jogo anterior tinha ido
vencer a Lisboa, derrotando no Restelo o Belenenses, estando assim a equipa
animada e já acostumada a Rui na baliza, sendo à sua frente o setor defensivo usual
com Festa, Almeida, Paula, Atraca e Rolando. Ao passo que lá para a frente
pontificaram Carlos Manuel e Carlos Batista no miolo do campo. E, de permeio ficavam para sempre na retina as arrancadas de Jaime de um lado, e as fintas do Nóbrega
do outro, em habilidade a ficarem com a bola para os tipos do outro lado nem
verem o padeiro… Bem como, para dar que fazer ao guarda-redes adversário, estava Naftal
como artilheiro, ele que marcara o golo no Restelo e também nesse Porto-Benfica
foi quem atirou para o fundo das redes, como vi e mal vi saltei de contente…
De tudo isso depois registei em casa, no meu arquivo que já ia fazendo (em páginas de caderno escolar furadas para meter na pasta), uma resenha do encontro... em letra infantil, naturalmente, e em narrativa com olhos de pequeno mas apaixonado adepto. Mais ilustrações de imagens recortadas de jornais. Como se pode recordar, na recordação guardada.
Com memórias dessas e destas aos molhos, o melhor é recordar
o jogo deitando olhos ao que à época foi publicado no jornal O Porto:
Armando Pinto
((( Clicar sobre as imagens )))
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