O ciclismo é uma modalidade atrativa, diante da imagem ligada do homem à máquina, perante o esforço humano em cima da bicicleta. Pese ocorrências que desvirtuam o desporto, em que tal modalidade tem sido fértil, infelizmente, nos anos mais ou menos recentes. Enquanto, no caso que nos toca, apesar de ser uma secção extinta (por ora, em 2013 ainda) dentro do ecletismo portista, foi uma das principais modalidades no que concerne a prestígio, na vida do F. C. Porto, sendo por via do desporto dos pedais que muitos adeptos se foram afeiçoando à coletividade da Constituição e das Antas.
Efetivamente, em tempos de menor rendimento do futebol azul e branco, quando a equipa de futebol não conseguia títulos de relevo, era o ciclismo que dava honra e glória ao grande clube portuense. Faz parte das memórias portistas do autor destas notas o entusiasmo que o ciclismo gerava, sabendo que chegado o Verão o F. C. Porto era rei e senhor pelas estradas além, com a passagem dos corredores às terras de quase todos os portugueses e até à porta de cada um, nas andanças das corridas clássicas, mais dos grandes prémios, e por fim da Volta a Portugal, quando todas as atenções se colocavam nos nomes dos grandes ases dos pedais. Sendo que o F. C. Porto detinha grande poderio na caravana ciclista, suplantando por norma os grandes rivais, vingando então erros grosseiros de arbitragens nos campos da bola e manobras diretivas do futebol.
Eis, pois, um dos motivos porque continuamos a pugnar pela preservação histórica do historial ciclista das camisolas listadas de azul e branco, do que foi o ciclismo no F. C. Porto. Que, pese embora ter deixado de existir no nosso F. C. Porto nos tempos ainda recentes, não se pode nem deve esquecer o passado, nem muito menos haver vergonha da história comum, no sentido de não se querer avivar feridas pelo correspondente desaparecimento. Não sendo muito de entender como nos livros sobre o F. C. Porto só aparece o futebol, de fio a pavio, e o próprio museu do clube, nas versões antes existentes, apresentava uma grande maioria de percentagem em objetos e espaços dedicados ao futebol, com lacunas evidentes quanto à devida dimensão das modalidades. Desejando-se, por isso, que o futuro espaço museológico do Dragão venha a contemplar tudo e todos os que, por seus feitos valorosos, mais da lei da morte se libertaram. Mesmo sabendo-se, e todos nós sentindo, que o futebol é a mola real da vida clubista, não se deve olvidar tudo o mais, antes será de glorificar e perpetuar o que contribuiu para o engrandecimento do clube, valorizando tudo o que tem e teve valor.
Nesse âmbito, tal como já recordamos alguns dos nomes salientes da modalidade dentro do F. C. Porto, evocamos agora mais um dos ídolos do passado, trazendo à lembrança um ciclista de tempos recuados, daqueles que ajudaram a cimentar o carisma que a modalidade ganhou no seio da coletividade alvi-anil – o Onofre Tavares. Um “sprinter” de renome e especialista de provas de pista, mas também estratega de equipa; daqueles ciclistas que permaneceram nas memórias dos adeptos, apesar de não ter vencido nenhuma Volta a Portugal, a prova que mais imortalizava os grandes estradistas. Em sinal, isso mesmo, do carisma do próprio ciclista, como nome dos mais aplaudidos pelo país fora.
Soubemos, há tempos, que neste ano corrente de 2013, o Museu do Ciclismo, sediado nas Caldas da Rainha, homenageará alguns antigos ciclistas portugueses, entre cujas grandes glórias do passado, que aí irão ter essa honra, estarão Onofre Tavares e Joaquim Leite, dois antigos desportistas das corridas de bicicletas que andaram nas estradas e pistas com a camisola do F. C. Porto. Por acaso dois corredores que tiveram seus maiores êxitos ao serviço do F. C. Porto, mas também passaram pelo Benfica. O mais novo, Joaquim Leite, depois de ter andado nos seus melhores tempos pela equipa das Antas, inclusive com vitórias em provas importantes do calendário nacional da modalidade e ter chegado a ser portador da camisola amarela na Volta a Portugal, enquanto correu pelo F. C. Porto, acabou depois por se transferir para a equipa ciclista lisboeta por sua livre vontade. Ao passo que o mais velho, Onofre Tavares, esse teve um período em que, após a sua formação e de seguida dois anos já como senior a representar o F. C. Porto, teve de interromper essa ligação noutras duas épocas seguintes em que vestiu a camisola do Benfica, mas apenas enquanto cumpriu o serviço militar, por ter estado na tropa em Lisboa; para depois logo ter regressado ao seu clube, onde acabou a carreira passado alguns anos. Havendo grande diferença de tempo entre eles, pois Onofre Tavares se distinguiu sobre o selim pelos anos de quarenta e cinquenta, ao passo que o outro mais jovem evoluiu já nos inícios da década de setenta, do século XX naturalmente.
= Foto de um painel constante num dos museus dedicados à modalidade, no caso o Museu do Ciclismo, nas Caldas da Rainha.=
Então, damos de novo espaço ao ciclismo, aqui também, mau grado certo desencanto com as mais recentes notícias e consequências derivadas, depois que se soube que o ciclista americano Lance Armstrong vencera várias Voltas a França recorrendo a drogas, tal qual o espanhol Contador mais recentemente, assim como também em tempos se soube que algo do género ocorreu com Joaquim Agostinho, apanhado nas malhas do controle anti doping por duas vezes na Volta a Portugal, e sabe-se lá mais o que eles e outros terão feito… Ouvindo-se que em tempos de outrora também se falavam numas denominadas bombas, mas sem nada se saber ao certo. Com o que paira certa noção de que muitos grandes ciclistas teriam sido ídolos de pés de barro, tal a constatação que a modalidade era propícia ao uso de estimulantes, vulgo doping. Mas nem todos podem pagar pelo mesmo e nos tempos mais antigos os estimulantes na certa que seriam mais à base de umas boas pingas, não tanto dos bidões de água que levavam no quadro da bicicleta ou da que lhes lançavam das bermas das estradas para refrescar, mas de tintol, mais nas zonas do maduro carrascão, para quem estava habituado ao vinho verde…
= excerto duma crónica na revista Stadium, edição de 10 de Julho de 1946.=
Recuemos então a esses tempos de antanho, quando havia pureza nas corridas de bicicletas, como em muitas outras coisas. E passamos a lembrar um dos grandes ídolos dessas eras remotas, Onofre Tavares, como era e é conhecido, esse sorridente ciclista que a meio do século XX era famoso e deveras vitorioso .
De nome completo Onofre Alexandre Tavares Marta, nasceu em 29 de Agosto de 1927, segundo os dados conhecidos, na freguesia de Gulpilhares, concelho de Vila Nova de Gaia. Representou o F. C. Porto e o S. L. Benfica (durante o serviço militar) e manteve-se em atividade de 1943 a 1957. “Sprinter” notável, ganhou muitas corridas e circuitos. Foi Campeão Regional de Fundo por 3 vezes e de Velocidade por 6, e ainda Campeão Nacional de Fundo em 1953 e Campeão Nacional de Velocidade por 4 vezes. Mas ganhou sobretudo nome de cartaz em ter sobressaído nas vezes que correu a Volta a Portugal, prova-rainha do calendário português em que Onofre Tavares participou em oito edições, tendo sido portador da Camisola Amarela e vencedor de 10 etapas. Internacionalmente correu a Prova “9 de Julho” no Brasil e o Madrid-Porto em 1950, clássica esta onde venceu uma etapa.
O então jovem Onofre começou a revelar-se muito novo a guiar bicicletas de corrida. Como aliás refere uma coluna que lhe foi dedicada no livro da Fotobiografia do F. C. Porto (por Rui Guedes), com foto e legenda que mais tarde teve também lugar num volume da coleção “Dragão Ano 111 (escrita por Alfredo Barbosa e editada pelo Comércio do Porto) – conforme se vê na foto seguinte.
Aliás ele foi quase um dos pioneiros, pois foi pouco antes que começou o ciclismo no clube, já que logo nos inícios dos anos 30 apareceram as primeiras formações azuis e brancas, nas quais havia duas categorias, Fracos e Fortes, á imagem da época. Sendo que dos chamados Fortes do Porto faziam parte uns Nunes de Abreu, Adalberto Soares, Elias Cruz e José Rainho, e sabendo-se que na Volta de 1934 o F C P participou com duas equipas, nas tais diferenciadas classes. Enquanto já em 1936 havia camadas jovens de ciclismo na agremiação da Constituição, segundo se constata por registo de vitórias do então juvenil Onofre Tavares, ao que vem na Tábua Biográfica da “Fotobiografia do F C Porto” (ed. 1987, de Rui Guedes).
Desse tempo fica-se ainda a saber mais através de uma reportagem da revista "Ciclismo a Fundo", na qual foi publicado um pequeno artigo sobre Onofre Tavares no seu número 20 de "Abril/Maio de 2012". Aí, na rubrica “O que é feito de si”, o antigo campeão Onofre Tavares teve direito a estar sob os “holofotes da fama” ao recordar as mais gloriosas e pitorescas histórias de uma vida quase inteiramente dedicada ao seu desporto de eleição, o ciclismo. Com o próprio a descrever as origens da sua carreira de ciclista, por suas próprias palavras: "Ninguém na minha família tinha ligações ao ciclismo, mas quando eu tinha uns seis ou sete anos os meus pais ofereceram-me uma bicicleta e a paixão foi imediata. Como o meu pai tinha uma sapataria comecei a utilizá-la como meio de transporte para levar o calçado aos fregueses dele." E foi aos 14 anos que participou na sua primeira prova de ciclismo: "Um dia fui levar o calçado a um barbeiro que era um cliente antigo do meu pai e ele, sem eu saber de nada, inscreveu-me numa corrida de ciclismo, a Coimbrões-Grijó-Coimbrões. Sem preparação, e sem sequer saber ao que ia, consegui finalizar com o grupo da frente."
Já mais crescidote, fazendo parte da equipa portista, contribuiu para as vitórias do F. C. Porto no Campeonato Regional de Amadores Seniores, individualmente e por equipas, e no Campeonato Regional de Independentes, em 1940/41.Época em que também, entre outros factos, contribuiu no jogo de equipa para a vitória de Aniceto Bruno nas provas oficiais Porto-Guimarães-Porto, Porto-Fafe-Porto e Circuito do Estoril. Seguindo-se no ano imediato novas vitórias nos mesmos campeonatos regionais. Por essa época, estava o ciclismo ainda a passar por uma fase indefinida, como se nota em ter havido, em Maio de 1942, um festival desportivo a reverter para a secção de ciclismo do FCP, no campo da Constituição, com a participação de outras secções do clube, através de jogos de andebol e futebol; sendo que em andebol de onze foi entre antiga equipa de 1935 e a então atual, de 1942 (verificando-se uma vitória dos mais antigos por 3-2), bem como em futebol ocorreu um encontro entre velhas guardas da equipa de 1932 e a do ano vigente, de 42 (com os mais novos a terem suplantado os mais idosos por um engraçado resultado de 7-5). Curiosamente, havia então provas de pista, em que o F. C. Porto contava com o especialista Onofre Tavares, como foi o caso duma prova chamada “Uma Hora Americana”, na qual a equipa do F. C. P. triunfou. Entre esses exemplos e mais vitórias coletivas, note-se ainda que em 1943 Onofre se sagrou Campeão de Velocidade do Norte, título que repetiu em 1944 e por aí adiante.
Havia sucessivamente passado, entretanto, pelas diversas categorias existentes, então, alcançando em 1945 os títulos de Campeão de Velocidade e de Fundo do Norte – num tempo de que é coeva a imagem (imediata), retirada da revista Stadium de 1 de Agosto de 1945, respeitante a uma vitória verificada no mês de Julho desse mesmo ano, conforme a sua legenda: «Onofre Tavares, do F C Porto, vencedor do “critério” para Amadores».
Chegado depois à categoria superior, esse já então conhecido sprinter vence idênticos campeonatos a nível nacional, sagrando-se em 1946 Campeão Nacional, até que começa a participar na Volta portuguesa. Então logo venceu a sua primeira etapa da Volta a Portugal em 1946, por curiosidade também a primeira etapa da Volta desse ano, entre a Cova da Piedade e Setúbal, na distância de 52 km, e assim foi o primeiro dono da Camisola Amarela dessa Volta de 46. Na qual, dias depois, voltou a repetir a façanha ao vencer a 9ª etapa, chegando em primeiro à meta instalada em Castelo Branco. Enquanto, no decurso da prova, se revelou um dos principais animadores da corrida, alcançando por fim o 3º lugar final no pódio.
Dessa sua brilhante estreia na maior prova velocipédica portuguesa constam umas sugestivas e sintomáticas gravuras de banda desenhada incluídas no álbum “ OS HERÓIS DA ESTRADA” (edição Jornal de Notícias e O Jogo), cujas pranchas demonstram, a preceito, o bom desempenho obtido.
Continuaria no ano seguinte a envergar a camisola azul e branca do seu F. C. Porto, mantendo o ritmo vitorioso, até que em 1947, devido ao serviço militar, fixado que estava em Lisboa, lá abalou para as bandas do Benfica. Como ainda se pode constatar por uma coluna que foi publicada na Stadium de 29 de Janeiro de 1947.
Intrometida que foi essa passagem pelo clube lisboeta, com cuja camisola encarnada andou em 1948 e 49 (sem grande saliência, acrescente-se, diante da falta de posição em lugares de relevo), regressou novamente à Invicta e ao F. C. Porto em 1950, para logo ter sido Campeão Nacional de Velocidade. Tendo permanecido de azul e branco os restantes anos de seu percurso, numa carreira que se prolongou a correr de bicicleta até 1957.
Durante esse período acrescentou ao seu historial muitas vitórias, sobremaneira totalizando na Volta a Portugal significativa conta de triunfos em 10 etapas, e haver envergado a Amarela 2 vezes.
= Equipa do F C Porto que conquistou a Volta em 1950.=
Pormenorizando um pouco, como merece o seu desempenho: em 1951 Onofre Tavares foi primeiro na 2ª etapa da Volta a Portugal, em percurso terminado em Vila do Conde, bem como venceu a 5ª etapa, finda em Évora, a 11ª etapa, em Aveiro e a 14ª etapa, em apoteótica chegada ao Porto. Depois, em 1952 venceu o Circuito da Malveira, mantendo de seguida a pedalada até à 15ª e penúltima etapa da Volta, de Braga a Vila do Conde, em cujo itinerário Onofre Tavares ajudou à vitória coletiva – pois, antes da etapa de consagração que ditou o companheiro de equipa Fernando Moreira de Sá como vencedor da Volta, houve lugar a essa etapa no sistema de contra-relógio por equipas. Tendo, nesse dia, a equipa do F. C. Porto arrancado uma boa corrida, com o conjunto formado por Fernando Moreira de Sá, Onofre Tavares, Amândio Cardoso, Luciano Sá, Joaquim Sousa Santos e Emídio Pinto a conseguirem então aumentar (para seis minutos) o avanço sobre a equipa adversária mais próxima, assegurando mais uma vitória coletiva na classificação geral respetiva, e deixando a equipa do Sangalhos no segundo posto à distância de meia dúzia de minutos.
= A equipa do F.C. do Porto, que venceu a Volta de 1952: Joaquim Sousa Santos sénior, Amândio Gomes Cardoso, Luciano Moreira de Sá, Fernando Moreira de Sá, Emídio Trindade Pinto e Onofre Tavares.=
Continuando a enumerar suas vitórias mais significativas, em 1953 Onofre foi 1º no Campeonato Nacional de Estrada, sagrando-se assim Campeão Nacional de estrada na categoria de Elite. Após isso, em 1956, logo na 1ª etapa da Volta desse ano, ajudou à vitória da equipa do F. C. Porto na corrida de pista por equipas, no Estádio do Lima (alcançando um dos três primeiros lugares, que contavam para a classificação coletiva, junto com os colegas Artur Coelho Guimarães e José Carlos Carvalho Pereira - sendo aí Artur Coelho o primeiro e como tal quem envergou a camisola amarela), continuando depois Onofre Tavares como vencedor da 10ª etapa da Volta a Portugal, em Vila do Conde, e obtendo iguais vitórias na 9ª etapa, sobre a meta instalada em Vila Real, mais a última etapa, chegada ao Porto. Ao passo que em 1957 conseguiu vencer a 7ª etapa da Volta a Portugal, em Beja, e a 14ª, por fim, no Porto.
= Foto da festa de despedida de Aniceto Bruno, em 1951, no decurso de um festival de homenagem, na pista do estádio do Lima.=
Em pleno Verão de 1957, decidido que seria o seu último ano de corridas, Onofre Tavares teve uma Festa de Homenagem, no Lima, a 27 de Julho desse mesmo ano. Antes do início da que seria a sua 8ª e última presença na Grandíssima Portuguesa.
Manteve depois Onofre Tavares, entretanto, sua ligação ao F. C. Porto ao longo dos anos, colaborante que foi sendo sempre que solicitado. Contudo, não só ao clube azul e branco mas também ao ciclismo nacional. Depois de se retirar da prática ciclista, por diversas vezes foi treinador, tendo estado à frente da equipa do Académico do Porto no início da década de sessenta (foi treinador em 1961, por exemplo, de Alberto Carvalho, Manuel Castro, Joaquim Costa e demais, pouco antes da extinção da modalidade no popular Académico); e sobretudo teve relevo na orientação de equipas do ciclismo portista, quer como diretor desportivo adjunto, ao lado de Franklim Cardoso e Emídio Pinto, quer como técnico principal; tendo sido sob seu comando que o F. C. Porto venceu a Volta a Portugal de 1964, a nível individual (através da vitória de Joaquim Leão), como coletivamente (na classificação por equipas).
A este grande nome do ciclismo portista e nacional, a esse bom adepto Portista que é ainda admirado entre Portistas mais ciosos do Portismo que nos corre nas veias, fazemos esta homenagem, trazendo sua grandeza desportiva à tona das memórias alvi-aniladas. Não chegamos a acompanhar sua carreira ciclista, mas somos ainda do tempo em que ele orientou a equipa principal de ciclismo do F. C. Porto. E como vibramos - tínhamos à volta de dez primaveras de vida - quando vivemos à distância a vitória na Volta ganha com Joaquim Leão vestido de amarelo e em equipas pela formação do F. C. Porto. Não mais esquecendo aquela volta de honra final, em plena pista de Alvalade, num orgulho de então sentirmos Lisboa a ter de presenciar tal honra de exibição gloriosa de toda a equipa do F. C. Porto, ali patente e completa (por terem acabado todos os que haviam começado essa Volta a Portugal com a camisola azul e branca); indo, em roda lenta todos os componentes da equipa perfilados, em formatura sobre as bicicletas e apoiando-se com as mãos nos ombros uns dos outros, logo a seguir ao vitorioso Joaquim Leão, esse com a coroa de louros, a tiracolo; e, à frente, também de bicicleta, seguindo adiante e levantando ao alto um vistoso ramo de flores, lá ia Onofre Tavares, “à paisana”, numa verdadeira apoteose, qual justa consagração voltista de toda a equipa e do treinador.
= Volta a Portugal de 1964 - Equipa do F. C. Porto que ganhou coletivamente e colocou três homens nos seis primeiros lugares da tabela classificativa: (a partir da esquerda) Joaquim Freitas, Sousa Cardoso, Carlos Carvalho, Mário Silva, José Pinto, Onofre Tavares (orientador técnico), Joaquim Leão, Ernesto Coelho e Mário Sá. Ali estava o triunfador individual desse ano, mais outros três anteriores vencedores da Volta. =
Deixou assim esse senhor seu nome associado ao ciclismo do F. C. Porto, surgido neste clube inicialmente ainda na década de trinta e regressado nos primeiros anos quarentas, até ter sido finalmente suspenso em 1984. Estando Onofre entre seus maiores valores, integrando uma galeria de ilustres campeões, dos que ao longo dos muitos anos de atividade o F.C. Porto formou e possuiu, como foi Fernando Moreira, o primeiro ciclista dos azuis e brancos a vencer a Volta a Portugal em Bicicleta, no ano de 1948, mais Dias dos Santos, que bisou, tal como Aniceto Bruno, Moreira de Sá, Amândio Cardoso, Carlos Carvalho, Artur Coelho, Sousa Cardoso, Mário Silva, Joaquim Leão, Sousa Santos, etc. etc. Até que, ainda hoje, embora o Sporting e o Benfica tenham abandonado mais tarde (inclusive com o Benfica a ter tido uma ainda recente reaparição episódica), o F.C. Porto detém o maior número de Voltas ganhas, quer a nível individual como coletivamente.
E Onofre é sócio do F.C. Porto, clube do seu coração, sendo associado detentor dum número baixo pela sua antiguidade de inscrição, como tal. Nessa categoria, há já alguns anos, recebeu a roseta que distingue os associados pela sua longevidade associativa, em cerimónia ocorrida em 1996, aquando do 103º aniversário do F. C .Porto. Desse ato é a fotografia anexa, em que se vê o Presidente da Assembleia Geral do FCP, Dr. Sardoeira Pinto (e na presença do Presidente do Conselho Cultural, sr. Álvaro Pinto), a honrar Onofre Tavares com tal honorífico emblema que lhe ficou a assentar na lapela.
***
Diante de tal memorização, trazendo à superfície da memória portista essas épocas de grandiosidade do F. C. Porto por via do ciclismo, deixamos escapar em suspiro: - Como não pôr no ciclismo Portista de tempos áureos tanto apego e significado?!
Obviamente que o ciclismo tem decaído, perdendo quase todo o encanto para nós, também, desde que o F. C. Porto deixou de ter ciclistas. E mais, a partir que os grandes clubes portugueses abandonaram a sua prática, a modalidade começou a definhar em Portugal, chegando depois dúvidas e constatações do doping a desferir uma machadada profunda. Mas o ciclismo, apesar disso e demais ocorrências, não pode pagar as favas de tudo. E nem só o ciclismo tem retaguarda infeliz e fora das realidades. Tal como escreveu Sofia de Mello, e bem se sabe, «as pessoas sensíveis não são capazes de matar galinhas, porém são capazes de comer galinhas…»
Armando Pinto
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Um trabalho de se lhe tirar o chapeu. Gosto destas crónicas que dizem tudo e nos fazem lembrar de tudo. Estou admirado mas é por haver poucas pessoas a falarem disto, não sei o nº de pessoas que passam no post mas por comentários fico na duvida se as pessoas nunca ouviram falar no Onofre, porque de outros como Mário Silva e mais houve muitos comentários. O onofre Tavares marece que se lembrem dele e aqui fez-lhe justiça.
ResponderEliminarAmigo Armando, será que me pode elucidar como é possível uma bicicleta de ciclismo de estrada sem travões. Elas existiam de facto ou foi usada para tirar a foto no estúdio?
ResponderEliminarRecentemente o nosso presidente falou em activar a equipa de ciclismo no nosso clube para a temporada 2014. Acho que o amigo Armando poderá ter uma pequena responsabilidade em tal decisão graças ao elaborado museu que vai mantendo aqui no blog. Por favor continue.
Saudações Portistas.
Essa dos travões está boa... mas também não sei, pois não era ainda desse tempo - apenas e tão só sou um admirador do ciclismo como modalidade que dava vitórias ao F C Porto nos tempos em que comecei a ser Portista, por volta dos inícios dos anos 60's...
ResponderEliminarAmigo "Danny Boy": Agradeço sua apreciação a este labor em prol da memorização do que nos faz sentir sempre Portistas. Seria bom se realmente o nosso clube regressasse à modalidade, mas para já pelo menos que o ciclismo venha a ter justificado lugar no futuro próximo museu do F C Porto.
Dou meus parabéns ao autor deste blog por ser tão entusiasta do ciclismo e do F C Porto, por estar tão bem documentado e partilhar tudo. Tem um espólio de se lhe tirar o chapéu, vendo-se frequentemente noutros sitios da internet cópias das suas fotos e documentos. Vejo num comentário anterior um dito sobre os travões e posso adiantar que antigamente tempos houve em que os ciclistas para travarem tinham de fazer andar os pedais ao contrário para trás, para reduzirem e travarem
ResponderEliminarAmigo do Museu de Ciclismo
ResponderEliminarO Museu de Ciclismo informa que se encontra encerrado ao público para remodelação de exposições.
Convidamos, desde já, todos os nossos estimados visitantes a virem assistir à inauguração da exposição "Mosaicos de Memórias na Volta a Portugal do Futuro" no próximo dia 7 de Setembro pelas 11 horas, durante a qual irão decorrer as cerimónias de Homenagem a ex-Ciclistas, Cicloturistas e Amigos do Museu. Entre o painel de Homenageados encontram-se Abílio Gil Moreira, António Maria, Joaquim Leite, José Maria Nicolau, Leonel Miranda, Manuel Fernandes e Onofre Tavares. Contaremos ainda com a ilustre presença de Aristides Martins.
Junte-se a nós...
Em resposta a uma pergunta formulada sobre a existência de bicicletas sem travões, elas eram usadas nas provas de pista, de que Onofre Tavares era um especialista. O meu tio Eduardo Lopes, bem como João Lourenço, os grandes nomes do ciclismo de pista dos anos 40, também as usavam.
ResponderEliminarParabéns pelo blogue.
Os meus cumprimentos,
Eduardo Lopes